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quarta-feira, 18 de março de 2020

COLÔNIA TEUTÔNIA: HISTÓRIA E CRÔNICA (1858-1908)

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Guido Lang

Primórdios 

Os primórdios da Colônia Teutônia inserem-se no contexto da transferência de povos europeus que vieram instalar-se no continente americano. As razões desta transferência foram variadas, podendo resumir-se ao encontro de melhores perspectivas de vida. A história específica de Teutônia está relacionada com a imigração alemã, que iniciou, a partir 1824, com a criação da Colônia Alemã de São Leopoldo. Constituiu-se num projeto do Governo Imperial, com o objetivo de ocupar as regiões fronteiriças (contra as ameaças dos espanhóis ou povos do Prata em ocupar terras sulinas), com atividades econômicas. 
A elevada taxa de natalidade dos colonos gerou excedentes populacionais que, junto com o afluxo de outras levas de imigrantes, levou à ampliação da área inicial da Colônia de São Leopoldo, que cedo atingiu as encostas do Planalto Meridional. Estes excedentes populacionais, a partir de 1853, passaram a migrar e a ocupar áreas do vale do Rio Taquari. Surgiram, em decorrência, os núcleos coloniais de Conventos, Estrela, Maratá, Mariante, Santa Maria da Soledade... Teutônia, no entanto, continuava num semicírculo de terras devolutas, que somente podiam ser atingidas através da principiante vila Taquari. 
As terras teutonienses, antes da fundação em 1858, estiveram ocupadas por índios, que eram da tribo dos guaianazes. Pertenciam à nação tupi-guarani e habitavam preferencialmente as várzeas dos rios. A inexistência de rios de expressão levou os indígenas a utilizarem áreas teutonienses para fazerem incursões de caça. O fato explica a inexistência de sítios e de esporádicos achados arqueológicos: pontas de flechas (nas margens do arroio Boa Vista, que é o maior afluente do Taquari em território teutoniense) e restos de cerâmicas e gargantilhas de vidro (achadas na propriedade de Lothário Lang na linha Boa Vista Fundos/Teutônia/RS), que são prováveis resquícios da passagem de índios missioneiros. Registra-se, por volta de 1870, a presença de escassos bandos de índios botocudos, que eram vistos como ferozes e violentos. Os relatos da tradição oral não registram maiores conflitos com os indígenas. Acharam-se também vestígios de antigas habitações, que provavelmente foram restos de quilombos, pois a escravidão era uma prática comum nas áreas de colonização açoriana de Taquari. 

Constituição da Colônia Teutônia 

A ideia de criar uma colônia particular coube ao comerciante atacadista Carlos Schilling, que, em 1858, adquiriu as terras devolutas para construir a Colônia Teutônia. Deslocou, a partir de 1862, o agrimensor e diretor da colônia Lothar de la Rue para Teutônia, com objetivo de fazer as medições. Foi necessário primeiramente adquirir uma área de acesso às terras, porque precisou-se, para chegar a Teutônia, passar por terras particulares. Em decorrência disto, em 1861, foi comprado um acesso do casal José de Azambuja e Simiana Cândida Villa Nova. 
Entretanto Teutônia, nos primeiros anos, não atingiu os objetivos esperados por Carlos Schilling, que organizou, para fazer frente às despesas do investimento, a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling, Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”. A companhia colonizadora pertencia a altos membros do comércio de Porto Alegre e recebeu a denominação dos seus sócios. Ela, em 26 de novembro de 1861, adquiriu o acesso e deslocou la Rue para efetuar as medições. Este dividiu as quatro e meia léguas quadradas em 600 prazos coloniais, que tiveram uma superfície variável de 30.000 a 200.000 braças quadradas (b2). Comercializou-se as colônias ou prazos coloniais sem as mínimas condições de infraestrutura. A companhia encarregou-se unicamente da divisão da área em lotes e abriu algumas picadas (trilhas - posteriores estradas) para a demarcação dos prazos coloniais. Tratou, em seguida, de iniciar a comercialização das colônias demarcadas, enquanto deixava a tarefa de construir e preservar as picadas, organizar escolas, igrejas e sociedades aos colonos (satisfeitos em terem acesso à propriedade). Inúmeros pioneiros, em decorrência, não tiveram êxito no empreendimento, assim como o núcleo inicial de colonização, localizado entre as picadas Boa Vista e Frank (atual represa dos Wallauer no arroio Boa Vista), fracassou devido à enchente, que levou, em 1861, as principiantes construções. A Companhia assegurou-se, nas diversas picadas (posteriores linhas ou localidades), de alguns prazos que valorizaram com o êxito da colonização; ausentou-se também em eventuais disputas judiciais, despesas de transmissão, escrituras, conflitos de água e terras. Os seus gastos restringiram- se à aquisição do caminho de acesso, demarcação das colônias, elaboração do Mapa da Colônia Teutônia (efetuada pelo agrimensor Fernando Ehlers, em 1886, na escala de 1:40.000). A comercialização da braça quadrada por dez réis levou a empresa a bons lucros, encorajando-a a fazer outro empreendimento imobiliário, semelhante à Colônia Teutônia, em São João do Maratá - Montenegro. 
A denominação de Teutônia seria uma referência às tribos bárbaras dos teutões, que tinham sido moradores das margens do Mar Báltico e de muita influência na formação do povo alemão. Seria, a nível de Rio Grande do Sul, uma referência ao empreendimento de germânicos, que praticamente dominaram na ocupação do território em estudo. Schilling, no entanto, teria inicialmente outras sugestões sobre prováveis denominações do lugar. Estas constaram de: Germânia (uma referência à Germânia - Alemanha), Luterânia (ligado ao empreendimento em oferecer um reduto aos colonos de confissão luterana), Boa Esperança (da possibilidade de concretizar o sonho de proporcionar uma área de terras e de trazer perspectivas de vida aos inúmeros pioneiros), Nova Alemanha (reporta-se às tentativas de unificação, através da liberação do Comércio entre os países de língua alemã promovida pelo Zollverein) e Nova Prússia (aludia-se à poderosa Prússia, que disputava a hegemonia com a Áustria, na Confederação Germânica e em toda a Europa). 

Colonização 

A ocupação enquadrara-se dentro da política nacional de imigração e colonização, dirigida a imigrantes europeus (preferencialmente alemães e italianos). Estes tiveram de povoar zonas distantes e desabitadas, ocupá-las de forma definitiva, desenvolver a atividade agrícola com produtos suplementares às grandes culturas (produtos destinados ao mercado interno), reforçar o sistema do trabalho livre (em substituição ao trabalho escravo, desinteressante ao capitalismo em expansão e aos interesses comerciais ingleses), ajudar a trazer a nova mentalidade do trabalho da terra, contribuir na expansão do mercado interno e na formação de um mercado consumidor, reforçar as fronteiras com uma ocupação permanente e criar uma economia complementar ao setor exportador. O êxito da colonização, na Colônia Teutônia, enquadra-se neste processo. Teutônia acabou ocupada de uma forma permanente e, consequentemente, auxiliou na fabricação de produtos destinados ao mercado interno (cereais, banha, fumo, nata, carne...), desenvolveu a atividade agrícola através da mão-de-obra familiar, reforçou a ideia do trabalho livre (embora tenha-se encontrado casos esporádicos de escravidão negra entre alguns colonos) numa área de largo emprego do trabalho servil (como Taquari) e contribuiu à formação de uma nova mentalidade econômica, na constituição de uma classe média e de um mercado interno. A Província, afinada com os interesses do Estado nacional brasileiro, viu concretizados seus interesses através do aumento da produção de mercadorias suplementares à economia nacional, integração da área de terras devolutas ao sistema produtivo e barateamento do processo de colonização (devido à colonização efetuada por particulares). A Companhia assistiu ao retorno, com lucro, do capital empregado com a venda dos lotes coloniais aos colonos. Os pioneiros viram suas aspirações e sonhos concretizados porque encontraram perspectiva de vida nesta área; inúmeros imigrantes e migrantes (da Colônia Alemã de São Leopoldo) saíram numa situação de miséria da Europa e não tiveram grandes oportunidades de adquirir lotes em São Leopoldo, alcançando vida digna em terras teutonienses. 
O primeiro lote foi comercializado a Christiano Schwingel que, em 5 de janeiro de 1863, adquiriu a colônia número dois da Picada Hermann (atual Linha Germana); esta área possuía mil braças quadradas ao lado esquerdo da dita localidade. O segundo quinhão foi vendido em 23 de novembro de 1863 a Conrado Schwingel, os quais provavelmente, eram irmãos. Este comprou a colônia número um da Picada Hermann com área estimada em cento e oitenta e sete braças quadradas. Os lotes subsequentes foram vendidos a: Armândio Dickel (nº 12 da Picada Glück-auf, atual Canabarro, área de cem mil braças quadradas, em 22 de novembro de 1866), Francisco Antônio Machado (nº 9 da Picada Nove Colônias, atual Linha Travessão, localizada entre Germana, Canabarro e Paverama, área de cem mil braças quadradas, em 7 de fevereiro de 1868), Pedro Michel (nº 1 da Picada Glück-auf, área de cem mil braças quadradas, em 16 de junho de 1869). Outros pioneiros foram compradores de prazos coloniais: viúva Carolina Hauenstein, Jacó Feldens, Adam Lambert, Joseph Hagemann, Johannes Lambert, August Flesch, Carl Dietze, Friedrich Dickel, Johannes Dreyer, Henrich Henchen, Heinrich Dickel, August Böhm, José Anisette, Friedrich Brandt, Jacob Weber, Carl Schneider, Heinrich Müller, Ernst Guntzel, Heinrich Höfler, Wilhelm Landmaier, Friedrich Sommer, Wilhelm Hasenkamp, Friedrich Neuhaus, Wilhelm Decker, Friedrich Knebelkamp, Hermann Pohmann, Heinrich Eggers (da Westfália), Friedrich Roloff, Johann Krüger, Carl Sippel, Hermann Heinemann, Daniel Gref, Franz Götz, Jacob Elicker, Friedrich Feldmann, Abraham Heinrich, Friedrich Blömker, Heinrich Welp, Ernst Borgelt, Hermann Schlieck, Carl Lagemann, Carl Schaeffer, Wilhelm Hunemann, Friedrich e Heinrich Etgeton, Ernst Osterkamp, Friedrich Trennepohl, Hermann Bünecker, Wilhelm Kreimeier, Christ Appel, Rudolph Ehrenbring, Wilhelm Fangmeier, Johann Schröer, Wilhelm Hollmann, Heinrich Frangmeier, Gerhardt Wahlbring, Friedrich Peter, Wilher Schumann, Bertram Driemeier, Heinrich Graf, Hermann Wiedheuper, Heinrich Schröer, Wilhelm Kniebe, Wilhelm Heemann, Ernst Fiegenbaum, Gustav Britzki, August Wessel, Wilhelm Brönstrupp Senior, Ernst Hachmann, Johann Heinrich Behne, Hermann Heinrich Rahmeier, Wilhelm Vocke, Theodor Hauenstein, Heinrich Kerger, Christ Schneider, Carl Fries, Wilhelm Ahlert, Philipp Faller, Georg Schmidt, Wilhelm Schonhorst, Heinrich Messer, Adam Zimmermann, Cidônia Carra, Hermann Hunemeier, Heinrich Hagemann, Friedrich Elicker, Ernst Windmöller, Georg Wallauer, Julius Bauemgarten, Jacob Brust, Ernst Hachmann II, Heinrich Decker, Wilhelm Krützmann, Wilhelm Schlieck, Gustav Weier, Heinrich Sommer, Heinrich Brönstrupp, Friedrich Jasper, Heinrich Osterkamp, Friedrich Osterkamp, Wilhelm Driemeier, Heinrich Lagemann, Hermann Cort, Wilhelm Altmann, Heinrich Thepe, Heinrich Haslage, Franz Staggemeier, Wilhelm Brackmann, Georg Carl Dreher, Heinrich Lautert, Heinrich Lammes, Friedrich Lautert, Carl Etzberger, Conrad Fleck, Wilhelm Rahmeier... que adquiriram terras até o ano de 1870. A companhia continuou comercializando terras até o ano de 1886, quando então esgotaram-se os lotes. A relação comprova-nos a rápida evolução da colônia que, em 1864, já possuía 16 casas, 70 habitantes, 31 prazos coloniais comercializados e uma área cultivada de aproximadamente 220 braças quadradas. Teutônia continuou progredindo, atingindo em 1869 aproximadamente 800 moradores. Estes residiam num raio de duas horas à cavalo. Em 1870 chegaram ao número de 1000 habitantes graças a vinda dos migrantes westfalianos, que vieram sobretudo do círculo de Osnabrück.

*Texto extraído do livro "Colônia Teutônia: História e Crônica (1995)", páginas 04 até 06, de Guido Lang.

* Crédito da imagem: https://www.teutonia.rs.gov.br/

* Editado por Júlio César Lang.