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segunda-feira, 9 de julho de 2012

PENSAMENTO

"Vê-des o homem diligente escrevendo sobre a sua escrivaninha, pois saibas que ele viverá por incontáveis séculos".

Júlio Lang
 A SERENA PASSAGEM PARA O ALÉM


A doença e a morte são um flagelo da humanidade que, em quaisquer sociedades, reúne entes queridos ao redor dos enfermos. O meio colonial não fugiu à regra, pois quaisquer enfermidades mais graves eram causa de comentários e preocupações generalizadas.
A notícia da doença cedo difundia-se entre os moradores e amigos e vizinhos auxiliavam a família nas dificuldades e promoviam visitas. Um moribundo reunia familiares e religiosos, ocasião em que se ministrava a Santa Ceia "nos momentos últimos" daquela existência.
A família, como pais e rebentos, promovia uma reunião final, na qual procurava-se conviver os instantes finais com aquele agonizante.
Sucedeu-se, numa oportunidade, o encontro final dum clã rural, quando o patriarca encontrava-se no leito de morte. O cidadão estava passando da dimensão terrena para a eterna, pois o bom cristão acredita piamente na ressurreição. Uma filha, moradora a quilômetros de distância do solar familiar, atrasou-se para o encontro da Ceia e chegou chamando pelo moribundo.
Esta, em meio ao desespero da situação, gritou pelo nome do "quase finado", com o que interrompeu e atrapalhou a "serena passagem para o além".
O moribundo, conforme relato destes familiares, narrou sua experiência de viagem ao outro mundo, quando viu-se interrompido da jornada. Ele, depois de mais dois dias de vida, reclamou do procedimento, porque atrapalhou tremendamente a sua sossegada morte.
O ancião narrou sua odisseia; tinha sido buscado por anjos. Estes teriam-no conduzido, numa tranquila viagem, em direção a um lugar extremamente belo, luminoso e quieto, que trouxe vontade de permanecer e curtir.
As pessoas, com ensinamento e sabedoria, não devem chamar pelo nome dos moribundos quando estes tomam a direção da vida eterna. Estes precisam ser deixados em paz com o objetivo de alcançarem um sereno procedimento. A vida eterna parece ser uma passagem para uma existência mais fecunda.


(Trecho extraído de "Contos do Cotidiano Colonial: Coletânea de Textos" de GUIDO LANG).


Crédito da imagem: http://auribertoeternochocalheiro.blogspot.com.br/2010/06/surge-uma-luz-no-fim-do-tunel.html