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sábado, 27 de abril de 2013

A excepcional produtividade



Um assalariado, com experiência agrícola, possuía um modesto terreno. Algumas dezenas de metros localizados numa área privilegiada e nobre. Este, junto a moradia e o pomar, instituiu o milagre em forma de produção!
O fulano, no restrito espaço, produziu ímpares quantidades de frutas, mel e verduras. O arvoredo, além de refúgio da inclemência solar e área de refrescar a mente, ganhou a companhia de dezenas de colmeias de jataís (“os tradicionais alemãozinhos”).
As abelhas, além da ímpar ornamentação e polinização, produziram especial cera e mel. Uma singela placa, no val de entrada, anuncia: vende-se mel! O comércio, sem maiores encargos, ocorreu junto ao local da produção!
O segredo, na consorciação, consistiu em produzir muito em pouco! As geniais ideias colocadas a serviço do bem estar do bolso e da saúde! Os seres humanos diferenciam-se pelos dons e espertezas externadas nos ambientes e vivências.
A criatividade e inovação mostra-se continuamente digna da admiração e elogios. Extrair ouro, em modestos palmos secos de terra, revela-se obra de sábios. Capricho, dedicação e inteligência fazem diferença em qualquer ambiente e trabalho.

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://azlziraelsner.blogspot.com.br 

O pobre e o rico


Sentado na sua banqueta ficava todo o dia um sapateiro a trabalhar e a cantar. Defronte dele morava um opulento e rico banqueiro, que em nada achava divertimento. Insípido aborrecimento por toda parte o acompanhava.
- Que perseguição a em que vivo! - Exclamava entre bocejos. - Dinheiro tenho de sobra, o gasto a rodo, frequento todas as festas e diversões, e os dias pesam-me! Ainda mais me pesam as noites! Como conseguirei matar estas inoportunas horas que me matam! Quão feliz é o meu vizinho sapateiro! Desde que rompe o dia até que anoitece, ei-lo a rir, a cantar e assobiar. À noite o maior sossego reina em sua casa, às vezes até mesmo o ouço roncar! Quero saber que receita usa.
Mandou chamar o sapateiro:
- Caro mestre sapateiro! Vejo sempre o senhor alegre e bem disposto. Ora diga-me, como faz para assim conservar-se: quanto ganha por ano?
E o sapateiro respondeu:
- Por ano! Meu senhor, não zombe da gente; pois nós lá sabemos quanto ganhamos. Vamos remando e vivendo cada dia com o lucro da véspera, e contanto que haja saúde, e não falte o que fazer, não falte pão; o que mais podemos querer?
- Se com tão pouco está feliz, quero vê-lo felicíssimo. Pegue aqui este saco de ouro, agora é seu! - Disse o ricaço dando-lhe um saco repleto de ouro como presente.
O sapateiro desfez-se em agradecimentos. Levou para casa o ouro, contou, repartiu pelos anos que esperava viver; era de sobra. Procurou um esconderijo em que o guardasse, e de contínuo inquieto ia vê-lo. Não o achava bem guardado; mudava-o de esconderijo. A tudo temia; tudo aparentava ser ladrão. Ao cabo de um mês, já amarelo, magro, triste, teve uma boa lembrança. Agarra no saco de ouro e vai à casa do vizinho.
- Tome lá, meu senhor, o seu saco de ouro! – Exclama. - Quero ver se recobro o meu sono e as minhas cantigas.

Moral da história:
O acúmulo de riquezas traz acúmulos de dores de cabeça.

                    Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                  Crédito da imagem: http://ieshekinah.spaceblog.com.br

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os escamoteados encontros


Um morador, da cidade para o campo, transferiu uma certa gata. A chácara mantinha sérios problemas de invasão de ratos. Algum felino mantinha-se sábia solução!
Os roedores, dos brejos e matos, invadiam as instalações e moradia. O veneno, em meio a esperteza do bicharedo, não dava conta de exterminar os muitos visitantes. Estes, diante do perecimento dos semelhantes, tratavam de ignorar e rejeitar as iscas.
O criador, numa solução definitiva, pensou no inimigo natural! A gata, isolada num ambiente estranho, deveria levar uma vida deveras solitária e triste. O animal, não tendo a companhia de qualquer semelhante (da espécie), certamente ficaria adoentado de tédio.
O homem, como ser comunitário/social, colocou-se na posição felina. Este imaginou-se neste ambiente e contexto isolado e perdido numa tapera! A vida, como supremo dom, vivida na solidão dos dias! Ninguém para amar, brigar, conversar, implicar...
O chacareiro cedo admirou-se da sua doce ilusão! Uma porção de gatos, “saídos do deus sabe onde”, afluíram comumente ao espaço. Os felinos, diante do desconhecimento do tratador, comunicavam-se plenamente nas caladas dos dias e noites. O relacionamento, inclusive íntimo, mantinha-se uma situação corriqueira e diária.
O senhor redescobriu a velha lógica. Os membros, de quaisquer espécies, encontram formas e maneiras de criar e manter vínculos. Os seres ajustam os instintos aos ambientes próprios da vivência! A vida não revela-se fácil para ninguém!
Cada qual acha o que interessa e necessita! A distância careceu de ser obstáculo aos negócios e relacionamentos. A vida tem sentido na proporção da convivência com os próximos e semelhantes!

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.tocadacotia.com

Os dois galos


    Pelo domínio de um terreiro, povoado de galinhas, brigavam dois arrogantes galos. Um venceu; o vencido foi esconder-se envergonhado, e para mais dobradas mágoas ouvia de contínuo o estridente cantar do seu triunfante inimigo. Passa um gavião; o vencedor estava no mais alto do poleiro; o gavião lança-lhe as unhas. Aparece então o vencido, vem consolar as viúvas, suas consolações são aceitas e o ex-vencedor está esquecido.


Moral da história:
São coisas da sorte e da fortuna; desconfiemos sempre dela, especialmente depois das vitórias, no seio da prosperidade.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://pastorelireis.blogspot.com.br

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A incoerência financeira


As pessoas falam certas coisas inacreditáveis! Muitos, no desconhecimento ou na ingenuidade, ainda acreditam nas ladainhas! Exemplo: “O dinheiro ser coisa do diabo!”
Os indivíduos, de forma adoidada e apressada, correm atrás do numerário. Aquele fedorento e mero papel-moeda, como sangue do capitalismo ou socialismo, movimenta todo tipo de engrenagem e labuta. O camelô percorre ruas e avenidas para vender. O morador da rua pede centavos para o prato do dia.  O papeleiro puxa carinhos carregados como algum irracional. O religioso prega a palavra dita santa. Profissionais liberais enfurnam-se em cubículos para vender conhecimentos...
Os humanos, em todos os instantes e momentos, falam em dinheiro. O mercadinho fornece pão no propósito do lucro. O posto de combustível, sem cartão de crédito ou grana, não tem choradeira. O trabalhador em geral, sem salário, nem comparecer ao local da jornada. A comunidade religiosa, sem a taxa anual, carece de enterrar quaisquer entes. A municipalidade, sem os impostos, fraqueja na coleta do lixo...
Uma realidade, no cotidiano da existência, impressiona na alegria e satisfação. Algumas notas, dadas na mão de quaisquer viventes, cedo externa um sorriso nos lábios do fulano, beltrano e sicrano. O comportamento e a fisionomia assumem ares de alegria e felicidade!
O dinheiro, por não existir de forma bruta na natureza, os governos tiveram a necessidade de criá-lo. O cidadão, tendo numerário, “parece ser o cara” (podendo ser um tremendo chato e imbecil). A carência, em meio a melhor conversa ou choradeira, cerra amizades e portas. A moeda, nas suas benesses ou mazelas, move o espírito humano e os sistemas econômicos (ainda mais “a quem senta nalgum galho seco para sobreviver!”).
As sociedades humanas com suas muitas diferenças e incoerências! Os discursos e as teorias são uma realidade e a prática e o trabalho outra. As pessoas, na sua totalidade, ostentam a idêntica chaga: apreciar e gostar demais do dinheiro.

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://reavivamentoereforma.com

O veado e a vinha



Fugindo de uns caçadores, um veado escondeu-se em uma vinha (plantação de uvas). Estava enfim salvo do perigo porque os caçadores, depois de muito o haverem procurado, já iam se retirando. Vai o infeliz veado e põe-se a comer as folhas da vinha que o escondera; a vinha toda estremeceu; os caçadores voltaram-se e o descobrem.

Moral da história:

A ingratidão, mais cedo ou mais tarde, acaba sendo castigada.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                    Crédito da imagem: http://esdrascabral.blogspot.com.br

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O desabafo maternal



Uma senhora, nascida e criada nas colônias, pode criar uma dezena e meia de filhos. Uma jornada, de cada ano e meio (na idade fértil), encontrava-se em estado de gestação. Ela, a vida inteira, dedicou à família, filhos e sobrevivência.
Esta, nos dias finais da velhice, procurou fazer uma rápida resenha da difícil e onerosa existência. A anciã, numa síntese, expressou: “- A gente atendia o tempo inteiro casa, filhos e plantações! Achegava-se, à noite, encontrava-se exausto e morto de cansado! O marido, para completar, exigia ainda o atendimento das intimidades! Uma vida sem muitas alegrias e satisfações! Coloca vida judiada nisso!”
As décadas transcorreram e adveio a velhice. O marido tomou a dianteira do derradeiro descanso. O falecimento, precoce duma filha, somou-se como desgraça e tragédia! Esta, em meio ao choro, disse: “- A gente até suporta o falecimento do companheiro! Algum filho, vendo descer a sepultura, não dá para aguentar e suportar! A dor corta e esfacela o coração!”
Ela, nuns meses sucessivos, tomou o rumo do cemitério. Queria partir ao encontro dos ancestrais e parceiro. Esta, frágil em vida, implorou ao Criador para não ver mais outros infortúnios (com mais filhos, netos e bisnetos). A fraqueza e a idade não comportaram tamanhas dores e sofrimentos!”
O indivíduo nunca sabe dos desígnios e flagelos no compasso de espera. Inúmeras famílias, com a loucura da criminalidade, drogas e trânsito, enterram seus próprios frutos. A longa vida expõem-nos aos muitos e variados acontecimentos e padecimentos!
                                                                                          
Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio