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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A imitação das formigas


O filho das colônias, na qualidade de pacato produtor, alimentava acurado costume e método. A pele, na aspereza do clima subtropical, caía no sensível e tostado. A ascendência, no “inço importado da Europa”, requereu ajuste ao espaço. Os horários, no pique da insolação, ocorriam atalhados e resignados. As disposições, na manha da terra, incidiam na imitação das formigas. As tarefas, na ação da supervivência, sobrevinham nas iniciais horas (manhã) e finais (tarde) dos dias. Os horários amenos, na produção, eram empregados no interior do domínio. Os impróprios, no conjunto das instalações, eram utilizados nas prestezas manuais. O laborioso, na mediana manhã, avolumara ração do dia. Vários se conservaram no leito e o arrojado havia acumulado riqueza. A sorte, na ajuda divina, semelhava abençoar criatura. O adágio ratifica: “Deus ajuda a que cedo madruga” ou “Ajuda a quem se ajuda”.

Guido Lang
“Fragmentos de Sabedoria”

Crédito da imagem: http://ciencia.hsw.uol.com.br/

O Recanto dos Mucker


A extensão, na atual Boa vista Fundos/Teutônia/RS, correspondia a partes das Picadas Catarina e Boa Vista (na então Colônia Teutônia). A linha, no afluxo de povoadores da Colônia Alemã de São Leopoldo, recebeu peculiar vulgo. O Recanto dos Mucker, nas conversas informais, ligava-se aos boatos e linhagem dos desbravadores.
Os pioneiros, nas pessoas de Jacob Lang, Friedrich Kussler, Adolph Eggers, Jacob Dockhorn, cultivaram amizade e granjeada influência. O pastor leigo João Jorge Klein, na atuação na Picada Café e Picada Quarenta e Oito/Colônia Alemã de São Leopoldo, tornou-se posterior “mentor intelectual” do movimento da Jacobina Mentz e João Jorge Maurer (líderes).
O religioso, na condição de ativo e bom pregador, intrigava membros e residentes. As famílias, no vislumbre da iminente tragédia no Episódio ou Movimento dos Mucker (1874), trataram de comerciar lotes e procurar novas paragens. Os morros, no elevado e excessivo (Picada Café), formaram outro ensejo do abandono e transferência aos novos ares.
A Boa Vista Fundos, em 1872, mostrou-se a terra prometida. O solo fértil, no baixo aclive e preto, fora chamado e encanto. A cobertura, em exuberante mata, conferiu-se sinal da ardente fecundidade. As belas referências, na possessão particular, externaram chamarisco e negócio. A Colônia Teutônia, numa década de ocupação, viu-se uma pérola da conquista.
As encanecidas discórdias, na essência das migrações, foram trazidas as novas paragens. A história, no estilo das moradias, tratava de ausentar porta frontal. As casas, nos solares, advinham na saída lateral. O jeito, na versão das más línguas, externava passados obscuros. O duelo, na aceitação ou rejeição (Mucker), exaltava discursões e dividia opiniões.
Os coloniais, na ascendência e artifício do Hunsrück/Renânia, nutriam distinção. As famílias adorariam serem donas do oportuno bem e nariz. A morada, no cercado da aturada vegetação, mantinha-se idolatria e sinal. A paisagem, no pátio e propriedade, assinala abundância de mato. A apreensão e ofício, na essência, residem na comunidade e existência.
Os residentes, na herança, realimentam conversas e divergências entre clãs. As intrigas, no habitual, ligam-se as contendas de águas, caminhos, cobiças, concursos, criações, divisas, espólios... As mazelas, no incrustado do humano, delineiam-se nas artes e convivências. Muitos rurais, no anseio e fortuna, emanam como se fossem viver na imortalidade.

(Guido Lang, Fragmentos da História Colonial, dez/2015).

Crédito da imagem: http://gilneiandrade2.blogspot.com.br/