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domingo, 30 de junho de 2013

A incômoda interrogação



Algumas municipalidades, na época dos distritos, mantinham equipes de trabalho nas subprefeituras. Os munícipes, em função da enorme extensão territorial, careciam de serviços de qualidade e quantidade.
A secretaria de obras, nos interiores, não poderia atender as muitas e variadas emergências nas chuvaradas de inverno. A solução consistiu em improvisar melhorias e reparos com eventuais equipes de trabalho.
O subprefeito, como porta-voz direto do prefeito, controlava e fiscalizava os quadros. As linhas, em esporádicos momentos, ganhavam aberturas de desvios de água, colocações de saibro, mutirões tapa buracos, operações de roçados...
O resultado, em síntese com a coisa pública, consistia: “- Pouca produção para o número de funcionários” ou “um otário labutando e quatro espertalhões, em meio à animada conversação, apreciando o empenho individual na tarefa”.
Determinado subprefeito, diante da aparente inércia, resolveu fazer uma singela pergunta ao “grupo de insatisfeitos”. Eles, em função dos baixos ganhos, mantinham-se morosos e queixosos nas penosas e suadas tarefas braçais.
A interrogação, em forma de repreensão, consistiu: “Qual a diferença entre o capataz e o preá?” O bichinho, abundante e ágil, revelava-se morador das cercas de pedra e moitas de beira de estrada de chão batido.
O grupo comentou e pensou! Nenhuma resposta a contento! Algum aparente esperto teve a ousadia de afirmar da inexistência de qualquer relação. “O chefe encontra-se doido ou louco” foi o comentário generalizado.
A autoridade, na indefinição, concluiu: “- O preá sai correndo da estrada na proporção da achegada do chefe. O funcionário público, na proporção da chegada do responsável, pula da assombrada beirada via adentro (na aparência de estar e ter trabalhado)”.
O pessoal, diante do incômodo, careceu maiores conversações e gargalhadas. Os subalternos, no pleito vindouro, mostraram-se ferrenhos adversários e opositores!
Uns podem aparentar não saber, porém os fatos denunciam as práticas. A produção massiva consiste em trabalhar de forma contínua e hábil. Certas perguntas ousadas evitam a indisposição das respostas comprometedoras!
                                                                                
  Guido Lang
 “Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://impedimento.org

A paterna sobra


Um senhor, numa vida inteira, labutou para constituir família. Este pode ter esposa e filho. Os bens foram avolumados de forma morosa e suada!
Os anos transcorreram rápidos! A velhice achegou-se antes do imaginado! A esposa antecedeu a morte! O rebento constituiu família!
O cidadão, como pessoa idosa, viu-se isolado e sozinho neste grande e velho mundo! As parcerias novas, apesar das várias tentativas, não criaram raízes nos relacionamentos!
O filho, com a idade própria, arrumou sua “cara metade” (companhia feminina). Ela, na casa do sogro, adonou-se do espaço. Os reais donos pareciam marinetes!
A convivência, em poucos meses, revelou uma dura situação. O rebento tomou o partido da companheira. Esta, na alheia casa, fazia “sobrar o dono original”.
O senhor, agora ancião, via-se rejeitado na sua própria residência. Este sentia-se inconveniente e mal. A nora, numa tremenda indiferença, negava-se a conversar e travar relações.
O filho, diante da instigação e tomada de lado, vivia a reclamar e repreender. Dias difíceis e lamentáveis ocorriam depois duma laboriosa e pacata existência. As lamúrias e relatos, diante do adverso quadro, sucediam-se junto aos amigos e parceiros!
A desconsideração e descuido, com os genitores, revelam-se um problema social! Os filhos, em função dos compromissos e concorrências, carecem de interesse e vontade à convivência familiar original.
Muitos, na juventude, esquecem da situação de algum dia igualmente ficarem velhos. Certos tratamentos impróprios, em momentos e situações, tornam-se “pesos na consciência” durante a trajetória terrena. O mau exemplo familiar serve de cobrança e protótipo à descendência!
                                                                                                                                             
 Guido Lang
 “Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://rodopiou.com.br/?m=201208