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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Marquês de Maricá

  1. A preguiça dificulta, a atividade tudo facilita.
  2. O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.
  3. A má educação consiste especialmente nos maus exemplos.
  4. Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.
  5. O que ganhamos em autoridade, perdemos em liberdade.
  6. O temor da morte é a sentinela da vida.
  7. A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.
  8. Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível. 
  9. Quando os tiranos caem, os povos levantam-se.
  10. O louvor não merecido embriaga como o vinho.
  11. A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.
  12. O tolo tem sede no meio de água.
  13. Uma mentira estraga mil verdades.
  14. Para quem não sabe, um jardim é uma floresta.
  15. Aquele que não cultiva seu campo, morrerá de fome.
  16. O vento não quebra uma árvore que se dobra.
  17. O conhecimento não é a coisa principal, mas ações.
  18. Não pise no rabo do cachorro, e ele não o morderá.
  19. Sem vingança, os males do  mundo um dia ficarão extintos.
  20. A igualdade não é fácil, mas a superioridade é dolorosa.
  21. Não chame o cachorro com um chicote em sua mão.
  22. Quando um rei tem conselheiros bons, seu reino é pacífico.
  23. O machado esquece; a árvore recorda.
  24. É melhor ser amado do que temido.
  25. O cavalo que chega cedo bebe água boa.
  26. Um inimigo inteligente é melhor que um amigo estúpido.
  27. Quando o rato ri do gato, há um buraco  por perto.
  28. Um peixe grande é pego com isca grande.
  29. Um camelo não zomba da corcunda de outro.
  30. Uma filha tola ensina a sua mãe como carregar as crianças.
  31. Há quarenta tipos de lunáticos, mas só um tipo de bom senso.
  32. Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama.
  33. Um pouco de chuva a cada dia enche os rios até transbordarem.
  34. Não chame a floresta que o abriga de selva.
  35. A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.
  36. Todos  reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.
  37. É mais fácil maldizer os homens do que instruí-los e melhorá-los.
  38. Quando a cólera ou o amor nos visitam a razão se despede.
  39. A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.
  40. Nada agrava mais a pobreza que a mania de querer parecer rico.
  41. É mais fácil refutar erros que descobrir verdades.
  42. A inveja de muitos anuncia o merecimento de alguns.
  43. Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.
  44. Quando o amor nos visita, a amizade despede-se.
  45. O velho teme o futuro e abriga-se no passado.
  46. Nenhum governo é bom para os homens maus.
  47. A covardia preserva frequentes vezes a vida.
  48. Ninguém dúvida tanto como aquele que mais sabe.
  49. A experiência que não dói pouca aproveita.
  50. O mundo floresce pela vida e renova-se pela morte.
  51. Pouco espírito inutiliza muito saber.
  52. Os ignorantes exageram sempre mais que os inteligentes.
  53. Ninguém mente tanto nem mais do que a História.
  54. A virtude remoça os velhos, o vício envelhece os moços.
  55. O homem de palavra é aquele que menos fala.
  56. Ninguém é grande homem em tudo e em todo tempo.
  57. Quem não confia em si, não merece a confiança dos outros.
  58. As virtudes são econômicas, mas os vícios dispendiosos.
  59. O roubo de milhões, enobrece os ladrões.
  60. O mal ou bem que fazemos aos outros reverte sobre nós acrescentado.
Mariano da Fonseca (1773-1848), político carioca com o título de Marquês de Maricá. 

Crédito da imagem: http://www.quemdisse.com.br/buscador.asp?key=mARQUES+DE+MARICA

A dormência


Um certo morador, numa altura, precisou fazer um roçado no contexto da mata virgem. Conquistar mais alguma área arável. As necessidades familiares aumentaram. A produção oferecia possibilidades de ganhos.
Este começou com o roçado da mata rala, derrubada dos troncos (volumosos), secamento da vegetação e daí a tradicional coivara/queimada. Procurou-se, de imediato, cultivar alguma abóbora, feijão e milho (alimento básico ao trato animal). O solo/terra, com a camada milenar do húmus, atendeu as farturas e necessidades de produção.
A surpresa ocorreu com os tipos de inços. Adveio, a semelhança “do pêlo do cachorro”, a conhecida/tradicional guaxuma. Centenas de milhares de mudinhas brotaram no interior do roçado. Surgiu uma pergunta crucial: Como poderia estar inçado dessa maneira?  Sementes de guaxuma numa floresta virgem? Algo inimaginável no ambiente agrícola! Uma planta, a capina, difícil de combater (antes do advento dos herbicidas).
O assunto foi tema das conversas informais na venda (armazém). Algum idoso escutou o explanado. Este, a partir da tradição oral, soube da resposta. O seu avó havia comentado uma história com seu pai, enquanto ele foi ouvinte. O relato fora o seguinte: um construtor de bancos/canoas, há aproximados cem anos (por volta de 1910), amarrava mulas no interior da mata virgem/floresta. Este construía barcaças junto aos volumosos troncos. Eles, a base de machadadas, viam-se derrubadas e usadas como matéria prima. Fazia-os, de preferência, junto aos troncos de timbaúva (tradicional alcunha de “orelha de macaco”). Instalava acampamento, por dias, na proporção do avanço dos trabalhos (de confecção dos artefatos). Poderia demorar-se semanas e, concluído os artigos, viam-se escoados, com carroça, na direção dos cursos fluviais (daí comercializados ou atendido algumas encomendas). Os bichos de montaria, como as tradicionais mulas, ficaram no aguardo do construtor/dono. Estes, no ínterim, defecavam as sementes em meios às fezes.
Estas, num estado de dormência, preservaram-se nestas décadas. Advieram, com o desmatamento, as condições próprias à fecundação. Ela, de imediato, tomou forma. Elas, no seu interior, suspeitam-se ostentar uma espécie de óleo natural. Explica-se a razão da tamanha longevidade. Um fato admirável no contexto do ciclo da vida. Esta encontra alguma forma de precaver-se/preservar-se. A natureza encontra alguma forma de resguardar as espécies contra um eventual extermínio.  Os pacatos colonos admiraram-se do vigor natural e instintos de autopreservação.
O indivíduo nunca pode subestimar os desígnios naturais. O Homem, em traços gerais, pensa conhecer os segredos da natureza. Esta, a todo instante, surpreende com indescritíveis dilemas e enigmas. A tradição oral é a forma como pacatos colonos preservam sua história. Os registros escritos tomam forma com os modernos meios de comunicação (Internet). Alguém, no meio comunitário, trata de ostentar e preservar determinada informação (sobre os muitos assuntos). “Deus escreve certo em linhas tortas”, por isso trata de resguardar seus tesouros naturais.

                                                                                                   Guido Lang
                                                                                   Livro "História das Colônias"
                                                                              (Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: https://www.fmcdireto.com.br/portal/manuais/infestantes_verao/files/assets/seo/page187.html