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terça-feira, 25 de setembro de 2012

O exército de trabalhadores anônimos


     

     O quente e úmido tomou conta do cenário colonial, quando todas as espécies entocadas criaram vida. A preocupação essencial consistia em viver o prazer de cada momento, porém cumprir uma sina. Esta relaciona-se a multiplicação, no que o sentido maior é a perpetuação das espécies. Aromas, através da floração das plantas, espalham-se pelos espaços, no que o exército anônimo fica adoidado.
    Falo das abelhas, sem momentos de folga, vão devassando os ambientes com vistas de avolumar material às colméias. Uma labuta acirrada, do clarear ao anoitecer, proporciona bilhões de vôos e sobrevôos entre comunidades e flores. Avoluma-se, em cada florzinha, proporções ínfimas de néctar, que em forma de mel, cera e própolis possibilitam a manutenção e a procriação da espécie. Os soldados com uma vida dedicada ao cumprimento da nobre missão.
     Os trabalhadores, na proporção das essências vegetais, nenhum espaço poupam para as visitas. Estes perpassam quaisquer ambientes e seres na medida de haver cheiros adocicados. Florestas, entre baixadas e encostas, encontram-se vasculhadas; lavouras, no contexto das áreas planas e pouco inclinadas, vem-se perpassadas flor por flor; jardins e pomares, nas proximidades das residências coloniais, ganham primazia das atenções... Alguns momentos ímpares, com floração excepcional dos citrus e pitangueiras como exemplo, levam os insetos a fazer uma cantoria grandiosa. Fala-se do zunido no momento da coleta do material, quando dias inteiros de chiados fazem-se ouvir.
     O ritmo de vida, após umas semanas, torna-se ensurdecedor com a enxameação. Comunidades dividem-se com vistas de procurar novos ares, no que algumas precursoras vêm-se destacadas para procurar um lugar próprio à moradia. Pesquisam-se os lugares para encontrar espaços ocos entre pedreiras e troncos, quando apicultores relaxaram na instalação de caixas-iscas. As famílias novas seguem a idêntica escola, que fora assimilada na comunidade original. Um trabalho ardoroso para começar do zero a nova família, que para muitas outras espécies serve de modelo de capricho, dedicação, organização e persistência ao trabalho. Hábitos milenares encontram-se repetidos até a exaustão do soldado anônimo.
     As abelhas, para o atento criador e observador, causam um fascínio e paixão pelo exemplo de vida como comunidade. Fazem os humanos, pela estrutura de organização social, entender a necessidade de aprender muito na sua passagem terrena. Os insetos, numa onipresença, sempre têm alguns representantes em qualquer canto e recanto do planeta.

Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)

Crédito da imagem: http://profhelena4e5ano.blogspot.com.br/2010/12/vida-das-abelhas-e-doce-mesmo.html

Um espetáculo ímpar


     

     Uma realidade ímpar ocorre em certos pátios coloniais, quando estes ostentam aves, angolistas, galinhas, gansos, marrecos, patos e perus que criam um cenário de aparente confusão e gritaria, que, a longas distâncias, são apreciados. Os alaridos num dia inteiro escorrem pela rotina colonial, quando o bicharedo faz sua festa parcial.
     O maior barulho advém das angolistas, que perpassam certos territórios demarcados continuamente. Quaisquer insetos vêm-se digeridos, quando poucos exemplares sobram da inconveniência. As aves, muito ariscas, continuamente largam alaridos crepitantes, no que instalou-se quaisquer desconfianças. O fato amplia-se com o número de aves, que adoram andar em bandos. A gritaria, entre baixadas e morros, pode ser ouvida numa localidade inteira.
     Poucas famílias ousam criá-las em função da impertinência. A criação dos filhotes mostra-se uma especialidade, quando na tenra idade, não podem com maior umidade. Alguma choca ganha a nobre incumbência de chocar e criar a ninhada, porque os próprios carecem da eficiência para concretizar o feito.   Os bichinhos identificam-se como da espécie das galinhas, no que, depois de certa idade, descobrem as diferenças. Adotaram as chocas como mãe, depois de grandes, quando um afeto mútuo tornou-se costumeiro. A localização, das ninhadas das aves, ostenta-se outra brincadeira entre o criador e as poedeiras. Elas buscam lugares entre moitas e roças, quando mantêm a maior discrição. Ninhadas, com até três dezenas de ovos, acabam achadas no ínterim das procuras. O segredo consiste em cuidar em determinados horários (das treze às dezesseis horas) quando põem neste interim. A inconveniência reside em degustar os brotos das culturas, quando causam prejuízos as lavouras de cereais e forragens. Os criadores relevam situações em função do espetáculo da sua presença, no que animam e enobrecem o cenário rural.
     Os humanos, no contexto rural, precisam de parcerias, quando a monotonia da rotina torna-se uma ilusão. O indivíduo ostenta-se dono do próprio tempo e livre no cenário produtivo, quando muitos, no contexto urbano, ignoram estas facetas existenciais.

Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)

Crédito da imagem: http://rs.quebarato.com.br/sao-sebastiao-do-cai/angolistas-ou-galinhas-d-angola__128990.html