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domingo, 19 de abril de 2015

O infeliz acaso


A beltrana, nos bons tempos, erigiu sólida estirpe. Os brotos, na lavoura familiar de subsistência, foram gerados e educados nas duras penas. A faina, na energia dos dias, incidiu no tenebroso e volumoso. Os anos, na dureza da vivência, adentraram transformações.
O cônjuge, em maior data, adiantou o rumo do precoce repouso. Os rebentos, nas criadas estirpes, atentaram granjear bens e vivenciar dias. A aposentadoria, na boa gerência, mostrou-se o meio do alento. O expediente, no desamparo manso, volveu-se no infeliz acaso.
A migração (campo-cidade), no peso das épocas, adveio no desenlace dos tempos. A ocorrência, no clássico dos dias, ocorria no epílogo das jornadas. O crepúsculo, no horário habitual do chimarrão/mate, instituía agonia e lamúria. As lembranças caíam na memória.
O isolamento, na deficiência de companhia, acontecia no açoite e agonia. Os achegados, em filhos e netos, caíam na indiferença. A circunvizinhança, no clima urbano, vive nos oportunos arranjos. A televisão, na medíocre programação, fenecia em rechear o vácuo.
O tempo, no avanço da idade, perdeu o encanto e sabor. Os eventos, em bailes (terceira idade), caíam na parca convivência. A solução, nos finais dias, consistia em vivenciar os módicos prazeres. O acaso, de um ou outro jeito, encarrega-se de cravar peças e ultrajes.
O sujeito, na trajetória da existência, costuma carregar algum calvário. Os tempos, na mocidade, incidem na festança e, na velhice, no martírio.

Guido Lang
“Singelas Crônicas das Vivências”

Crédito da imagem: http://www.opticamirim.com.br/