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domingo, 2 de setembro de 2012

O ostracismo da tradição oral


     As famílias, no contexto do trabalho rural e convivência familiar, mantinham um excepcional hábito. Os membros, no ínterim da labuta, mantinham a prática da conversação quando ensinava-se e falava-se dos assuntos mais diversificados e variados. A conversação informal incluía a riqueza da memória e tradição oral, quando crônicas familiares, histórias locais, vivências em geral, eram repassadas nos diálogos. Os jovens, junto com pais e avôs, assimilavam a rica cultura imaterial, que advinha dos acontecimentos da Europa junto às novas experiências da América. Uma cultura germânica com a mescla do conhecimento local direcionava-se a formação de uma civilização autóctone (teuto-brasileira). Viveu-se desta forma nas primeiras gerações de colonização.
     Os “ventos da modernidade” trouxeram um melhoramento das tecnologias quando elevou-se a qualidade de vida; estradas de rodagem cortaram os muitos cenários; informações generalizadas tomaram vulto; artefatos inimagináveis invadiram os lares; ocorreram migrações massivas na direção das cidades; rebentos tomaram o rumo dos educandários; opções de lazeres multiplicaram-se... Adveio o apogeu dos celulares e computadores, num aparente golpe fatal, sobre a conversação informal, quando famílias pouco narram das crônicas e histórias dos ancestrais e familiares.
     Instalou-se daí uma carência, que, lá diante, na ausência das velhas estirpes, acabará refletida no empobrecimento cultural. Filhos e netos manterão certas dúvidas e interrogações que não poderão ser preenchidas por falta de convivência. Convive-se na atualidade com o descaso do saber destas informações, porque têm-se atrativos eletrônicos bem mais interessantes. Fica aquela ideia: quem ainda perde tempo escutando histórias e vivências do passado (do “tempo do epa”). O acúmulo de experiências e relatos, numa tradição oral de gerações e séculos, caí no desleixo, quando com ela desfaz-se um modo de vida/civilização.
     Entra aí a importância de deixar registros escritos, no qual, em letras e fotografias, deixamos testemunhos. Os eventuais interessados nas histórias imateriais dos antepassados possam-se encontrar documentos/textos que façam compreender o modelo de vida colonial. Uma rica história, com cultura a margem da mídia comercial, carente de apontamentos dos acontecimentos do quotidiano, que retratam o trato com a terra, o manejo com animais, sabedoria acumulada no tempo, relatos deixados pelos ancestrais... Procuramos, como historiadores e moradores das colônias, deixar registros, no qual a tradição oral/imaterial ganha registros da sua ímpar riqueza cultural.

Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"