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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Os muckers

O ZUM-ZUM DAS COLÔNIAS


    Os inúmeros clãs das localidades de predominância do elemento teuto-brasileiro conhecem-se a decênios de colonização. Acontecimentos, histórias e vivências acumularam-se ao longo da História, quando a tradição oral, a título de relatos pitorescos, guardou sucedidos. Estes, em momentos da reunião familiar ou comunitária - no contexto das conversas informais, vêm-se recontadas e rememoradas.
     Os fatos servem de referência com razão de não cair nos idênticos deslizes. Poderia-se se dizer “servem como escola da vida”, quando a descendência, de forma saudosa e pitoresca, relembra-se dos ancestrais. O curioso, no contexto da história comunitária, dá riqueza dos acontecimentos, quando alguma realidade, num certo ambiente, pregou-se uma peça ímpar. Os fatos poderiam suceder-se com o manejo de animais, relações familiares, eventos comunitários, princípios de vida, trato da terra... A vida aplicou uma pérola, que acabou marcado nas narrações da comunidade.
    Outra realidade, do “zum-zum” das conversas, relaciona-se ao conhecimento comunitário quando boatos, comentários, falatórios e mentiras “correm rápidas de ouvido em ouvido”. As famílias, como aparentados e vizinhos, conhecem-se de longas datas, quando “a vontade de contar alguma novidade/transcorrido” subsiste como prática comunitária. Algum sucedido contado e recontado de amigo para amigo, de vizinho para vizinho, perpassa os diversos ouvidos, quando tornou-se um conhecimento empírico generalizado. Manter a discrição no contexto das pacatas localidades, ostenta-se uma dificuldade, porque “alguém sempre vê o impróprio”. Existe aquela velha lógica: “Enxergar o que não se deveria! Vê-se primeiro ou muito mais o impróprio do que o próprio!”
    Algumas figuras, andando aqui e acolá, assumem o papel de mensageiros/correio, quando adoram divulgar notícias. Uns cedo descobriram o “jornal informal oral”, no que contam certa informação a beltrano e ciclano. Pede-se para não contar adiante e daí, na primeira oportunidade, dá-se vazão ao comentário. Os maliciosos, em momentos, pregam-lhes alguma mentira, quando incorrem no ridículo da difusão imprópria. Qualquer morador, de bom senso, não pode incomodar-se dos comentários e falatórios, porque “ninguém consegue tapar a boca do povo (a voz do povo é a voz de Deus)”.
     O “zum-zum” comunitário assemelha-se ao singelo ruído das abelhas, que ocorre num ambiente de intenso trabalho no interior da colméias. Este, pela tradição oral, deu origem a palavra “Mucker” que levou aos acontecimentos da maior intriga do elemento teuto-brasileiro em terras brasileiras (Episódio dos Muckers no Morro Ferrabrás/Colônia Alemã de São Leopoldo). Várias localidades, em função dos muitos e inúmeros “zum-zuns” contínuos, levam a alcunha de recanto dos Mucker!

Guido Lang
Anexos das “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://wineberryweb.blogspot.com.br/2012/08/cultura-casas-enxaimel.html

A sabedoria das inscrições tumulares


Resumir uma biografia, em poucas palavras, mostrou-se um desafio e tradição dos antigos. Eles, através da família, resumiam a existência em breves dizeres, que mostravam os feitos e “modo de curtir” esta passagem terrena. Trabalhos, a nível de estudos acadêmicos, dificilmente enfocaram estas inscrições ímpares, que revelam a mentalidade de famílias e comunidades.
Procurei, como genealogista e historiador, fazer um apanhado de inscrições, que retratam antepassados próprios. Segue, numa tradução livre do alemão gótico para o português por Ruth Érica Schiller, os escritos. Estas inscrições encontram-se em jazigos do Cemitério Evangélico Betânia na Boa Vista/Teutônia/RS:
01. “Viagem bem minha criança! Os anjos esperam o teu espírito cristão. Ele viveu como querido Filho de Deus! A coroa já te espera! Os enlutados pais Frederico Strate e Erna Jasper”. Afons Strate (1920-1921)
02.  “Ande bem amado filho! Durma bem doce no teu descanso! Nós choramos amargamente por ti! Terra fresca te cubra!” Fridolin Strate (1822-1934)
03. “Viva bem meu querido pai! Viva bem para todo o tempo! Quando nós nos veremos outro vez será para toda a eternidade”.  Friedrich Wilhelm Lang (1857-1936)
04. “Agora continua vivendo bem, minha cara fiel esposa; durma suave na tua tumba até que nós nos veremos de novo. Até que a voz de Jesus me chama!” Paulina Eggers Lang (1896-1933)
05.  “Vivam bem todos! Vós meus queridos! Eu vivo e moro no meu Deus! Meu querido Deus não me entristece! A morte me liberou de toda a tristeza!” Jacob Lang (1824-1896)
06.  “Difícil é o que agora nos entristece: uma consolação. Onde a gente tem saudade, a gente amou! O amor nunca morre!” Friedrich Carlos Lang (1886-1950)
07. “Durma bem na tua silenciosa tumba! Até que um dia em que a voz de Deus chamará para a ressurreição!” Adolf Lang (1864-1934)
08. “Deus quer que seja a vontade dele até que nós nos veremos de novo!” Augusta Brandenburg (1889-1938) e Wilhelm Jasper (1882-1930)
09.  “Abençoado seja a tua entrada no fresquinho e silencioso lar dos mortos! Como você pode descansar tão docilmente no fundo da terra! No santo chão! Durma bem das tormentas da terra! O anjo vai te proteger onde tem bastante flores e a ressurreição de Cristo brilha!” Phillip Stahlhöfer (1824-1898)
10.  “Descanse em paz junto aos seus ancestrais! Acreditamos no reencontro vindouro na eternidade! O teu exemplo norteará nossas ações e gerações!” Annilda Strate Lang (1927-2007)
11. “A gente não morre quando deixa exemplos e ideias! Descanse em paz e tenha certeza da missão cumprida!” Lothário Lang (1927-1990)
12.  “Como voa o tempo dos homens para a eternidade? Eu achei antes que pensei no poder da morte! Vocês, meus queridos, boa noite!” Morto por mãos assassinas durante a Revolução Federalista Daniel Franck ( 1837-1894)

Guido Lang
Anexos das “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://poetaelmar.blogspot.com.br/2010/07/diario-incontinuo_24.html