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sábado, 24 de novembro de 2012

O livreiro


        
         “Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois é que nela se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao corpo nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome. O batom diz a mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão os ombros, porque o próprio da ignorância é sentir-se feliz em si mesmo, como o porco na sua lama. É pois o livreiro que vende o artigo mais difícil de vender-se. Qualquer outra lhe daria maiores lucros. Ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a essa generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronte. Suprima-se o livreiro e estará morto o livro e com a morte do livro retrocederemos à idade da pedra, 'transfeitos em tabuinhas, comedores de bichos de pau podre'. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde e se perpetua a trêmula chamazinha da cultura”. 

Monteiro Lobato (18/04/1882-04/07/1948)

Crédito da imagem: http://veravilhena.blogspot.com.br/2010/09/livros-velhos.html

Tecklenburgueses vem para Teutônia/RS


      
       Teckelenburgueses vem para Teutônia. Pastor Kleingünther escreve de Porto Alegre no dia 2 de agosto de 1868, para o Pastor Hunsche, Linha Nova, o seguinte: 'Na sexta-feira, há 14 dias, vieram aqui os tão longamente esperados agricultores. São 41 pessoas juntamente com o professor Behne ao lado de sua esposa e seus dois filhos. O quão intensamente eu me alegrara ao poder receber e oferecer a minha mão de irmão a estas pessoas tão queridas, da inesquecível Tecklenburg, certamente nem saberia descrever-lhe aqui. Mas, por outro lado, maior ainda foi a alegria deles ao ver a minha presença. Em meio ao maior júbilo eles me estendiam a mão, e um bom tempo passou até que todos novamente se acalmaram de toda esta euforia. E, o perguntar, os cumprimentos e a admiração não cessaram. Somente com a chegada da noite toda esta confusão teve o seu fim. Na manhã seguinte, pude observar as mesmas cenas do dia anterior, tive que permanecer entre eles o dia todo. Foi, no entanto, na manhã de domingo que tive a grande alegria; pude ver a todos nos bancos da igreja e, à tarde, os homens vieram ter comigo na sala de minha casa. Também realizei o casamento de dois pares de noivos que em Hamburgo não encontraram tempo para isto. Na terça de manhã eles navegaram para Taquari e de lá foram para a colônia particular de Teutônia. Eu não possuo cartas de lá, mas sei que foram felizes em sua chegada e foram bem recebidos. Espero que, apesar das dificuldades e amargores encontrados no início desta jornada, estas queridas pessoas possam ter sido felizes e também espero que possam ter tido um futuro sem problemas'.
Numa outra carta do dia 8 de dezembro de 1868, dizia: 'Nossos agricultores de Teutônia estão bem. Há três semanas eu fui visitá-los. Espero que estas queridas pessoas continuem, no futuro, a gostar da mesma maneira do Brasil, caso contrário, jamais poderei retornar a Tecklenburg, pois os agricultores de lá estão sentidos comigo por lhes ter tirado estas pessoas. Mas, isto não me interessa muito, o que importa mesmo é pensar no bem-estar deles'.
Carta do dia 2 de fevereiro de 1869: 'Dos agricultores de Teutônia eu recebo somente notícias boas. Eles estão se sentindo bem aqui no Brasil. Isto me alegra, uma vez que na Alemanha dizem que eu os forcei a virem para o Brasil. Mas esta não é a verdade. Somente narrei e mostrei-lhes as relações de amizade que existem e deixei-os livres para escolherem. Tenho hoje ainda a surpresa em saber que estes agricultores estão melhor aqui do que em sua velha Pátria. Disso também falam – o Professor Behne assim o diz. Apesar das dificuldades aqui encontradas, estas pessoas reconhecem que suas vidas aqui são mais fáceis. Um deles escreve para a Alemanha: 'Vocês dizem que nós aqui entramos na escravidão, no entanto, eu saí da escravidão ao deixar a Alemanha, pois o Senhor Heuermann é um, verdadeiro escravo. Aqui sou dono de minha vida'. Assim podemos ler em cartas. Tudo isto faz com que o meu relacionamento com os tecklenburger e perante os pastores seja mais ameno'.
Numa carta do mesmo ano, 1869, escreve: 'Após longa mas bem sucedida viagem, vieram 35 tecklenburger ao Brasil. Eu os recebi e, à tarde, convidei-os para virem na minha casa para que pudessem contar as novidades da Pátria. Foi uma conversa muito, muito longa. Os agricultores me deram trabalho, mas também proporcionaram-me grandes alegrias. No domingo, todos vieram à igreja. Tanto a mim como a eles fez bem poder ouvir a Palavra de Deus frente a tantos amigos e conhecidos. Por este motivo fico triste em saber que na Teutônia eles ainda não têm igreja e ainda terão que esperar tanto tempo por seus cultos'.
Na carta do dia 11 de outubro de 1869: 'Ontem, há 8 dias, mais 27 tecklenburger vieram para Teutônia. Mais 97 estão a caminho e serão por nós esperados ainda neste mês. Dessa maneira a Teutônia já está uma verdadeira colônia. Os westfalianos já são elogiados aqui na cidade. Para um tecklenburger como eu, é uma grande satisfação poder ouvir: 'Os seus agricultores são os melhores e mais trabalhadores que aqui já recebermos''.
Dia 9 de dezembro de 1870, ele escreve: 'Estou voltando de uma viagem do Taquari e recebi informações de que os tecklenbuger estão todos bem. Os últimos imigrantes vieram tarde demais, de maneiras que não puderam mais fazer o plantio. Por isso, passaram por grandes dificuldades. O que é irritante é que entre estes últimos imigrantes há que trazem para o professor muitas dificuldades. São preguiçosos e falam mal do Brasil. Umas pessoas assim não progridem, é facilmente entendível'.

 (Extraído da Folha Dominical n° 34 de 25.08.1957)

(Livro/Fonte: Guido Lang. Colônia Teutônia – História e Crônica: 1858-1908, São Leopoldo, Sinodal, págs. 50 e 51).