Translate

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Desiderata


     "Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa,  lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.
    Tanto quanto possível sem humilhar-se, mantenha-se em harmonia com todos que o cercam.
     Fale a sua verdade, clara e mansamente.
     Escute a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história.
     Evite as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito.
    Não se compare aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores a você: isso o tornaria superficial e amargo.
     Viva intensamente os seus ideais e o que você já conseguiu realizar.
    Mantenha o interesse no seu trabalho, por mais humilde que seja,ele é um verdadeiro tesouro na continua mudança dos tempos.
     Seja prudente em tudo o que fizer, porque o mundo está cheio de armadilhas.
     Mas não fique cego para o bem que sempre existe.
     Em toda parte, a vida está cheia de heroísmo.
     Seja você mesmo.
     Sobretudo, não simule afeição e não transforme o amor numa brincadeira, pois, no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva.
    Aceite, com carinho, o conselho dos mais velhos e seja compreensivo com os impulsos inovadores da juventude.
    Cultive a força do espírito e você estará preparado para enfrentar as surpresas da sorte adversa.
     Não se desespere com perigos imaginários: muitos temores têm sua origem no cansaço e na solidão.
     Ao lado de uma sadia disciplina conserve, para consigo mesmo, uma imensa bondade.
    Você é filho do universo, irmão das estrelas e árvores, você merece estar aqui e, mesmo se você não pode perceber, a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.
     Procure, pois, estar em paz com Deus, seja qual for o nome que você lhe der.
    No meio do seu trabalho e nas aspirações, na fatigante jornada pela vida, conserve, no mais profundo do seu ser, a harmonia e a paz.
     Acima de toda mesquinhez, falsidade e desengano, o mundo ainda é bonito.
     Caminhe com cuidado, faça tudo para ser feliz e partilhe com os outros a sua felicidade".

Por Max Ehrmann (1872-1946)

Crédito da imagem: http://gruporefugioeterno.blogspot.com.br/p/imagens-lindas-natureza.html

Deus

     

     Passei tanto tempo Te procurando
     Não sabia onde estavas, olhava para o infinito, não Te via
     E pensava comigo mesmo, será que Tu existes?
     Não me contentava na busca e prosseguia,
     Tentava Te encontrar nas religiões e nos templos
     Tu também não estavas.
     Te busquei através dos sacerdotes e pastores,
     Também não Te encontrei
     Senti-me só, vazio, desesperado e descri.
     E na desgraça Te ofendi,
     E na ofensa Te tropecei,
     E no tropeço caí,
     E na queda senti-me fraco
     Fraco procurei socorro
     No socorro encontrei amigos
     Nos amigos encontrei carinho
     No carinho eu vi nascer o amor
     Com amor eu vi um mundo novo.
     E no mundo novo resolvi viver
    O que recebi, resolvi doar
    Doando alguma coisa muito recebi
    E recebendo senti-me feliz
    E ao ser feliz, encontrei a paz
    E tendo paz foi que enxerguei
   Que dentro de mim é que Tu estavas
   E sem procurar-Te
   Foi que Te encontrei.

Autor Desconhecido
Poesia

Crédito da imagem: http://cadeaminhavida.blogspot.com.br/2012/04/sem-deus.html

Steve Jobs


Steve Jobs Picture

Você tem que encontrar o que ama

     Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.
     A primeira história é sobre ligar os pontos.
    Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais 18 meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina.
     Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: “Apareceu um garoto. Vocês o querem?” Eles disseram: “É claro.”
     Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de seis meses, eu não podia ver valor naquilo.
     Eu não tinha ideia do que queria fazer na minha vida e menos ideia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria ok.
     Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo.
     Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada pôster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.
     Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse.
      Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.
    De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.
     Minha segunda história é sobre amor e perda.
    Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação — o Macintosh — e eu tinha 30 anos.
    E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses.
      Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Peckard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício].
      Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa.
       A Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple.
      E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple.
      Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama.
      Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz.
    Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.
      Minha terceira história é sobre morte.
    Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.
      Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
      Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.
     Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h 30min da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas.
       Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de três a seis semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas — que é o código dos médicos para “preparar para morrer”. Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus.
Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem.
       Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá.
      Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.
       O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.
      Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
      Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.
     E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.
Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid.
     Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês.
    Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras:
     “Continue com fome, continue bobo.”
      Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês.        Continuem com fome. Continuem bobos.
      Obrigado.

Steve Jobs (1955-2011)

Uma domesticação ímpar


    

     Algumas famílias, ao longo da história da colonização, têm a presença de espécies caixotes que escondem o abrigo de mirins e jatais. Eles, por algum passatempo, viram-se encaixotados quando ostentam-se uma apreciação a mais nos pátios coloniais. Estas abelhas, sem ferrão, vêm-se instaladas nalgum espaço abrigado do vento sul/minuano assim como de fácil observação. Alguns enxames, pela companhia aos moradores, somam-se de décadas de convivência, quando bem abrigados, em caixas de madeira de lei, encontram-se preservados da umidade.
     Os mirins e jatais mantêm uma nobre missão de auxiliar na polinização das flores, no qual as abelhas maiores de ferrão, encontram dificuldades. O escasso volume de mel, de forma esporádica, tem sido extraído a título de curiosidade e produto medicinal. A própolis como instrumento de combate a viroses na proporção de estar preparado em álcool ou cachaça. A cera como instrumento de capturar outros enxames, como garrafas pet cobertas de lona preta, para ampliar o número de colméias.
     O ambiente quente e úmido leva a sua agitação, quando dias inteiros sobrevoam o espaço colonial. Pode-se apreciar, num ínterim das tarefas caseiras, sua labuta, quando, aos humanos, ostentam-se um modelo de organização e trabalho. Diversas comunidades, a título de ornamentação, podem abrigar-se em caixas, madeiras e pedras. Visitas, na primeira oportunidade, costumam externar opiniões ou processar interrogações sobre os minúsculos insetos. Uns, como jatais amarelos, são chamados de “alemãozinhos” em função da sua coloração e espírito de trabalho. Interessados na aquisição do mel como remédio não faltam assim como compradores esporádicos de colméias. A preferências desses insetos recaí sobre a floração do funcho e da salsa, quando as centenas invadem os espaços cultivados.
      Os insetos, no âmbito das colônias, integram o conjunto das singelas maravilhas dos pátios coloniais, no qual somam-se o cultivo de plantas ornamentais. Procuram realizar sua nobre função, da polinização, quando convivem na harmonia com os humanos. A criançada, ao longo da colonização, tem brincado no encaixotamento destas comunidades, quando, em função da ausência de ferrão, são de fácil manejo. Inúmeras são as histórias desta domesticação.
     As energias boas, no ambiente colonial, costumam harmonizar-se na aspiração de um completar a alegria de outrem. Diversidade de vida costuma ser sinônimo de qualidade e riqueza ambiental.
                                                                      
Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)

Crédito da imagem: http://abelhasdobrasil.blogspot.com.br/2012/02/as-lindas-abelhas-jatais.html