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sábado, 9 de março de 2013

Os temores dos investidores


Os proprietários de terras, durante anos, deixaram crescer a macega e o mato. O eucalipto criou belos e volumosos troncos. A produção de lenha mantinha-se massiva e grandes são as estimativas em metros. Os cortadores precisam cortar, pontar, empilhar, carregar e transportar toda essa matéria-prima. O trabalho, de maneira geral, mantém-se braçal e primitivo. Cada pedaço, até chegar nos fornos de carvão ou nas caldeiras das empresas, perpassa várias mãos. O processo de produção absorve enormes custos e esforços.
Os plantadores, diante da carência da mecanização agrícola (nas encostas e morros), obrigaram-se a investir em silvicultura. As promessas de dinheiro fácil e volumoso eram grandes com a acácia e o eucalipto. Os proprietários, nos anos subsequentes, pensaram ganhar umas boas somas (“deitando na cama e deixando o pau crescer”). As lavouras, junto as culturas de milho, foram enchidas com o encalipto. A planta aproveitou a adubação do cereal (como possibilidade de desenvolvimento). As árvores, num ano, cresciam vários metros de altura (algo digno de excepcional admiração). Um desenvolvimento ímpar comparado aos brejos e matos (nativos). Estes, no máximo, davam algum capim ou macega (no tempo dum ano) na área da antiga lavoura de subsistência familiar.
Os investidores agrícolas, durante uma aproximada década, deixaram a terra imóvel/parada. Os dividendos abstiveram-se de ser angariados A necessidade de tempo, para deixar crescer as espécies (acácia e eucalipto), foi necessária até render madeira. Os encargos, como manutenção e taxas, continuaram recaindo sobre as propriedades. Os donos, como micro-empresários, não puderam descuidar dos direitos. A necessidade foi extrair dividendos doutras atividades (com razão de financiar a cultura de árvores). Algum desbaste e seleção foi próprio no intervalo do tempo. Dez aproximados longos anos, num compasso de espera entre o plantio até o corte/colheita, foram exigidos.
A época dos cortes achegaram-se numa determinada ocasião. Os proprietários não teriam a mão de obra disponível/própria. Estes precisaram apelar aos cortadores de mato (muito escassos). Os leigos, como profissionais, aconchegaram-se com as meras motosserras em punho (acrescido de litros de combustíveis) para tarefa/trabalho. Estes, sem nada arriscarem nos custos/investimentos e esperar em tempos, reivindicam a metade da produção. Os serradores, trabalham de segundas/terças até sextas, no corte. Eles daí “querem ver o dinheiro cair na mão”. Os donos obrigam-se mais uma vez financiarem as empleitadas. Os proprietários recolocam dinheiro limpo no negócio. A madeira cortada, avolumada e empilhada, faz surgir a romaria para arrumar mercado da matéria-prima. Os eventuais compradores, feito as vendas, obrigam-se a atrasos ou calotes nos pagamentos.
O resultado: inúmeros proprietários encontram a terra imobilizada com a história da silvicultura. Outros derrubam o mato e nem querem ouvir falar em replantar. Alguns ganharam dinheiro, porém poderiam ter ganhado bem mais nas culturas anuais. Os investidores, na compreensão de muitos assalariados/diaristas, são encarados cedo como aproveitadores e exploradores. Os donos, no ínterim dos cortes, rezam aos céus para pedir proteção contra eventuais imprevistos ou infortúnios. Os atropelos colocam em risco a totalidade dos patrimônios (em função de indenizações previdenciárias e salários no Ministério do Trabalho) por esparsos dividendos. As nuvens negras, sobre eventuais percalços, pairam sobre a cabeça dos investidores.
Alguns investimentos perpassam a ideia de ser uma espécie de loteria. Os investidores, na proporção de ganhar algum dinheiro, cedo vêem crescer o olho alheio. Quem pouco tem, pouco teme perder em reparos (“onde nada tem, não tem como subtrair dividendos”). O país, nestes termos das cobranças e direitos, vai carecer de empregos e investidores. A legislação criou uma sensação: aquela ideia do sistema favorecer os desprotegidos e desvalidos e punir os ousados e investidores.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://hugomaioconsultoriaambiental.com