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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A ONIPOTENTE PERSISTÊNCIA 

"Nada no mundo substitui a persistência. O talento não a substitui: nada é mais comum que homens fracassados com talento. Genialidade não a substitui: gênios não recompensados são quase um provérbio. Educação não a substitui: o mundo está cheio de mendigos cultos. Persistência e determinação são onipotentes. O slogan "vamos em frente" tem resolvido e sempre resolverá os problemas da raça humana."

Calvin Coolidge, presidente dos Estados Unidos da América de 1923 a 1929

O AVANÇO DOS BANDOLEIROS

            A Linha Boa Vista Fundos (Teutônia/RS), integrante no começo da colonização das Picadas Boa Vista e Catarina, mantinha os moradores absorvidos na rotina do trabalho colonial, quando as necessidades de sobrevivência exigiam dedicação e trabalho integral. O advento da primavera é a época de colocar a semente na terra; exigia empenho com os afazeres da terra. No dia 10 de setembro de 1894, após o meio dia, sucedeu-se “uma cortina de homens e cavalos”, que advinham pela estrada geral. Estes visualizados, a partir das encostas dos morros, descreviam uma cena inimaginável na pacata localidade. Os lenços vermelhos, em época de Revolução Federalista (1892-1895), denunciavam suas intenções e princípios ideológicos.
            Uma coluna, chefiada pelo líder local José Altenhofen, com algumas dezenas de combatentes, veio incursionar pela majestosa picada. Uma guabiroba, no lote número 35 de Jacob Dockhorn, serviu de abrigo, enquanto parte da tropa passa a visitar os colonos. Estes, em nome da causa dos maragatos (federalistas liderados por Silveira Martins), requisitaram montarias; levaram aves, gado e porcos como víveres, interessaram-se pelos jovens como prováveis combatentes... Os adversários são os mais visitados, que, de imediato, tomam o rumo dos matos e encostas de morros.
            Algum morador, conchavado com os adversários dos positivistas (“pica-paus” de Júlio de Castilhos), tinha dado informações da fartura alimentar e ódio contra os revolucionários. O temor, duma eventual degola, instalou o pavor generalizados nas famílias, que entregavam posses com “a maior boa vontade”, com razão de safar-se da morte. A inconveniente visita serviu de pretexto para criar piquetes, aos animais, no interior da propriedade e em meio ao mato; manter a vigilância sobre a estrada geral; precaver-se de circular pelas propriedades, assim como, nos dias posteriores, improvisar resistência armada aos forasteiros (como guerrilheiros improvisados). Esta, em 24 de setembro de 1894, sucedeu-se na encosta do Morro da Germana. Os aparentes pacíficos colonos, alheios às intrigas e querelas políticas, mostraram sua coragem e ousadia, quando obrigaram, em um combate acirrado, o retrocesso das tropas invasoras.
            Os rurais externam sua coragem e solidariedade na proporção de verem-se atingidos pela rapinagem. A memória colonial, de geração em geração, parece imortalizar os fatos dessa época crucial, quando a desconfiança e o ódio instalaram-se nas colônias germânicas. Queira Deus! Que outra luta fraticida jamais abate-se sobre as paragens rio-grandenses.

Guido Lang
Edição virtual
Livro “Histórias das Colônias”

AS BENÇÕES DA TERRA

            Um pacato colono, morador de uma encosta de morro semi-abandonada no interior de uma propriedade minifundiária de subsistência, vivia atormentado com o resultado da dedicação e esforço do seu trabalho. Este vivia a labutar em meio ao sereno e sol com razão de extrair dividendos da terra, que, a cada safra, parecia atender menos as suas expectativas e necessidades. Procurou, com parentes e vizinhos, compartilhar o flagelo, quando os conselhos e recomendações eram diversas e variadas.
            Ele, apegado a velhas crenças pagãs, atribuía parte da frustação e insucesso a demônios, que, desde tempos de outrora, pareciam residir no espaço das lavouras, brejos e matos. Os espíritos malignos, uma ideia difundida entre os supersticiosos, queriam manter o lugar próprio como refúgio, no que acabariam interferindo no resultado da produção agrícola.
            O rural, antes de arar e sulcar o solo à nova safra, resolveu precaver-se de quaisquer azares e infortúnios. Ele apelou aos milenares poderes da Igreja Cristã, quando, ao religioso da paróquia, solicitou “a benção da terra”. Requisitou a presença do religioso na sua propriedade, que, pelos constantes pedidos, aceitou o desafio. O visitante, num primeiro momento, apreciou o cenário geográfico, a qualidade do solo, os tipos de ferramentas, a visão panorâmica... Procurou, num segundo instante, dar a “almejada e pedida benção dos campos”.
            O representante divino, no desfecho da visita, recomendou ao humilde produtor: “-Meu estimado e fiel membro! As suas terras requisitam muito mais ‘estercus’ (esterco) e menos ‘Christus’ (Cristo)! Adube bastante o solo, evite a ação das águas e plante culturas permanentes.” Os resultados, em semanas e meses, advieram com a mudança de práticas agrícolas, quando esplendidas colheitas e magníficas frutas viram-se obtidas. Almas ou espíritos indesejados mostraram-se ausentes ou esvaziados.
            Quem aduba a terra, vê adubado o espírito. A mãe natureza abençoa na proporção dos cuidados com o solo e o trabalho dispendido. A vegetação cresce na proporção das condições favoráveis do ambiente. Quem aduba a terra angaria as bênçãos divinas.
           
Guido Lang
Edição virtual
Livro “Histórias das Colônias”