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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não acredite



"Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o".

Buda (563 a.C - 483 a. C.)

Crédito da imagem: http://porquenaocreio.blogspot.com.br/2011/07/descricoes-de-buda-e-jesus-cristo.html

O tesouro dos Mucker


     Uma história oral, narrada de boca em boca entre membros das famílias tradicionais da região, moradores circunvizinhos ao local do Episódio do Ferrabraz (1874), relaciona-se ao tesouro dos Mucker. Aventureiros esporádicos ambicionaram deparar-se com as malfadadas riquezas. Estas teriam sido escondidas ou enterradas pelos seguidores da Jacobina Mentz e João Jorge Maurer. O conjunto de jóias e moedas (de ouro e prata do II Império) encontraria-se nalgum esconderijo das encostas dos morros (circunvizinhas do Ferrabraz). As encostas/elevações, entre os atuais municípios de Dois Irmãos, Campo Bom e Sapiranga/RS, manteriam o resguardo dos materiais... Um amontoado de relíquias ímpares que teriam, em boa dose, sido trazido da Alemanha e outros acumulados durante o Império Brasileiro (1822–1889). Os coloniais, em meio às enormes dificuldades de toda ordem, mantinham uma extrema filosofia de poupadores , porque, a qualquer custo, quiseram resguardar-se dos infortúnios da vida. Os recursos, advindos de suas suadas economias e heranças, teriam sido avolumados/juntados durante a formação e evolução da “seita”. Estes provavelmente ambicionaram adquirir armas, manter espírito de solidariedade (como os cristãos nos Atos dos Apóstolos), custear encargos comunitários, comprar terras (nas novas áreas de colonização)...
     Os boatos, comentários e fofocas das excepcionais riquezas, corriam soltos na boca da população. Inúmeros forasteiros envolveram-se nos eventos bélicos, de abril a agosto de 1874, em função dessas conversas. Os mercenários, vindos das diversas procedências da província, invadiram os lugarejos próximos ao Morro do Ferrabraz, pois queriam colocar as mãos naquela fortuna. Inúmeros indivíduos diziam-se exímios combatentes. Eles lutaram contra uma centena de sectários dos Maurer. As matas, plantações e potreiros viviam infectados de adversários e aventureiros. Estes, juntos aos moradores (inimigos), controlavam os passos dos incompreendidos. As esporádicas escaramuças sucediam-se através confrontos verbais, disparos ocasionais, incêndios de propriedades... As atrocidades, em meio aos desentendimentos, eram permitidas pela segurança pública (pouco interessada em serenar ânimos). Autoridades pareciam atiçar a “guerra entre aparentados e irmãos”. A(s) crueldade/desavenças, reprimida(s) por anos, tinha sobre quem recair, porque simpatizantes ou seguidores dos Maurer eram sempre os autores e culpados. Animais, pomares e plantações viam-se destruídos ou surrupiados (das propriedades) e a conversa era “coisa dos Mucker”.
    O desfecho sangrento, em junho a julho de 1874, teria levado Jacobina e João Jorge Maurer a esconder peças. Estes, às pressas (em meio ao tumulto dos últimos dias), teriam os escondido ou enterrado nalgum lugar das encostas ou sopé dos morros (grutas). Queriam resguardar-se da cobiça e ganância dos adversários. Os poucos quilos de minerais necessitariam duma segurança em função do tamanho esforço e sacrifício em acumular. Uma adequada guarda e proteção seria motivo de prudência e sabedoria. A entrega eventual, a conhecidos ou familiares, poderia gerar conflitos e intrigas. O indivíduo nunca sabe os interesses alheios, que costumam mudar muito rápido conforme as conveniências. A segurança maior poderia unicamente consistir no seio da terra. Este, pela experiência e vivência, costuma por séculos ou milênios proteger relíquias. Os espaços imaginados, como árvores, rochas e valos, poderiam servir de lugar excepcional. O ato, além dos Maurer, certamente recaiu sobre os íntimos da família, que acabaram trucidados.
   A hecatombe, em 2 de agosto de 1874, abateu-se sobre o grupo familiar íntimo. Os assassinatos e suicídios foram uma realidade. As lideranças caíram em desgraça e o segredo foi levado às tumbas. Os autores esqueceram de revelar o paradeiro do tesouro, que tanto contribuiu para acentuar o número de inimigos. Ele provavelmente repousa nos brejos e matos da circunvizinhança ao imponente Ferrabraz, pois jamais sugiram informações sobre achados (ou mantiveram-se na discrição). O espírito dos desventurados, em meio aos remorsos da tragédia, arrogam-se por ventura o direito de resguardá-lo.
     Inúmeros aventureiros e moradores, conhecedores da história dos bastidores do Episódio do Ferrabraz, “ousaram colocar as mãos”. As tentativas falharam e outras continuam a desafiar a cobiça e imaginação, em meio às picadas e trilhas da vegetação. Vários elementos procuram disfarçar as inúmeras procuras, alegando praticar caçadas e trilhas (com vistas de conhecer o cenário geográfico). Alguns dão vazão ao espírito de aventureiros e caçadores, que, por alguma razão, fazem relações com velhos galeões espanhóis. Uma façanha interessante para amantes de caminhadas ecológicas e desbravadores de enigmas. O mistério do tesouro dos Mucker, portanto, parece estar muito mais viva como aparece aos apaixonados e estudiosos do tema. Uma história comunitária contada em diversas conversas informais ou de ouvido em ouvido (entre membros da descendência germânica e com ancestrais envolvidos no conflito). Este, no contexto das novas gerações, parece superado, porém sobrevivem relatos da tragédia (no acontecimento fratricida da história da imigração teuta em terras americanas). Certas conversas sempre ostentam um fundo de verdade (talvez não seja diferente com a história desse tesouro).

Guido Lang, O Fato n° 1006, dia 06/02/1996, pág. 02.

Crédito da imagem: http://nostalgizar.blogspot.com.br/2012/09/bau-de-memorias-imprestaveis.html

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fábula do mito egípcio do “Olho do Sol”


  
   “Era uma vez um leão nas montanhas, que possuía muita força e caçava bem. Os animais das montanhas temiam-no. Certo dia, encontrou-se com uma pantera, cujo couro estava esfolado e cuja pele estava rasgada... Então, disse o leão: Como chegaste a este estado? Quem esfolou teu couro? Respondeu a pantera: Foi o Homem! Retrucou o leão: o Homem, que é isto?  Então lhe disse a pantera: Não há nada mais astuto do que ele, o Homem. Desejo que não caias nas mãos do Homem. O leão sentia rancor  do Homem e afastou-se da pantera a fim de procurá-lo”.

(Obs: Texto encontrado num papiro egípcio, na escrita demótica e traduzido pelo egiptólogo Adolf Erman).

Crédito da imagem: http://novosinsolitos.blogspot.com.br/2010/09/revelado-segredo-da-construcao-das.html

A surpresa



Uma determinada fabriqueta, de fundo de quintal, empregava meia dúzia de profissionais. Os familiares mantinham-se os principais trabalhadores. Esta, como microempresa, ostentava um comprador (certo) aos seus calçados. Este, nos lados da fronteira, comercializava a produção no ramo varejista e atacadista.
O comprador/lojista iniciou os pagamentos no ato/à vista. Um pedido, com certo número de pares, foi a título de experiência. Outras encomendas tomaram vulto. Uns números de pares sempre a mais. O pagamento pontual e a dinheiro vivo. A transação sucedeu-se neste ritmo por meses. As esperanças consistiam em ampliar e melhorar a produção. Máquinas foram compradas e instaladas. Trabalhadores registrados. Tudo legal como manda a legislação!
Outros pedidos, em número de algumas centenas de pares, tomaram forma. A credibilidade, do lojista, mantinha-se em boa conta/fé. Alguns dias, como crédito, foram dados. Os negócios transcorreram naquele ritmo calmo e persistente. A empresa, com a fabricação de certo número de pares diários, parecia deslanchar. Planos e churrasquinhos, em meio às confraternizações da equipe, não faltavam. Sucediam-se, no ínterim, umas boas cervejadas e gargalhadas. Afinal! Quem pega pesado, merece uns agrados e mimos.
Os negócios, entre fabricante e lojista, iam de vento em popa! Vendas boas nas lojas e encomendas constantes na fábrica. O lojista, numa certa ocasião, aumentou deveras o número de pares. Pedido especial para final de ano! O trabalhador com o décimo terceiro salário na mão! Euforia econômica ímpar! “O pessoal querendo levar as lojas!”. O lojista ofereceu cheque (por uns dias) e pagou direito. A confiança aumentou. Nada de maiores  consultas e desconfianças. O capital de giro, nos dias do cheque (retido), saiu das próprias economias. Algumas compras de matéria prima a crédito.
Adveio, em meio à euforia econômica, mais outro super pedido. O dobro dos tradicionais pares (para reforçar o abastecimento do mercado de final de ano). O lojista seguiu os trâmites normais e outro cheque expedido. Esperou-se os dias do almejado desconto. Adveio a maior surpresa: falta de fundo. “Os responsáveis sumiram do mundo” e a empresa foi à lona. Queixas a polícia e nada. “O banho maria”, da confiança e pontualidade, serviram de “ensaios ao calote”. Este adveio e terminou com sonhos e trabalhos. Deixou endividados os fabricantes e famílias. Tudo na lei, na confiança bancária e eficiência dos modernos meios de comunicação.  Solução fechar, vender máquinas, “tapar o buraco”, recomeçar a vida econômica... Inúmeras histórias, a semelhança desta, ocorreram nos Vales do Calçado (Caí, Paranhana, Sinos e Taquari) no período do “Ciclo do Calçado” (1970-2000).
O conto do vigário paira como sombra nas atividades econômicas. Quem nunca entrou nalguma fria? Facilidades e malandragens atiçam a criatividade humana. Certas presas veem-se alimentadas/ceivadas para receber o tiro certo na ocasião própria. Confiar em quem nestas alturas do campeonato? A imaginação, pelo dinheiro fácil, não tem limites na concepção humana! O indivíduo cuida-se porém alguma ratoeira aguarda-nos. Quem produz paga os ônus do conjunto das “maracutaias” (malandragens).

Guido Lang
Livro “Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://www.coladaweb.com/economia/historia-da-moeda 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Marquês de Maricá

  1. A preguiça dificulta, a atividade tudo facilita.
  2. O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.
  3. A má educação consiste especialmente nos maus exemplos.
  4. Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.
  5. O que ganhamos em autoridade, perdemos em liberdade.
  6. O temor da morte é a sentinela da vida.
  7. A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.
  8. Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível. 
  9. Quando os tiranos caem, os povos levantam-se.
  10. O louvor não merecido embriaga como o vinho.
  11. A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.
  12. O tolo tem sede no meio de água.
  13. Uma mentira estraga mil verdades.
  14. Para quem não sabe, um jardim é uma floresta.
  15. Aquele que não cultiva seu campo, morrerá de fome.
  16. O vento não quebra uma árvore que se dobra.
  17. O conhecimento não é a coisa principal, mas ações.
  18. Não pise no rabo do cachorro, e ele não o morderá.
  19. Sem vingança, os males do  mundo um dia ficarão extintos.
  20. A igualdade não é fácil, mas a superioridade é dolorosa.
  21. Não chame o cachorro com um chicote em sua mão.
  22. Quando um rei tem conselheiros bons, seu reino é pacífico.
  23. O machado esquece; a árvore recorda.
  24. É melhor ser amado do que temido.
  25. O cavalo que chega cedo bebe água boa.
  26. Um inimigo inteligente é melhor que um amigo estúpido.
  27. Quando o rato ri do gato, há um buraco  por perto.
  28. Um peixe grande é pego com isca grande.
  29. Um camelo não zomba da corcunda de outro.
  30. Uma filha tola ensina a sua mãe como carregar as crianças.
  31. Há quarenta tipos de lunáticos, mas só um tipo de bom senso.
  32. Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama.
  33. Um pouco de chuva a cada dia enche os rios até transbordarem.
  34. Não chame a floresta que o abriga de selva.
  35. A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.
  36. Todos  reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.
  37. É mais fácil maldizer os homens do que instruí-los e melhorá-los.
  38. Quando a cólera ou o amor nos visitam a razão se despede.
  39. A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.
  40. Nada agrava mais a pobreza que a mania de querer parecer rico.
  41. É mais fácil refutar erros que descobrir verdades.
  42. A inveja de muitos anuncia o merecimento de alguns.
  43. Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.
  44. Quando o amor nos visita, a amizade despede-se.
  45. O velho teme o futuro e abriga-se no passado.
  46. Nenhum governo é bom para os homens maus.
  47. A covardia preserva frequentes vezes a vida.
  48. Ninguém dúvida tanto como aquele que mais sabe.
  49. A experiência que não dói pouca aproveita.
  50. O mundo floresce pela vida e renova-se pela morte.
  51. Pouco espírito inutiliza muito saber.
  52. Os ignorantes exageram sempre mais que os inteligentes.
  53. Ninguém mente tanto nem mais do que a História.
  54. A virtude remoça os velhos, o vício envelhece os moços.
  55. O homem de palavra é aquele que menos fala.
  56. Ninguém é grande homem em tudo e em todo tempo.
  57. Quem não confia em si, não merece a confiança dos outros.
  58. As virtudes são econômicas, mas os vícios dispendiosos.
  59. O roubo de milhões, enobrece os ladrões.
  60. O mal ou bem que fazemos aos outros reverte sobre nós acrescentado.
Mariano da Fonseca (1773-1848), político carioca com o título de Marquês de Maricá. 

Crédito da imagem: http://www.quemdisse.com.br/buscador.asp?key=mARQUES+DE+MARICA

A dormência


Um certo morador, numa altura, precisou fazer um roçado no contexto da mata virgem. Conquistar mais alguma área arável. As necessidades familiares aumentaram. A produção oferecia possibilidades de ganhos.
Este começou com o roçado da mata rala, derrubada dos troncos (volumosos), secamento da vegetação e daí a tradicional coivara/queimada. Procurou-se, de imediato, cultivar alguma abóbora, feijão e milho (alimento básico ao trato animal). O solo/terra, com a camada milenar do húmus, atendeu as farturas e necessidades de produção.
A surpresa ocorreu com os tipos de inços. Adveio, a semelhança “do pêlo do cachorro”, a conhecida/tradicional guaxuma. Centenas de milhares de mudinhas brotaram no interior do roçado. Surgiu uma pergunta crucial: Como poderia estar inçado dessa maneira?  Sementes de guaxuma numa floresta virgem? Algo inimaginável no ambiente agrícola! Uma planta, a capina, difícil de combater (antes do advento dos herbicidas).
O assunto foi tema das conversas informais na venda (armazém). Algum idoso escutou o explanado. Este, a partir da tradição oral, soube da resposta. O seu avó havia comentado uma história com seu pai, enquanto ele foi ouvinte. O relato fora o seguinte: um construtor de bancos/canoas, há aproximados cem anos (por volta de 1910), amarrava mulas no interior da mata virgem/floresta. Este construía barcaças junto aos volumosos troncos. Eles, a base de machadadas, viam-se derrubadas e usadas como matéria prima. Fazia-os, de preferência, junto aos troncos de timbaúva (tradicional alcunha de “orelha de macaco”). Instalava acampamento, por dias, na proporção do avanço dos trabalhos (de confecção dos artefatos). Poderia demorar-se semanas e, concluído os artigos, viam-se escoados, com carroça, na direção dos cursos fluviais (daí comercializados ou atendido algumas encomendas). Os bichos de montaria, como as tradicionais mulas, ficaram no aguardo do construtor/dono. Estes, no ínterim, defecavam as sementes em meios às fezes.
Estas, num estado de dormência, preservaram-se nestas décadas. Advieram, com o desmatamento, as condições próprias à fecundação. Ela, de imediato, tomou forma. Elas, no seu interior, suspeitam-se ostentar uma espécie de óleo natural. Explica-se a razão da tamanha longevidade. Um fato admirável no contexto do ciclo da vida. Esta encontra alguma forma de precaver-se/preservar-se. A natureza encontra alguma forma de resguardar as espécies contra um eventual extermínio.  Os pacatos colonos admiraram-se do vigor natural e instintos de autopreservação.
O indivíduo nunca pode subestimar os desígnios naturais. O Homem, em traços gerais, pensa conhecer os segredos da natureza. Esta, a todo instante, surpreende com indescritíveis dilemas e enigmas. A tradição oral é a forma como pacatos colonos preservam sua história. Os registros escritos tomam forma com os modernos meios de comunicação (Internet). Alguém, no meio comunitário, trata de ostentar e preservar determinada informação (sobre os muitos assuntos). “Deus escreve certo em linhas tortas”, por isso trata de resguardar seus tesouros naturais.

                                                                                                   Guido Lang
                                                                                   Livro "História das Colônias"
                                                                              (Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: https://www.fmcdireto.com.br/portal/manuais/infestantes_verao/files/assets/seo/page187.html

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O silencioso extermínio



Achegou-se a época do plantio! As sementes precisam ser colocadas no solo. As plantas, do inverno, exterminadas. Pulverizações, com herbicidas, ganham importância. Lavouras cedo ostentam um amarelado (a semelhança dos trigais). A hecatombe dos inços, vegetação de inverno (como azevéns e aveias), tornara-se realidade. Objetivo: abrir espaço às culturas tradicionais (feijão, hortaliças, mandioca, milho...). O plantio direto, em meio a inços e brejos, tomara forma. Um verde, em dias, brota das sementes enterradas.
A realidade, no entanto, ostenta uma faceta despercebida/ignorada. A rotina segue os ventos da inovação (revolução agrícola/verde). O plantio direto mostra-se uma maravilha. O inço morre e as culturas desenvolvem-se no ínterim. Tempo é dinheiro! Nenhum pode ser perdido com vistas de fazer várias safras (no mínimo de duas a três por ano). As condições meteorológicas, através das “graças de São Pedro”, ajudam com alguma chuva. A produção multiplica-se. A fartura traz preços bons ao abastecimento das cidades e exportações. Governos mantém-se estáveis. Protestos de rua inexistentes. Cofres abarrotados de divisas. Obras espalhadas aos quatro ventos. Empregos em abundância. A qualidade de vida instala-se nos cantos e recantos!
Um singelo detalhe vê-se despercebido/ignorado com os ventos da modernidade. Como ficam elementos da fauna? Aqueles que alimentam-se das sementes, frutas, brotos? Os comedores dos besouros, cupins, formigas, grilos e larvas? Eles parecem “pagar parte do ônus” do extermínio (em função da extrema sensibilidade). Os ambientalistas, são combativos na hora de estabelecer multas e taxas, parecem ignorar os fatos (diante do poder de conglomerados industriais/multinacionais e magníficas arrecadações governamentais em tributos).
As massivas aplicações parecem explicar a ausência de aves tradicionais. Falo dos companheiros chupins, pomba rolas e tico-ticos. Estes ostentam-se escassos ou sumiram do cenário rural. Os outrora bandos fazem extrema falta nos pátios coloniais! Os gatos, como prato excepcional, igualmente lamentam a escassez da presença.
Os ventos da modernidade mudaram o quadro agrícola. Multiplicou-se a fartura alimentar. Milhões de litros de herbicidas, na ganância do capitalismo por lucro, foram aplicados a cada safra. Os discursos são da inércia dos líquidos à fauna. Espécies, no entanto, somem de forma misteriosa e silenciosa. Migram a outra estâncias ou paragens? Arroios e rios, nas primeiras precipitações, conhecem e escoam resquícios dessas aplicações. Estes, aterrados e lixeiras (a céu aberto), abrigam escassa e sofrida vida. Os outrora poços fundos, berçários de gamas de espécies, mostram-se raridade. Histórias de caçadas e pescarias, em córregos e valos, assemelham-se a lorotas (na proporção de narrados pelos mais antigos).
Quê os homens, em nome da ganância pelo dinheiro, querem fazer desse planeta? Os inocentes, de alguma forma, acabam sendo as maiores vítimas da insanidade. A superpopulação, do Homem sapins, parece levar a “nave Terra” a um colapso? Cada indivíduo, com um pouquinho de desperdício e poluição, contribui para os desígnios duvidosos da mãe terra.


Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://surucua.blogspot.com.br/2010/01/aves-urbanas-de-sao-paulo-18-tico-tico.html 

Thomas Jefferson

  1. O adiamento é preferível ao erro.
  2. Uma pequena rebelião agora e depois uma grande coisa grande.
  3. Não gastes o teu dinheiro antes de o teres na mão.
  4. A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração.
  5. Revoltar-se contra a tirania é obedecer a  Deus.
  6. Deus que nos deu a vida, deu-nos também a liberdade.
  7. Os anúncios contém as únicas verdades que merecem crédito em um  jornal.
  8. Quantos sofrimentos nos custaram os males que nunca ocorreram.
  9. Eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo.
  10. As religiões são todas iguais isto é fundadas sobre fábulas.
  11. Gosto mais dos sonhos do futuro do que da história do passado.
  12. A geração que começa uma revolução dificilmente a completa.
  13. Fundamental é aplicar a lei igualmente a homens de todas as condições.
  14. Acredito muito na sorte; verifico que quanto mais trabalho mais a sorte sorri.
  15. Quando um homem assume uma função pública, deve considerar-se propriedade do público.
  16. Não é a riqueza nem a pompa, mas a tranquilidade e a ocupação que dão felicidade.
  17. O espírito egoísta  do comércio não conhece países e não sente paixão ou princípio exceto o do lucro.
  18. A política é uma praga tal que eu aconselho todos a não se meterem nela.
  19. Não mordas um prazer antes de ver se não há algum  anzol escondido nele.
  20. Os momentos mais felizes da minha vida foram aqueles, poucos, que pude passar em minha casa com a família.
  21. Sempre que fizer algo, mesmo que ninguém venha a saber, faça como se o mundo estivesse olhando para você.
  22. O mais valioso de todos os talentos é aquele de nunca usar duas palavras quando uma basta.
  23. Quando os homens são puros, as leis são desnecessárias; quando são corruptos, as leis são inúteis.
  24. A árvore da liberdade deve ser regadas de quando em quando com o sangue dos patriotas e dos tiranos. É o seu adubo natural.
  25. Quando estiver zangado, conte até dez antes de falar; se estiver muito zangado, conte até cem.
Obs.: Thomas Jefferson (1743-1826) foi o terceiro presidente dos Estados Unidos.

Crédito da imagem: http://www.slate.com/articles/health_and_science/science/2012/09/thomas_jefferson_s_moose_how_the_founding_fathers_debunked_count_buffon_s_offensive_theory_of_new_world_degeneracy_.html

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O segredo das fontes


As famílias, na proporção das ausências das redes comunitárias (de água), construíam as moradias próximo as fontes. Elas eram consideradas e procuradas como um tesouro no interior das propriedades. A existência, em muito, elevava o valor monetário do imóvel. Espaços, bem abastecidos com olhos d’água, eram considerados ambientes privilegiados no cenário colonial/rural. Lugares continuamente úmidos, no interior de matos e roças, cedo viam-se achados e cavoucados (com  razão de conhecer os reais mananciais de líquido).
A necessidade de água, um recurso imprescindível à vida, levou a cuidados essenciais com fontes/poços. Elas, volta e meia, viam-se limpadas e reparadas. Eventuais caranguejos viam-se combatidos (com o acréscimo de algum punhado de sal ao ambiente). O acesso de animais via-se impedido (na proporção de haver consumo humano). A canalização, mesmo de forma rudimentar, era uma realidade. Um processo improvisado dado as carências monetárias e recursos disponíveis no comércio. Uns furavam taquaras e utilizavam as varas como canos; outros adquiriram sólidos cubos de ferro para conduzir o valioso líquido (de forma perene às instalações). O líquido, como bálsamo da vida, fluía na direção de reservatórios (edificados no pátio). Deixar a fonte coberta/tapada mantinha-se uma primeira postura com vista de evitar acúmulo/decomposição de restos vegetais ou eventual invasão/putrefação animal (nalgum eventual inconveniente afogado  no reservatório de sucção do líquido).
Os colonos, destes os primórdios, mantiveram outro cuidado essencial. Este relacionava-se no frescor d’água assim como a manutenção de veios. Estes, com as sacudidas dos trovões, poderiam deslocar-se no interior do subsolo. Criaria-se problemas de secamento e consequente desaparecimento. O cuidado/segredo, nas proximidades, consistia em cultivar uns bons taquarais. Eles, na atualidade, denunciam, a longas distâncias, a presenças das fontes/veios d’água.
O significado vegetal consistia em manter o ambiente fresco e úmido (à plena brotação do cristalino e puro líquido). Os taquarais, conforme os relatos orais, mostram-se imunes a ação de raios. Os poços, em função da água, poderiam conter energias antagônicas e oferecer perigos nos instantes da fúria da natureza. O ambiente fresco manteria o vigor da fonte assim como a qualidade da água (mineral). Os problemas poderiam advir nos dias mais cruciais do verão (do período das estiagens). Árvores frondosas/volumosas eram evitadas na circunvizinhança (em função do poder das raízes de invadir o interior). Poderia-se deixar crescer algum capão de mato ralo como reforço à manutenção dos veios. As raízes dos taquarais não tinham tamanha ganância pela água, por isso protegiam o ambiente.
A sabedoria colonial desconhece a origem do hábito dos taquarais. Uma criação autóctone provável dos colonos ao contexto da adaptação à realidade dos ambientes americanos. O hábito criou-se/instalou-se junto às primeiras fontes (nos primórdios da colonização) e estendeu-se sucessivamente ao longo do processo civilizatório. O vegetal mantém-se ativo em inúmeros locais. Os nomes dos reais plantadores, na edificação dos primeiros solares, encontram-se num aparente desconhecimento. Estes pioneiros descansam nas cinzas da eternidade, porém suas singelas obras perpetuam-se no tempo.
Segredos, crenças duma época e geração, fazem-se presentes no cotidiano da vida. Inúmeros poços, abandonados e ignorados, denunciam-se e perpetuam-se pela presença dos taquarais. Os ventos da modernidade, com a história da saúde pública, levaram ao abandono das fontes (porém trouxeram a inconveniência da água clorada e permanentes taxas de uso). O registro da história visa mantê-lo resguardado do esquecimento, para que a memória comunitária tenha relatos das suas odisseias do passado.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://canto-cigano.blogspot.com.br/2012/07/planeta-aguaby-dany.html

Se um cachorro fosse seu professor


Se um cachorro fosse seu professor
Você aprenderia coisas assim...
Quando alguém que você ama chega em casa, corra ao seu encontro.
Nunca perca uma oportunidade de ir passear de carro.
Permita-se experimentar o ar fresco do vento no seu rosto.
Mostre-se aos outros que estão invadindo o seu território.
Tire uma sonequinha no meio do dia e espreguice antes de levantar.
Corra, pule e brinque todos os dias.
Tente se dar bem com o próximo e deixe as pessoas te tocarem.
Não morda quando um simples rosnado resolve a situação.
Em dias quentes, pare e role na grama, beba bastante líquidos e deite debaixo da sombra de uma árvore.
Quando você estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.
Não importa quantas vezes o outro te magoa, não se sinta culpado... volte e faça as pazes novamente.
Aproveite o prazer de uma longa caminhada.
Se alimente com gosto e entusiasmo.
Coma só o suficiente.
Seja leal.
Nunca pretenda ser o que você não é.
E o mais importante de tudo...
Quando alguém estiver nervoso ou triste, fique em silêncio, fique por perto e mostre que você está ali para confortar.
A amizade verdadeira não aceita imitações!!!

E NÓS PRECISAMOS APRENDER ISTO COM UM ANIMAL QUE DIZEM QUE É IRRACIONAL...

Autor Desconhecido

Crédito da imagem: http://cidaderiodejaneiro.olx.com.br/filhotes-fox-paulistinha-iid-221093767

domingo, 25 de novembro de 2012

O Pai Nosso!


           
               Uns profissionais cedo reencontram-se nos eventos comunitários. Os jantar bailes, no momento, são os principais eventos nas localidades (junto às programações do esporte amador e encontros de corais). Afluem forasteiros e moradores das diversas e inúmeras comunidades. Verifica-se, na prática, uma espécie de troca de cortesias. As diretorias/sócios visitam as promoções alheias e, na data da local (na sua sociedade), recebem membros das entidades visitadas. Uma forma de intercâmbio e lazer com vistas de ostentar momentos comemorativos e fugir dos ambientes maçantes da rotina. Oportunidade ímpar de rever conhecidos, conversar com gente diversa, angariar dividendos...
            Um advogado, um corredor e um funcionário (policial) reencontraram-se num evento desses. Procurou-se, como velhos conhecidos, rememorar experiências e vivências da infância e adolescência. As conversas, a exemplo, versaram sobre caçadas, invasão de roças (a cata de melancias), pescarias, treinos esportivos, travessuras de bailes, artimanhas escolares... Assuntos e gargalhadas, depois de uns bons anos (sem maiores contatos), não faltaram. As convivências e necessidades, nestes anos todos, tinham ensinado lições aos cidadãos. A migração campo-cidade levara a novos conhecimentos e experiências assim como negócios e profissões.
A conversação, num determinado momento, encaminhara-se a falar do contexto social (das atualidades). Assuntos como bandidagem, oscilações econômicas, político-partidária, violência no trânsito... Dificuldades e problemas, como desafios existenciais, não faltariam no cotidiano da vida (de ninguém). Cada qual explanou histórias e preocupações. O advogado referiu-se aos interesses e incompreensões humanas. O corredor aos aparentes problemas insolúveis nos cortiços e periferias urbanas. O policial da ousadia da bandidagem e confusões de leis. As profissões, nas suas diversas esferas e funções, administravam problemas. A experiência, no cotidiano da convivência, tinha-os transformados “em macacos vacinados diante da astúcia alheia”. As informações privilegiadas, acumuladas ao longo das jornadas, tornara-os excepcionais especialistas/profissionais, portanto, dignos das  melhores renumerações.
Um quarto elemento, modesto agricultor e ouvinte das conversas, mostrou-se bastante inibido e tímido. Ele, como outrora colega de infância, manteve-se firme no grupo. Este, numa altura, explanou sua opinião (na sua tradicional franqueza germânica) diante dos “ditos doutores das universidades”. Procurou, na sua conclusão das conversas, falar: “- Vocês a cada noite precisam rezar um bom e piedoso Pai Nosso! Agradecer ao Todo Poderoso em função de não terminar com as brigas, carências, desperdícios, desavenças, intrigas!... Vivem dos ingênuos e trouxas desde mundo! Uns querem mostrar os seus direitos e recorrem a Justiça. Outros edificam mansões para serem escravos da sua manutenção! Alguns desonestos e malandros precisam de leis e mais leis, porém nada cumprem a contento!”...
Os parceiros arregalaram os olhos e sorriram diante da esdrúxula e franca colocação, porém certeira afirmativa. A aparente bonança advinha da burrice, desorganização, idiotice, malandragem... Um ônus deveras pesado à sociedade produtiva e os descasos com os próprios bolsos. Nada disso seria necessário caso houvesse o bom senso e o espírito cristão. Se o amor ao próximo, pregado pelos ditos cristãos, realmente fosse vivenciado. Haveria daí os problemas sérios da falta de empregos!
A verdade mostra-se uma pérola, porém poucos têm o bom senso de dizê-la (nos momentos oportunos). A bonança, de muitos, tem elementos escusos de arrecadação. Nunca é demais ouvir aquilo quem nem sempre agrada a contento. Aquela realidade: arruma uma coisa e desarruma a outra.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://blogpastoraanavirginia.blogspot.com.br/2012/07/nao-tema-luz-nasce-nas-trevas.html 

Oração da vida


“A vida é uma oportunidade. Aproveita! A vida é beleza. Admire-a! A vida é um sonho. Faça que se torne realidade! A vida é um desafio. Enfrente-o! A vida é um dever. Cumpra-o! A vida é preciosa. Cuide dela! A vida é riqueza. Conserve-a! A vida é um mistério. Explore-o! A vida é promessa. Cumpra-a! A vida é tristeza. Supera-a! A vida é um hino. Canta-o! A vida é um combate. Vença-o! A vida é uma aventura. Conduze-a! A vida é felicidade. Mereça-a! A vida é vida. Defenda-a!”

Madre Tereza (26/08/1910-05/09/1997)

Crédito da imagem: http://orarcommadreteresa.blogspot.com.br/2011/04/madre-teresa-de-calcuta-oracao.html

sábado, 24 de novembro de 2012

O livreiro


        
         “Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois é que nela se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao corpo nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome. O batom diz a mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão os ombros, porque o próprio da ignorância é sentir-se feliz em si mesmo, como o porco na sua lama. É pois o livreiro que vende o artigo mais difícil de vender-se. Qualquer outra lhe daria maiores lucros. Ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a essa generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronte. Suprima-se o livreiro e estará morto o livro e com a morte do livro retrocederemos à idade da pedra, 'transfeitos em tabuinhas, comedores de bichos de pau podre'. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde e se perpetua a trêmula chamazinha da cultura”. 

Monteiro Lobato (18/04/1882-04/07/1948)

Crédito da imagem: http://veravilhena.blogspot.com.br/2010/09/livros-velhos.html

Tecklenburgueses vem para Teutônia/RS


      
       Teckelenburgueses vem para Teutônia. Pastor Kleingünther escreve de Porto Alegre no dia 2 de agosto de 1868, para o Pastor Hunsche, Linha Nova, o seguinte: 'Na sexta-feira, há 14 dias, vieram aqui os tão longamente esperados agricultores. São 41 pessoas juntamente com o professor Behne ao lado de sua esposa e seus dois filhos. O quão intensamente eu me alegrara ao poder receber e oferecer a minha mão de irmão a estas pessoas tão queridas, da inesquecível Tecklenburg, certamente nem saberia descrever-lhe aqui. Mas, por outro lado, maior ainda foi a alegria deles ao ver a minha presença. Em meio ao maior júbilo eles me estendiam a mão, e um bom tempo passou até que todos novamente se acalmaram de toda esta euforia. E, o perguntar, os cumprimentos e a admiração não cessaram. Somente com a chegada da noite toda esta confusão teve o seu fim. Na manhã seguinte, pude observar as mesmas cenas do dia anterior, tive que permanecer entre eles o dia todo. Foi, no entanto, na manhã de domingo que tive a grande alegria; pude ver a todos nos bancos da igreja e, à tarde, os homens vieram ter comigo na sala de minha casa. Também realizei o casamento de dois pares de noivos que em Hamburgo não encontraram tempo para isto. Na terça de manhã eles navegaram para Taquari e de lá foram para a colônia particular de Teutônia. Eu não possuo cartas de lá, mas sei que foram felizes em sua chegada e foram bem recebidos. Espero que, apesar das dificuldades e amargores encontrados no início desta jornada, estas queridas pessoas possam ter sido felizes e também espero que possam ter tido um futuro sem problemas'.
Numa outra carta do dia 8 de dezembro de 1868, dizia: 'Nossos agricultores de Teutônia estão bem. Há três semanas eu fui visitá-los. Espero que estas queridas pessoas continuem, no futuro, a gostar da mesma maneira do Brasil, caso contrário, jamais poderei retornar a Tecklenburg, pois os agricultores de lá estão sentidos comigo por lhes ter tirado estas pessoas. Mas, isto não me interessa muito, o que importa mesmo é pensar no bem-estar deles'.
Carta do dia 2 de fevereiro de 1869: 'Dos agricultores de Teutônia eu recebo somente notícias boas. Eles estão se sentindo bem aqui no Brasil. Isto me alegra, uma vez que na Alemanha dizem que eu os forcei a virem para o Brasil. Mas esta não é a verdade. Somente narrei e mostrei-lhes as relações de amizade que existem e deixei-os livres para escolherem. Tenho hoje ainda a surpresa em saber que estes agricultores estão melhor aqui do que em sua velha Pátria. Disso também falam – o Professor Behne assim o diz. Apesar das dificuldades aqui encontradas, estas pessoas reconhecem que suas vidas aqui são mais fáceis. Um deles escreve para a Alemanha: 'Vocês dizem que nós aqui entramos na escravidão, no entanto, eu saí da escravidão ao deixar a Alemanha, pois o Senhor Heuermann é um, verdadeiro escravo. Aqui sou dono de minha vida'. Assim podemos ler em cartas. Tudo isto faz com que o meu relacionamento com os tecklenburger e perante os pastores seja mais ameno'.
Numa carta do mesmo ano, 1869, escreve: 'Após longa mas bem sucedida viagem, vieram 35 tecklenburger ao Brasil. Eu os recebi e, à tarde, convidei-os para virem na minha casa para que pudessem contar as novidades da Pátria. Foi uma conversa muito, muito longa. Os agricultores me deram trabalho, mas também proporcionaram-me grandes alegrias. No domingo, todos vieram à igreja. Tanto a mim como a eles fez bem poder ouvir a Palavra de Deus frente a tantos amigos e conhecidos. Por este motivo fico triste em saber que na Teutônia eles ainda não têm igreja e ainda terão que esperar tanto tempo por seus cultos'.
Na carta do dia 11 de outubro de 1869: 'Ontem, há 8 dias, mais 27 tecklenburger vieram para Teutônia. Mais 97 estão a caminho e serão por nós esperados ainda neste mês. Dessa maneira a Teutônia já está uma verdadeira colônia. Os westfalianos já são elogiados aqui na cidade. Para um tecklenburger como eu, é uma grande satisfação poder ouvir: 'Os seus agricultores são os melhores e mais trabalhadores que aqui já recebermos''.
Dia 9 de dezembro de 1870, ele escreve: 'Estou voltando de uma viagem do Taquari e recebi informações de que os tecklenbuger estão todos bem. Os últimos imigrantes vieram tarde demais, de maneiras que não puderam mais fazer o plantio. Por isso, passaram por grandes dificuldades. O que é irritante é que entre estes últimos imigrantes há que trazem para o professor muitas dificuldades. São preguiçosos e falam mal do Brasil. Umas pessoas assim não progridem, é facilmente entendível'.

 (Extraído da Folha Dominical n° 34 de 25.08.1957)

(Livro/Fonte: Guido Lang. Colônia Teutônia – História e Crônica: 1858-1908, São Leopoldo, Sinodal, págs. 50 e 51). 


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Credo da Autoconfiança


    Eu acredito em mim! Eu acredito naqueles que trabalham comigo! Eu acredito em meu empregador! Eu acredito em meus amigos! Eu acredito em minha família! Acredito que Deus me emprestará tudo aquilo de que preciso para ter sucesso, se fizer o melhor que eu puder mediante serviço fiel e honesto. Jamais fecharei meus olhos, para dormir sem rezar por orientação divina, para que eu seja paciente com outras pessoas e tolerante com aqueles que não acreditam como eu.
     Acredito que o sucesso é resultado do esforço inteligente e que não depende da sorte ou de atos desonestos, traição contra amigos, meus semelhantes ou meu empregador. Eu acredito que tirarei da vida exatamente o que nela colocar e, por conseguinte, terei cuidado em me conduzir com os demais como quero que se conduzam comigo. Não caluniarei aqueles de quem não gosto. Não depreciarei meu trabalho, não importa o que possa ver outros fazendo. Prestarei o melhor serviço de que seja capaz porque prometi a mim mesmo ter sucesso na vida e sei que o sucesso é sempre resultado de esforço consciencioso e eficiente. Finalmente, perdoarei aqueles que me ofendem porque compreendo que, às vezes, poderei ofender os demais e precisarei de seu perdão. 

Autor desconhecido

Crédito da imagem: http://darcyvera.blogspot.com.br/2010/03/que-lugar-maravilhoso.html

A habilidade


         Um certo jovem, em função das dificuldades financeiras, foi trabalhar cedo na vizinhança. Esta, com propriedades organizadas a semelhança de microempresas, necessitara de gente corajosa, disposta e esforçada. Ele, como pacato moço dos interiores, foi aceitando conselhos e ensinamentos, nas diversas famílias e patrões. O trabalho braçal e penoso, em meio do sol escaldante, serviu-lhe de escola para assimilar inúmeros conhecimentos, experiências e habilidades.
     Aprendeu, como os jovens tem facilidades de assimilação, uma gama de práticas e técnicas. Sabia, a título de exemplo, afiar ferramentas, cultivar lavouras, fazer roçados, manejar bois, serrar lenhas, zelar pelas criações... Nada de impróprio para um moço saudável e vigoroso! Labutou, neste ritmo, uns bons meses e anos, com vista de assimilar noções básicas da produção (primária) e ganhar seu dinheiro (às confraternizações de finais de semana com os amigos e auxiliar os pais nas despesas de manutenção familiar).
     A fama, de ativo e bom trabalhador, cedo espalhou-se no meio comunitário. Pedidos, como diarista (assalariado) ou meeiro, não faltaram entre as inúmeras famílias de moradores. Achegaram, na conversa do vai e vem (com os amigos), propostas de labutar em empresas. Ele despertou o desejo de migrar. Queria conhecer ambientes diversos, conviver com tipos variados de gente/pessoas, poupar-se do sol inclemente (quente do verão), safar-se de tarefas impróprias (judiadas) da lavoura... Almejava ocupar-se nalguma atividade industrial e urbana. Um emprego com maiores oportunidades e possibilidades de ascensão financeira e social (assim como chances de galgar postos de chefia). Teria direito aos benefícios da legislação trabalhista (nem sempre bem cumpridas a contento no interior das propriedades minifundiárias de subsistência).
    O jovem comentou, a aspiração e propostas, com um compadre; tinha feito inúmeras jornadas penosas com o devido.   Este, ancião experiente e sábio – curtido pelas vivências, disse-lhe: “- Vai! Aproveita alguma das chances! Sairás bem em quaisquer tarefa! Conheces bem o trabalho duro e não reclamas!” “- Como assim?” perguntou o jovem! “- Sabes trabalhar! Quem labuta, dá-se bem em qualquer ambiente e contexto. O laborioso costuma ser bem vindo em quaisquer lugar e país” completou o senhor. O tempo, em poucos anos, comprovou a profecia. O cidadão tornou-se um próspero (empreendedor) e modelo de ascensão social. Uma referência, no seio comunitário, para aumento do fluxo migratório dos jovens rurais na direção das cidades.
   O cidadão, dedicado, habilitado e trabalhador, mostra-se sempre bem vindo! Aprender o modesto com vistas de vislumbrar o complexo (ostenta-se sabedoria de ousados). Ouvir, olhar, fazer e refazer mostra-se ensaio para excepcionais aprendizagens.  Pedir ideias e opiniões, dos mais experientes e vividos, demostra esperteza e inteligência. Os pais criam os filhos para o mundo e eles precisam seguir sua sina!
                                                                                                  
Guido Lang
Livro ”Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://escolasalome.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Profecia da Terra


    “Um dia, a terra vai adoecer! Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando este dia chegar, os seres humanos aprenderão a fazer reverência pela sagrada Terra. Aí, então, todas as raças vão se unir numa aliança para terminar com a destruição, e assim, agir por uma melhor qualidade de vida”.

                                                                                      (Olhos de Fogo, uma velha índia Cres)

Crédito da imagem:http://portalakalanta.blogspot.com.br/2011/12/os-lugares-mais-diferentes-e-raros-do.html 

Instintos apurados


        Alguns colonos, em momentos ímpares, apelaram aos afamados e ousados caçadores. Estes, nos ambientes das comunidades, vêem-se amplamente conhecidos e comentados. Ostentam, como num confronto de astúcias e instintos apurados, uma implacável paixão pelas caçadas. Veem-se, em certas situações, convocados para algum impróprio (alguém precisa dar algum jeito nalguma inconveniência).
Os moradores, diante das contínuas perdas de criações e plantações, precisam tomar alguma medida radical. O bicharedo, como gatos, gaviões, graxains, répteis, atacam as aves domésticas (angolistas, galinhas, gansos, marrecos, perus, pombos).  Os bichos/predadores precisam conhecer um remédio ímpar (susto com razão de afugentá-los ou incorrer no próprio extermínio). Os coloniais não podem conviver com a presença ou proceder ao trabalho de eliminação. Procuram daí apelar ao conhecimento/habilidade dos astutos caçadores. Estes, com exímios atiradores ou com especial cachorrada, tratam de abraçar a causa insana da eliminação. O desafio, no confronto de astúcia (humana versus animal), cedo instala-se no habitat próprio da presa.
O caçador informa-se dos detalhes da espécie. Planeja e instala tocaia própria as preferências do animal. Aos felinos costuma ser algum galo, que canta e atrai a presa. O predador, diante da fome, coloca-se nalgum momento a caminho. O caçador, para não delatar-se pelo cheiro, enfurna-se nalgum esconderijo (contra o vento com razão de não ser denunciado pelo cheiro). Estudou, com uma boa antecedência e precisão, o local do confronto e neste monta algum disfarce. A vítima, como presa, encontra-se amarrada (em meio ao desespero) e fica a espera do predador. Ele, de maneira geral, aflui desconfiado e vigilante! Parece prescindir a tragédia a partir do prato fácil, porém “a dor da fome” impulsiona-o a prosseguir na empreitada de querer apanhar o chamarisco.
O confronto de astúcias, nalgum momento/depois de alguma boa espera, acontece em certo horário, que é comum à espécie. O caçador, pelo tipo de animal, já conhece as habilidades e preferências. A primeira incursão, com um tiro bem carregado e certeiro (convicto dos transtornos em não acertar o alvo, capricha na pontaria), costuma fazer o estrago. O caçador abate o incursor (com razão de dar um basta aos constantes sumiços). Gaviões, em árvores, costumam ser abatidos a longas distâncias. A cada caçada excepcional aumenta a fama do caçador. Os pedidos de outros serviços/trabalhos fluem e recompensas, pelos dispêndios do tempo, tomam vulto. A legislação ambiental inibe/proíbe os abates, porém não tem como certas criações e plantações conviverem com vorazes predadores.
A astúcia e esperteza humana, em quaisquer ambientes - de aparência inóspita, nunca pode ser subestimada ou suprimida. Os humanos, uma vez ludibriados/prejudicados no bolso, cedo mostram a “face oculta”. Os mimos, de fácil degustação, costumam ostentar excepcionais tocaias. O caçador mata e vangloria-se com a desgraça alheia.
     Alguns caçadores, em função das ousadas caçadas e pescarias, constituíram reputação comunitária. Histórias e relatos, na tradição oral, subsistem na memória e ao tempo. Partes das presas serviram como testemunho dos acontecimentos e relatos. Outros momentos, alguma fotografia ou testemunha ocular, documenta o ocorrido/sucedido. O rejuvenescimento da fauna, com a ampliação das florestas, matos e brejos, vem recriando o velho dilema dos rotineiros ataques às criações e plantações (nas propriedades coloniais/rurais). 

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem:http://www.ipvdf.rs.gov.br/