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quinta-feira, 18 de abril de 2013

O estacionamento impróprio



O condutor e funcionário, como de costume, aconchega-se “queimando o horário de chegada ao trabalho”. Este, com sua potente caminhoneta e “certa média de abonado”, procura um estacionamento. O local, na faixa nobre/rotativa, vê-se tomada no horário de pique (dos bancos).
Um único local, nos veículos próprios aos idosos, ostenta-se vago. Ele, como velho conhecido dos fiscais (da Faixa Nobre do Trânsito), arrisca a sorte. Ele estaciona o veículo, apanha os pertences e dirige-se ao local de expediente... Pensa, como de práxis, naquele “dá em nada!” ou “a gente resolve com uma boa conversa!”
Alguns bons minutos transcorrem e toca o celular. O fulano de tal, como aparente fiscal, fala: “- Obrigo-me a multar e sete pontos na carteira de habilitação! O veículo acabará guinchado! Motivo: estacionamento impróprio! Lamento muitíssimo o fato! O chefe obriga-me a cumprir a legislação municipal! O caminhão guincho encontra-se aí!”
O condutor/infrator avermelha e fica sem voz! Este parece ganhar um troço! Inicia a ladainha das mil e uma desculpas e explicações... Colegas do setor, num aparente desmaio, preocupam-se com o estado de saúde!
Este, numa aparência de implorar, externa:
- Calma aí! Já vou correndo aí! Faz atrasar uns segundos o processo.
O telefonista daí conclui:
- Sou o fulano de tal! Não reconheces minha voz! O aviso não passa de um trote! Um remédio para parar de tirar os outros como diversão!
Quaisquer anormalidades, numa aparente discrição, sempre alguém assiste e repara! Quem afronta e apronta cedo conhece a “retribuição das gentilezas!”. A implicância, entre velhos amigos e parceiros, mostra-se passatempo comum em setores do serviço público.

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.diariodoscampos.com.br

As rãs que queriam um rei



Amigas de novidade, quiseram um dia as rãs ter seu rei, e pediram-no a Júpiter. Júpiter, benigno a seus desejos, atirou ao charco em que viviam um pedaço de pau. Com o baque a água estremeceu, e as rãs, cheias de pavor, esconderam-se no fundo mais fundo, no lodo do charco. Para logo porém foram cobrando alento; levada pela curiosidade, uma sobe à tona d’água, levanta a cabeça e põe-se a admirar o seu rei. Imita a outra, e outra, e todas. E tomam ânimo, e aproximam-se nadando; vendo que o rei nem se movia, põem do lado toda a timidez, e começam a saltar sobre a inerte majestade.
Não era isso que queriam as rãs; ei-las de novo ante o trono de Júpiter, queixosas do logro que lhes havia pregado.
- Já que por bom e manso vos não serve o rei que vos dei, fiquem satisfeitas com este então - disse o deus cansado desta tão louca importunação.
E deu-lhes a cobra, a qual de hora em hora abria a goela, e engolia alguma de suas súditas.

Moral da história:
Contentemo-nos com o que temos.

                   Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                    Crédito da imagem: http://vivointensamenteascoisasmaissimples.blogspot.com.br