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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O segredo do manejo


Uma certa criança, desde a tenra idade, assimilou detalhes da agricultura familiar diversificada de subsistência. Aprendeu, como membro colonial, diversas e singelas tarefas. Elas, depois de bem explicadas e mostradas na prática do exemplo, tornaram-se cedo uma necessidade e obrigação. Prevalecia, no seio doméstico, uns princípios básicos: “onde todos labutam, ninguém trabalha demais”; “quem quer viver, precisa produzir”; “a ocupação fortifica e enobrece o espírito”...
Uma concepção básica, em função da diversificada produção econômica, consistia com o manejo dos terneiros. Eles, de forma geral, apartados das vacas (mães precisaram uma atenção e trato diferenciado em função do fornecimento do leite). Eles, no contexto das instalações coloniais, ganhavam um espaço próprio (de manejo e permanência). Seres ingênuos e tenros, como em quaisquer espécies, merecem e precisam de carinhos e cuidados excepcionais.
A família, ao rebento, ensinou uma manha prática dos terneiros. Os animais, para serem conduzidos/mudados de lugares, não adiantava bater, empurrar, puxar... Os bichos, pelo instinto, empacavam/procuravam oferecer resistência. A habilidade, na condução, mostrava-se muito simples, porém num primeiro momento nem tão higiênico. O segredo consistia em dar algum dedo para eles lamberem/mamarem. Estes, em função da estratégia/mimo, corriam ou seguiam o condutor em quaisquer direções. O criador fazia a maior graça através do instinto animal. Uma aparente dificuldade tornara-se uma sã brincadeira.
O idêntico aplica-se aos relacionamentos humanos. O dom da hábil palavra, em qualquer direção, conduz ou direciona os semelhantes. Precisa-se conhecer unicamente os seus poderes. Estas, na prática, complementam-se com favores e gestos. O real poder encontra-se nos elogios das qualidades alheias. Conhecer e enaltecer o lado especial dos próximos (cada um tem o seu). Estes, nos momentos próprios, falam e revelam o fundo da alma.  As pessoas, dependendo do encanto, doam/entregam o mais íntimo de si. Elas, acrescido dos carinhos, procuram ser amadas e amar. Os vocábulos tem um poder infinito de aproximar e externar os sentimentos.
O comunicador precisa saber o encaixe certo/palavras próprias para os momentos respectivos. Este externa os desejos mais profundos e sinceros do espírito.  Ele enobrece e maravilha a alma alheia. O próximo precisa sentir-se alegre e feliz (com a injeção de ânimo e virtude). A lógica, com o silogismo, presta um serviço inestimável ao falante. Este conduz os próximos como o dedo conduz o animal.
Palavras tem um poder incrível de ajuda ou destruição. Quem explana, esquece as falas; quem ouve, grava certas afirmativas à vida. Sejamos em todos os momentos e situações um instrumento do amor e paz. Usemos o vocabulário próprio para os momentos impróprios.
                                                                                          
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:  maechegouvisita.blogspot. com

Palavras indígenas


       "Soube que pretendem colocar-nos numa reserva perto das montanhas. Não quero ficar nela. Gosto de vaguear pelas pradarias. Nelas sinto-me livre e feliz. Quando nos fixamos, ficamos pálidos e morremos. Pus de lado a minha lança, o arco e o escudo, mas sinto-me seguro junto deles. Disse-lhes a verdade. Não tenho pequenas mentiras ocultas em mim, mas não sei como são os comissários. São tão francos como eu? Há muito tempo, esta terra pertencia aos nossos antepassados. Mas, quando subo o rio, vejo acampamentos de soldados nas suas margens. Esses soldados cortam a minha madeira, matam o meu búfalo e, quando vejo isso, o meu coração parece partir-se. Fico triste… Será que o homem branco se tornou uma criança, que mata sem se importar, e não come o que matou? Quando os homens vermelhos matam a caça, é para que possam viver, e não morrer de fome.”  


(Satanta, dos Kiowas)

Crédito da imagem: www.josephfama.com