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domingo, 5 de maio de 2019

A serena passagem para o Além

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Guido Lang

A doença e morte são um flagelo da humanidade que, em quaisquer sociedades, reúnem entes queridos ao redor dos enfermos. O meio colonial não fugiu à regra, pois quaisquer enfermidades mais graves eram causa de comentários e preocupações generalizadas.
A notícia da doença cedo difundiu-se entre os moradores. Amigos e vizinhos auxiliavam a família nas dificuldades e promoviam visitas. Um moribundo reunia familiares e religiosos, ocasião em que se ministrava a Santa Ceia nos “momentos últimos” daquela existência.
A família, como pais e rebentos, promovia uma reunião final, na qual procurava-se conviver os instantes finais com aquele agonizante.
Sucedeu-se, numa oportunidade, o encontro final dum clã rural, quando o patriarca encontrava-se no leito de morte. O cidadão estava passando da dimensão terrena para a eterna, pois o bom cristão acredita piamente na ressurreição. Uma filha, moradora a quilômetros de distância do solar familiar, atrasou-se para o encontro da Ceia e chegou chamando pelo moribundo.
Esta, em meio ao desespero da situação, gritou pelo nome do “quase finado”, com o que interrompeu e atrapalhou a “serena viagem para o Além”.
O moribundo, conforme o relato deste aos familiares, narrou sua experiência de viagem ao outro mundo, quando viu-se interrompido da jornada. Ele, depois de mais dois dias de vida, reclamou do procedimento, porque atrapalhou tremendamente a sua sossegada morte.
O ancião narrou sua odisseia: tinha sido buscado por anjos. Estes teriam-no conduzido, numa tranquila viagem, em direção a um lugar extremamente belo, luminoso e quieto, que trouxe a vontade de permanecer e curtir.
As pessoas, com ensinamento e sabedoria, não devem chamar pelo nome dos moribundos quando estes tomam a direção da vida eterna. Estes precisam ser deixados em paz com o objetivo de alcançarem um sereno perecimento. A vida eterna parece ser uma passagem para uma existência mais fecunda.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 56, de Guido Lang).


Crédito da imagem: https://www.iquilibrio.com