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terça-feira, 15 de agosto de 2017

A ousada colheita



As abelhas, nos especiais feriados de Páscoa, sentiram-se imunes as agressões e rapinagens humanas. Uns dias certamente sem maiores aflições e tormentas!
Algumas colmeias  compreendendo a religiosidade cristã, pensaram numa folga e trégua. Umas comunidades, naquele diálogo de jogar conversa fora, externaram: “Hoje é Sexta-feira Santa! Ninguém terá a ganância e ousadia em querer surrupiar o mel. Os humanos respeitam este especial feriado religioso!”
A surpresa, na calada do calor da manhã, adveio na invasão dos ambientes. O ataque, em função da folga, sucedeu-se naquela data. Pai e filho, com abundante fumaça e própria indumentária, efetuaram a pilhagem anual das caixas.
Os apicultores, em meio às ferroadas e picadas, extraiam dezenas de quilos de mel. As sobre-caixas viram os favos serem retirados. O trabalho persistente e suado (de semanas e meses dos insetos), como precaução aos rigores do inverno, viu-se surrupiado pelos abusados.
Umas modestas operárias, em meio à chacina e prejuízo, comentaram entre si. O indivíduo nunca pode duvidar da astúcia e malandragem humana. As pessoas, por dinheiro, revelam-se gananciosas e imprevisíveis.
Uns labutam na proporção de muitos outros estarem na folga e repouso. O descanso revelou-se a razão de realizar determinada tarefa. Os indivíduos, pelo numerário, desrespeitam datas e horários nobres e sagrados!
O tempo vê-se disponibilizado pelas possibilidades e não pelas condições próprias às tarefas. Uns, por valerem-se duma aparente cortesia e serventia, pagam ônus deveras oneroso pelos favores. Certas datas não passam de mera criação comercial e consumista.

                                                                                   Guido Lang
                                                   “Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.riosvivos.org.br