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sábado, 27 de abril de 2013

O pobre e o rico


Sentado na sua banqueta ficava todo o dia um sapateiro a trabalhar e a cantar. Defronte dele morava um opulento e rico banqueiro, que em nada achava divertimento. Insípido aborrecimento por toda parte o acompanhava.
- Que perseguição a em que vivo! - Exclamava entre bocejos. - Dinheiro tenho de sobra, o gasto a rodo, frequento todas as festas e diversões, e os dias pesam-me! Ainda mais me pesam as noites! Como conseguirei matar estas inoportunas horas que me matam! Quão feliz é o meu vizinho sapateiro! Desde que rompe o dia até que anoitece, ei-lo a rir, a cantar e assobiar. À noite o maior sossego reina em sua casa, às vezes até mesmo o ouço roncar! Quero saber que receita usa.
Mandou chamar o sapateiro:
- Caro mestre sapateiro! Vejo sempre o senhor alegre e bem disposto. Ora diga-me, como faz para assim conservar-se: quanto ganha por ano?
E o sapateiro respondeu:
- Por ano! Meu senhor, não zombe da gente; pois nós lá sabemos quanto ganhamos. Vamos remando e vivendo cada dia com o lucro da véspera, e contanto que haja saúde, e não falte o que fazer, não falte pão; o que mais podemos querer?
- Se com tão pouco está feliz, quero vê-lo felicíssimo. Pegue aqui este saco de ouro, agora é seu! - Disse o ricaço dando-lhe um saco repleto de ouro como presente.
O sapateiro desfez-se em agradecimentos. Levou para casa o ouro, contou, repartiu pelos anos que esperava viver; era de sobra. Procurou um esconderijo em que o guardasse, e de contínuo inquieto ia vê-lo. Não o achava bem guardado; mudava-o de esconderijo. A tudo temia; tudo aparentava ser ladrão. Ao cabo de um mês, já amarelo, magro, triste, teve uma boa lembrança. Agarra no saco de ouro e vai à casa do vizinho.
- Tome lá, meu senhor, o seu saco de ouro! – Exclama. - Quero ver se recobro o meu sono e as minhas cantigas.

Moral da história:
O acúmulo de riquezas traz acúmulos de dores de cabeça.

                    Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                  Crédito da imagem: http://ieshekinah.spaceblog.com.br

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