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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A carta ao supremo chefe


Um camarada, durante as ditaduras militares da América Latina (num país vizinho ao Brasil), mantinha uma querela de terras. Um certo elemento, como militar, invadiu  alguma área escriturada. Ele, com a complacência da Justiça, não queria desocupar o espaço alheio. A disputa, por anos, arrastava-se no Judiciário e nada de despejar o invasor. O registro do imóvel, como comprovação de direitos assegurados, parecia inócuo perante o poder da ordem instituída.
O proprietário, com a escritura em punho, procurou as instâncias maiores da República. Gastou somas expressivas com deslocamentos, impostos e taxas para resolver a disputa. O processo, nesta altura, tornou-se uma questão particular. As partes, de ambos os lados, mediam forças para angariar os direitos. O dono com a escritura em dia; o ocupante como posseiro rural. Uma questão litigiosa e de difícil conclusão.
O dono, como empresário e investidor agrícola, foi convidado para um evento do empresariado rural. O chefe maior da nação, o Presidente da República, far-se-ia presente ao evento. O Estado, com dificuldades de caixa (como sempre), precisava de empreendedores e investidores. Gente para gerar divisas e, consequentes, impostos. Oportunidades novas gerariam empregos e trariam maior fartura material.
O evento, numa determinada data, aconteceu num centro de convenções. Os participantes, inclusive o dono da querela judicial, foram enfileirados para o cumprimento da autoridade suprema. Este, como velho marechal, perpassou a classe. Ele, a cada qual, deu um cordial aperto de mão (como mandava a boa educação e a formalidade do protocolo). Uma ocasião ímpar de conhecer pessoalmente o séquito das autoridades maiores do país.
O marechal, num momento, achegou-se no cidadão. Ele, numa linguagem rápida, perguntou ao chefe: “- Posso entregar-lhe uma carta?” A resposta foi positiva! Ele, numa correspondência bem redigida, explicou o caso do processo indefinido. O ditador, dias depois, perguntou referências sobre a pessoa e do processo aos subalternos. Os oficiais de justiça cedo advieram para trazer o ultimato. A ordem de despejo seria executada caso o camarada, em tal número de horas, não abandonasse a propriedade. O cidadão, como posseiro, foi ao mundo e nada de levar vantagem na improvisação de espertezas. A ordem estabelecida, para manter a confiança nas instituições, precisava ser cumprida.
O empresário, no contexto do espanto dos amigos, falou do interesse de relatar o ocorrido ao chefe maior. Estes duvidaram de forma veemente a possibilidade (em função da “blindagem da autoridade”). Ele, de forma escrita, comunicou/falou o necessário, porém conseguiu o acesso e a atenção do militar presidente. O marechal, na hora da entrega, apanhou, de imediato, a correspondência e guardou-a no bolso interno do paletó.
A astúcia e esperteza, bem empregada e usada, mostra-se uma pérola nas extremas necessidades. Os sábios, de forma engenhosa, sempre encontram uma maneira de resolver seus dilemas. As dificuldades sempre tem uma solução e a inteligência consiste de vislumbrar a maneira mais viável de resolvê-las.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: produto.mercadolivre.com.br

Traje da alma


       O médico conversa descontraído com o enfermeiro e o motorista da ambulância, quando uma senhora elegante e, de forma ríspida, pergunta:
            - Vocês sabem onde está o médico do hospital?
            Com tranquilidade, o médico responde:
            - Boa tarde, senhora! Em que posso ser útil?
            Impaciente, a mulher indaga:
- Será que o senhor é surdo? Não ouviu que estou procurando pelo médico?
            Mantendo-se calmo, contesta ele:
            - Senhora, o médico sou eu. Em que posso ajudá-la?
            - Como?! Senhor?! Como esta roupa?
           - Oh, senhora! Desculpe-me! Pensei que a senhora estivesse procurando um médico e não uma vestimenta...
          - Oh! Desculpe, doutor! Boa tarde! É que... vestido assim, o senhor nem parece um médico...
          - Veja bem como as coisas são – disse o médico – as vestes parecem não dizer muitas coisas mesmo... Quando a vi chegando, tão bem vestida, tão elegante, pensei que a senhora fosse sorrir educadamente para todos e depois daria um simpaticíssimo “boa tarde!” Como se vê, as roupas nem sempre dizem muito...

Autor desconhecido