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sábado, 1 de junho de 2019

Os males do olho gordo

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Guido Lang

As localidades esporadicamente são sacudidas por novidades produtivas. Algum produtor introduz uma novidade técnica, que é copiada por demais agricultores na proporção do sucesso produtivo.
Órgãos governamentais, como exemplo a Emater e Secretaria Municipal da Agricultura, tratam de incentivar as inovações, o que ocorre através de uma assistência e orientação técnica.
As cooperativas e empresas, na proporção de seus interesses econômicos, auxiliam nas instruções, pois almejam encontrar uma maior produtividade para a propriedade minifundiária de subsistência.
Esta, em síntese, precisa tornar-se viável diante da massiva concorrência e produtividade das grandes lavouras comerciais, que se ajustam melhor ao jogo do sistema (com o emprego de abundante mecanização, fertilizantes, produtos químicos, sementes selecionadas...).
Um agricultor resolveu investir seus esparsos recursos financeiros na produção de hortigranjeiros. O sistema de estufas foi uma excepcional novidade, que despertou a atenção de diversas comunidades circunvizinhas.
Os comentários e expectativas foram imensas devido aos gastos e resultados produtivos. Amigos, conhecidos e vizinhos foram inteirar-se das construções e a metodologia do plantio das primeiras mudas.
Os primeiros resultados, o crescimento rápido das plantas, advieram, para alegria e satisfação do colono, depois de algumas semanas. Outros produtores pensaram na introdução das inovações, enquanto uns poucos despertaram para a inveja alheia.
O controle social, comum nas sociedades civilizadas, tomou forma, quando diversos semelhantes não conseguem ver com bons olhos o sucesso dos próximos. Um temporal, em forma de granizo e ventania, veio a danificar os plásticos e derrubar as construções.
O colono, diante da decepção e raiva, desabafou: “- O ‘olho grande’ (o olhar excessivo de alguns) trouxe maus presságios...”
O indivíduo não deve fazer alarde com as novidades, pois elas nem sempre dão certo. Os elogios e vantagens, contadas antes do tempo, não trazem boa sorte; convém fazer as coisas na maior discrição e prudência.

           (Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 45, de Guido Lang).

Crédito da imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Inveja