Translate

sábado, 28 de julho de 2012

OS JUROS

"Os juros nunca dormem nem ficam doentes ou morrem; nunca vão para o hospital; trabalham durante domingos e feriados; nunca saem de férias; nuca fazem visitas ou viajam; não tiram tempo para lazer; nunca ficam sem trabalho nem ficam desempregados. Uma vez em débito, os juros são seus companheiros a cada minuto do dia ou da noite; não há como evitá-los nem deles fugir; não se pode ignorá-los e sempre que com eles falhar em atender as suas exigências, eles o esmagarão."

J. Reuben Clark Jr.
Educador
A HISTÓRIA E OS MISTÉRIOS DA CEGONHA


A procedência dos nenês era envolvida num quadro de mistério, quando os avôs e pais não nos contaram da sua origem a partir de um ato de amor. Os familiares, até a década de 60 do século XX, reafirmavam a velha história de que as cegonhas eram as responsáveis de trazer os maninhos. A criançada, em momentos, chegavam a sonhar com as aves, que, numas oportunidades, seriam vistas trazendo uma encomenda. A elucidação da lenda adveio com a liberalidade sexual, quando os meios de comunicação, trouxeram cenas de sexo explícitas. As famílias tradicionais, até então, procuravam abafar a curiosidade sexual da criançada, que aceitava, a semelhança do Coelhinho e Papai Noel, histórias do gênero.
A criançada, dentro da curiosidade natural, fazia interrogações referentes a origem dos maninhos. Os genitores, nestes instantes, deparavam-se com enormes dificuldades de apresentar uma resposta convincente, pois não se queria contar o fato da necessidade do ato sexual. Este daria margem a novas interrogações que pudessem acentuar as dúvidas do mito sexual. A história da cegonha, como responsável de atender encomendas, ganhava sua função social.
As comunidades germânicas, de maneira geral bastante conservadoras e discretas em questões ligadas ao sexo, tratavam de narrar a história. A tradição oral, de longa data, vinha atribuindo as aves a sublime tarefa de trazer os nenês. Estas, depois de uma encomenda, tinham a necessidade de providenciar o pedido; o atendimento do solicitado fazia-se, no máximo, num período de sete a nove meses. A encomenda de maninhos poderia ser efetuado unicamente pela mamãe e o papai, nalguma  aurora ou calada da noite, no qual os filhos tivessem dormindo. Estes rebentos, no máximo, poderiam solicitar um maninho (irmão) aos pais, mas jamais teriam acesso a cegonha; as suas encomendas poderiam-se concretizar unicamente na fase adulta, quando a ave daria-se o trabalho de escutá-los no solicitado.
As genitoras procuravam, em meio a graça da encomenda, esconder ao máximo o volume da barriga. Os filhos maiores, na sua santa ingenuidade, inúmeras vezes nem desconfiavam das alterações maternas, que advinham com a gravidez. Estes encontravam-se fixados naquela explicação ou ideia da cegonha, que traria os novos seres. As mães, no dia derradeiro da encomenda, procuravam ausentar-se da residência familiar, quando, no hospital ou parteira, iriam apanhar a almejada encomenda. Os filhos, diante da visita do médico ou parteira, recebiam a tarefa de dar uma passeada na moradia dos avôs e das dindas, enquanto, no intervalo de tempo, alguma ave misteriosa satisfazia a tão almejada encomenda.
Algum maninho gordo era uma encomenda pesada, que não poderia ser efetuada a qualquer ave do bando. Este pedido necessitaria ser efetuado a uma cegonha experiente e grande, que tivesse tido bastante prática na arte de concretizar pedidos. A dificuldade maior, em meio a acentuadas e pesadas tarefas dos trabalhos rurais, era conseguir escolher um nenê gordo e grande, pois os pais deparavam-se com dificuldades de contatar com alguma afamada. Esta, na maioria dos casos, vivia atarefada, quando, em maio a realidade colonial e desconhecimento da televisão, não "brincava em serviço". As famílias, a semelhança dos degraus de uma escada, viviam fazendo pedidos de encomenda, até a década de quarenta, fazia-se, numa média, a cada dois ou três anos. Os lares, em diversos exemplos, tinham tido de dez a quinze encomendas, que era um "trabalho para não colocar defeito".
As cegonhas traziam os nenês nus, que unicamente vinham enrolados numa tira de pano ao redor da barriga. O sexo, de imediato, salientava-se, pois numa sociedade machista e patriarcal, adorava-se encomendas masculinas. O sobrenome familiar necessitaria ser preservado, porque era algo de herança e orgulho de gerações familiares. As encomendas eram buscadas nos confins da terra, no qual praticamente o acesso humano seria impossível e inviável. A espécie de aves somente dominava o mistério da "matriz da fábrica", que era uma obra divina. Estas, no entanto, ignoravam também os enigmas da fabricação, que era uma tarefa afinada com os segredos da vida.
As aves, no entanto, recebiam séria advertência, quando apanhassem a mercadoria. A encomenda necessitaria apresentar semelhança com a aparência dos encomendadores, que, desta forma, evitariam posteriores aborrecimentos, conversas e discórdias. Os familiares e vizinhança, em meio a alemoada generalizada, iriam estranhar uma encomenda de uma criança de etnia diversa; alguma cor amarelada, morena ou vermelha, seria um falatório, que estenderia-se durante décadas e gerações. A confusão estaria criada, porque "os comentários correriam o mundo". O equívoco poderia gerar controvérsias e infelicidades, que acabariam destruindo a "harmonia familiar e o orgulho do sobrenome". Os cuidados familiares, em decorrência, eram criteriosos nos momentos da encomenda; acentuava-se, em relação a esposas e filhos, na medida da presença de peões e vizinhança, que tinham a fama de garanhões. Os equívocos, em casos esporádicos, poderiam-se revelar em anos posteriores, quando a encomenda tinha sido recebida a longa data. Os traços fisionômicos do maninho (irmão) ou rebento assumiam semelhança com algum conhecido e, portanto, distancia-se do pai criador. Uma boataria, confusão e mistério tinha-se criado, que seria uma amálgama familiar.
As cegonhas, em função da sua árdua e sublime tarefa, recebiam uma admiração especial no meio rural. As crianças tinham o cuidado de não afugentá-las ou caçá-las em meio as suas necessidades de procurar alimentação. Elas tinham plena liberdade de ciscar nos arroios e banhados, com vistas de assegurar sua sobrevivência. O seu ato de voar era motivo de beleza e elegância, que causava um espetáculo aos olhos do apreciador. Esta majestude constituía-se num dom e graça divina, que lhes auxiliou a receber a incumbência de trazer os nenês. A exuberância da sua plumagem igualmente inspirava grandeza e magnitude. O tamanho do bico salientava a função de assegurar a encomenda, que jamais poderia escapolir das alturas.

Guido Lang
Histórias Coloniais - Parte 42
Jornal O Informativo de Teutônia, p.04
06 de março de 1996

Crédito da imagem: http://www.brasilescola.com/curiosidades/origem-da-lenda-da-cegonha.htm