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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A diferença de medidas


   

     Uma certa família colonial (de Teutônia/RS), por herança, ganhou duas áreas de terras. Um patrimônio familiar, "conquistado e preservado a duras penas", necessitava duma destinação, pois tornou-se difícil mantê-las. Uma, afastada da outra, não dava para plantar com culturas anuais. A alternativa consistiu em colocar no Banco da Terra. Um forasteiro, das paragens da Serra Gaúcha, comprou-a para criar chácara no meio colonial.
     Os moradores, com o dinheiro/capital, compraram um terreno na cidade. A áreas adquiridas deram uns míseros metros quadrados. Precisou-se, das economias próprias, pegar valores com vistas de edificar a infraestrutura básica assim como atender as demandas da burocracia. Uns dispêndios, de forma imediata, de boa monta, enquanto também dava-se início as obras duma moradia. Somas, extraídas da agricultura familiar de subsistência, pararam na periferia urbana; financiaram casa (de aluguel) com vistas de produzir dividendos imobiliários (a cada final de mês).
     Alguns conhecidos, moradores tradicionais, admiraram-se do negócio. A família, por alguma centena de metros quadrados, deu uma propriedade inteira de oito hectares de área rural. Uma fazenda, em outras palavras, por “um punhadinho de espaço urbano”. Verifica-se a diferença acentuada de valores entre partes. O rural encontra-se costumeiramente subvalorizado diante do urbano. Os artigos e bens, do interior, defrontam-se com a depreciação em função de distâncias e localizações. A diferença de medidas, na proporção da proximidade de aglomerações maiores, assumem exorbitâncias em função de deslocamentos, desperdícios, encargos...
   Os coloniais, ao longo da colonização, defrontam-se com a subvalorização da produção. Estes carecem de poder de barganha para exigir/impôr preços. Predomina a velha lógica: “um não quer, o outro precisa”. Vende-se daí por qualquer preço a produção. As margens estreitas, entre custo e venda, não produz maiores sobras. Fica a dificuldade de criar dividendos para reinvestir na atividade primária. Uma diferença de pesos e medidas entre a compra e venda. Surge outra causa da evasão/migração campo - cidade. Os jovens enxergam a realidade paterna e “tratam de dar no pé”. O pior, nisso tudo, é que não se vislumbram perspectivas para reverter o quadro adverso. Governos estáveis precisam oferecer alimentos baratos à população.
  O colono historicamente mostrou-se a parte mais fraca nos negócios. Predomina a ideia: “plantar qualquer um sabe!” Propriedade rural produtiva, na atualidade, tornou-se sinônimo de microempresa.  
Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://ultradownloads.com.br/papel-de-parede/Bela-Paisagem-de-Campo/

Uma carta para você jovem


      

    Caro jovem! Quero que você me ouça (antes de me usar)! Quero que me conheça! Saiba quem sou! Quê faço! Como me comporto dentro das pessoas? Como você irá se sentir depois do meu contato, da minha ilusão...
    Eu não tenho nome certo, nem sobrenome. Sou batizado a toda hora e a todo instante por aqueles que me usam. Não tenho amigos, pois consigo destruir aqueles que se aproximam de mim. Quando não o faço completamente, deixo-os sem miolos,  coração e  pensamentos. Os que me tomam como companheiro, são aqueles de coração amargurado, abandonados pela sociedade. Os solitários procuram a fuga...
    Um dos meus contatos preferidos são as veias. Através delas eu consigo mergulhar em seu sangue. Este, em instantes, me levará a uma viagem pelo corpo. Atravesso membros e artérias, passo pelo seu sistema nervoso, deixando aí a minha marca.
    Enquanto eu passeio, você vive as ilusões. Através desse rio de sangue, eu consigo atingir o cérebro e, aí minha marca é mais forte, pois lá vou roubar o pensamento,  memória,  razão...
    Por fim, descerei até o coração e você saberá quem sou realmente. Aliás, nem haverá tempo para isso, pois já estarás morto.
    Pronto! Já lhe contei minha história. Se quiser minha ajuda, procura-me. Estou pronto para tirar sua paz, liberdade, vida...     
Atenciosamente, a droga.

(Obs.: Desconhece-se a autoria desse texto)

Crédito da imagem: http://www.alienado.net/droga-nas-escolas/