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domingo, 26 de maio de 2019

As brilhantes águas do riacho

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Guido Lang

As águas calmas e límpidas de um córrego cortavam uma pacata comunidade colonial. Um colorido original, proveniente das pedras cristalinas, vinha do fundo daquelas águas, que assumiam inúmeras cores.
O avermelhado, azulado, esverdeado, como exemplo, chamavam a atenção dos forasteiros e moradores, porque este excepcional cenário geográfico parecia esconder algum valor monetário.
Diversas pessoas, com a “cabeça virada”, em relação ao enriquecimento fácil, visitavam aquelas paragens com o intuito de extrair alguma riqueza mineral. As visitas sucediam-se, principalmente, nos feriados e finais de semana, quando eles peneiravam as águas e o solo daquele riacho. Muitos, sob o argumento da pescaria, andavam, às margens daquele curso fluvial, com o objetivo de achar e levar algumas amostras daquelas rochas.
Outros, protegidos pelo mato das periferias, escondiam-se em meio à vegetação com a finalidade de não “cair na gozação comunitária”. Alguns caçavam nas circunvizinhanças do escorredor natural, mas ficavam antenados com eventuais achados de pedras.
Inúmeros “garimpeiros”, esporadicamente, procuravam os estudiosos de minerais e compradores de pedras preciosas com o desejo de oferecer amostras. Estes, de antemão, conheciam a origem daquele material, que era proveniente do lento resfriamento da lava vulcânica.
Um industrial, com intenção de confeccionar bijuterias e jóias, ofereceu alguns centavos pelos exemplares catados no leito daquele regato, no entanto, não pagava o pesado ônus da extração.
 Os seres humanos, fascinados pelos diamantes, esmeraldas e ouro, parecem nunca assimilar a lição do insumo da garimpagem. Diversos elementos, cedo ou tarde, caem na mesmice rotineira do enriquecimento fácil da extração de mineirais.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 54, de Guido Lang).

Crédito da imagem: https://www.youtube.com

domingo, 19 de maio de 2019

O chamado do velho índio

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Guido Lang

      O povo brasileiro tem muitas crendices e superstições, que refletem o quadro da miscelânea cultural. Inúmeras histórias são narradas de boca em boca, mas dificilmente ganham uma redação. O povo humilde dificilmente se dá o tempo e o trabalho de elaborar escritos, que descrevem a sua rica vivência.
          Uma modesta família colonial tinha um pedacinho de terra próxima a um riacho, onde havia uma árvore centenária. A mulher, com frequência, ia ao córrego com o objetivo de lavar roupas, porque não existia encanamento de água na residência. Inúmeras idas e vindas faziam-se ao longo dum ano de penosa labuta.
            A mulher, numa tarde, ouviu uma voz, que saía do fundo daquela terra, próxima do centenário vegetal. Esta, num primeiro instante, pensou tratar-se de alguém conhecido, mas olhou pelas redondezas e nada viu. Procurou prestar mais atenção em relação à procedência daquele chamado, que, vindo do solo, assustou-a tremendamente.
         Esta, em meio aos temores, atendeu ao chamado, que dizia tratar-se de um indígena.
            Um velho pajé, com a função de feiticeiro, profeta e sacerdote, tinha sido enterrado há décadas naquele espaço, mas sua alma ainda perambulava pelas redondezas daquele cemitério nativo.
           A mulher achou tratar-se de um comunicado sobre a existência de tesouros.
            As escavações, em poucos dias, iniciaram, mas não encontraram nada de valioso.
          A família, por causa do trabalho, mudou-se para a cidade e os moradores do local acharam que esta tinha encontrado a ambicionada fortuna.
           A coincidência de mudança tinha criado mais um conto colonial, no qual mesclam-se fatos concretos e imaginários.
         Os seres humanos possuem mente fértil quando se trata de riquezas, pois histórias não faltam nas conversas informais sobre enriquecimentos.
          Os próximos parecem ganhar sempre mais fácil o dinheiro do que a gente.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 19, de Guido Lang).


Crédito da imagem: http://caminhos-labirintos.blogspot.com

domingo, 12 de maio de 2019

O baú de moedas

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Guido Lang

   Wilhelm, como a maioria dos colonos, era um pacato cidadão, que dedicou a vida à família e à atividade rural. Ele, como quase todos os filhos de imigrantes alemães, não teve maiores chances de escolher uma profissão liberal e de serviços, pois careceu de maiores oportunidades para prosseguir nos estudos.
    As dificuldades monetárias mostravam-se constantes na infância: os pais ostentavam posses, mas careciam de divisas financeiras. Os genitores vieram à América com uma “mão na frente e outra atrás”, praticamente não trouxeram bens. O clima, o solo e o sistema de culturas necessitavam ser assimilados e o trabalho estendia-se de segundas a sábados. As folgas, no máximo, ocorriam aos domingos e feriados excepcionais. O cidadão, naquele mundo, assimilava, desde tenra idade, a filosofia de poupador e trabalhador, pois a prosperidade e o sucesso econômico poderiam decorrer unicamente do suor da labuta e de muita economia.
     O colono, na vida adulta, veio a constituir família e continuou as atividades assimiladas dos ancestrais. A prosperidade herdada dos pais e uma bela moradia foi edificada com os dividendos auferidos das criações e plantações. Os filhos cedo vieram e reforçaram, na medida do crescimento, a força braçal familiar. Estes, num primeiro momento, pareciam refazer a trajetória paterna que era de nascer, crescer, casar, multiplicar-se e morrer, naquela realidade existencial.
     Wilhelm, com a passagem dos anos, procurou fazer uma economia particular, com vistas a proteger-se dos infortúnios da velhice. Ele, conhecendo o lastro ouro e prata da moeda nacional (no período monárquico e primórdios da República), procurou avolumar um punhado destes metais. As divisas metálicas, durante algumas décadas, foram cuidadosamente juntadas e guardadas no baú familiar. O numerário veio a somar diversos quilos, que seriam a garantia diante dos azares da existência.
    O morador, num dia destes, veio a falecer repentinamente. Os herdeiros vieram conhecer seu espólio e depararam-se com suas economias. Uma filha e genro, logo se adonaram das reservas, quando iniciaram brigas, falatórios e intrigas, em função do patrimônio.
     O cidadão, geralmente, não precisa daquilo que amontoa e guarda com tanto zelo durante anos.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 19, de Guido Lang).

Crédito da imagem: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1083916831-400-moedas-ouro-tesouro-pirata-festa-decoraco-bau-navio-_JM?quantity=1

domingo, 5 de maio de 2019

A serena passagem para o Além

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Guido Lang

A doença e morte são um flagelo da humanidade que, em quaisquer sociedades, reúnem entes queridos ao redor dos enfermos. O meio colonial não fugiu à regra, pois quaisquer enfermidades mais graves eram causa de comentários e preocupações generalizadas.
A notícia da doença cedo difundiu-se entre os moradores. Amigos e vizinhos auxiliavam a família nas dificuldades e promoviam visitas. Um moribundo reunia familiares e religiosos, ocasião em que se ministrava a Santa Ceia nos “momentos últimos” daquela existência.
A família, como pais e rebentos, promovia uma reunião final, na qual procurava-se conviver os instantes finais com aquele agonizante.
Sucedeu-se, numa oportunidade, o encontro final dum clã rural, quando o patriarca encontrava-se no leito de morte. O cidadão estava passando da dimensão terrena para a eterna, pois o bom cristão acredita piamente na ressurreição. Uma filha, moradora a quilômetros de distância do solar familiar, atrasou-se para o encontro da Ceia e chegou chamando pelo moribundo.
Esta, em meio ao desespero da situação, gritou pelo nome do “quase finado”, com o que interrompeu e atrapalhou a “serena viagem para o Além”.
O moribundo, conforme o relato deste aos familiares, narrou sua experiência de viagem ao outro mundo, quando viu-se interrompido da jornada. Ele, depois de mais dois dias de vida, reclamou do procedimento, porque atrapalhou tremendamente a sua sossegada morte.
O ancião narrou sua odisseia: tinha sido buscado por anjos. Estes teriam-no conduzido, numa tranquila viagem, em direção a um lugar extremamente belo, luminoso e quieto, que trouxe a vontade de permanecer e curtir.
As pessoas, com ensinamento e sabedoria, não devem chamar pelo nome dos moribundos quando estes tomam a direção da vida eterna. Estes precisam ser deixados em paz com o objetivo de alcançarem um sereno perecimento. A vida eterna parece ser uma passagem para uma existência mais fecunda.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 56, de Guido Lang).


Crédito da imagem: https://www.iquilibrio.com