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sexta-feira, 27 de julho de 2012

O ADVENTO DA TELEVISÃO


Pude, na minha infância, apreciar o advento dos primeiros programas de televisão, que eram a grande sensação no meio rural. As pessoas afluíam de quilômetros para assistir os programas, que rompiam a rotina do cotidiano rural.
Presenciei a introdução na Boa Vista Fundos/Teutônia/RS, quando mudou-se a rotina colonial. O primeiro aparelho foi adquirido geralmente pelos comerciantes (coloniais) e colonos melhor situados. Os "vendeiros" viram uma possibilidade econômica, porque os colonos vinham para casa de negócios com vistas de assistir as programações. O aparelho televiso, fascínio científico-tecnológico, era instalado num lugar espaçoso, no qual os moradores assistiam aos principais programas. Estes relacionavam-se sobretudo aos jogos da Copa do Mundo (1970), quando o Brasil possuía o "super-timão". O número de espectadores ampliara-se a cada partida na medida que a seleção nacional assumia a liderança e obtinha magníficas vitórias. Os telespectadores assistiam as transmissões e consumiam, paralelo a empolgação, bebes e comes, que eram comercializados pela casa. As lutas livres, aos sábados a noite, igualmente juntavam magnífico público, que vibrava a cada emoção. As torcidas sucediam-se a cada combate, no qual defrontavam-se "mocinhos" contra os "transgressores das normas esportivas". A programação, dos sábados a noite, rompeu com a rotina rural, no qual os moradores cedo tratavam os animais para, em seguida, afluírem em direção a casa comercial.
O tempo passou e a televisão tornou-se uma realidade comum, que acabou instalada em praticamente todas as residências coloniais. Perdeu-se a "magia", no qual o aparelho era a principal atração. Todos os moradores procuraram adquiri-lo na medida das suas condições econômicas e popularização do bem. A aquisição iniciou pelos mais afortunados e concluiu-se pelos menos: passou-se, numa etapa seguinte, para o aparelho em cores, que veio a substituir o televisor preto e branco. Veio, nos últimos anos, o vídeo e a antena parabólica, que, no momento, ganha maior espaço. Inúmeras residências rurais ainda não adquiriram a "maravilha tecnológica", que, no entanto, soma-se na proporção da elevação do nível econômico e popularização dos aparelhos. Outras novidades advirão e assim continuarão as mudanças, que trouxeram "uma verdadeira revolução de costumes, hábitos e valores".
O impacto da televisão, nos valores comunitários, carece de estudos. Posso, no entanto, adiantar que introduziu toda uma prática de consumismo. Procurou-se imitar e viver "modelos citadinos", que nada ou pouco condizem com a realidade local. "Modelos de hábitos e moda" acabaram introduzidos, que até chocaram-se com as experiências e vivências regionais. Os assuntos televisivos acabaram muito mais comentados, que acontecimentos locais, introduziu-se uma ideia da ampla criminalidade, egoísmo, individualismo, insegurança, poluição, roubos nos centros urbanos. Os moradores no entanto possuem oportunidade ímpar de inteirar-se nesta "situação do mundo", no qual comenta-se os conflitos e progressos.
A introdução da televisão gerou polêmicas. Os jovens ambicionaram continuamente adquirir o aparelho, enquanto seus anciões resistiram. Estes últimos alegaram a "televisão como desgraça familiar", no qual organizariam-se horários de trabalho em função de programas. A juventude, os filhos dos colonos, viveriam antenados no aparelho, quando deixariam de cumprir as tarefas agrícolas. O barulho e a claridade da televisão, para os velhos, atrapalharia o sono, porque os jovens ficariam assistindo até "altas horas da noite" (encontrariam-se cansados noutro dia e menos ativos na dura luta braçal da agricultura minifundiária de subsistência). A influência excessiva da televisão causaria uma insatisfação com a rotina colonial, no qual o resultado seria a migração (em direção ao "eldorado dos centros urbanos", no qual haveria muito conforto e trabalho).
O certo é que a "revolução televisiva" sucedeu-se, pois trouxe o "mundo dentro dos lares". Estes ingressaram-se ao consumismo e domínio cultural dos detentores dos canais televisivos. Valores comunitários acabaram relegados a plano secundário e "vive-se mais de acordo as maravilhas televisivas". O progresso, no entanto, ninguém pode estancar; necessita-se adaptá-lo a realidade da vida local, que, inúmeras vezes, rompe com os padrões normais de convivência. Ela precisa vir de encontro a nossa qualidade de vida, quando pode introduzir uma elevação do nível cultural. A televisão possui seus inconvenientes e vantagens e os moradores precisam aprender a extrair os benefícios. Tornou-se, na atualidade, uma realidade comum, no qual satura-se com excesso de transmissão, que pouquíssimo acrescentam aos indivíduos (em função do massivo tempo para assisti-los embora constitui-se num ótimo lazer depois das rotinas estafantes).

Guido Lang
Histórias coloniais - Parte 2
Jornal O Informativo de Teutônia, p. 04
17 de maio de 1995

Crédito da imagem: http://juntoutudojunto.blogspot.com.br/2012/06/televisao.html