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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A CAIXA DA ÁGUA

Um cidadão procurou avolumar uma porção de água, que pudesse encher seu reservatório. Este, durante horas deixou pingar a torneira, no que o tempo possibilitou o enchimento da caixa. Poderia, no momento posterior, tirar uma porção do valioso líquido, no que, no curto espaço, repunha-se a quantidade original. Mantinha, daquela época em diante, uma valiosa água, que abastecia a família e ainda ostentava reservas.
Exemplo semelhante sucede-se com os poupadores, que diariamente reservam um pouco do suor do trabalho para o futuro. Estes míseros centavos vão enchendo a conta, que, algum dia, originam somas volumosas. As retiradas de pequenas quantidades, acabarão repostos com correções e juros, enquanto o capital original ficará resguardado.
A caixa, na época de dificuldades, revela-se difícil de armazenar conteúdos em meio a terra sedenta. Aos corajosos e poupadores, na ânsia de armazenar, nada é impossível. Quem poupa e guarda na fartura, tem reservas na penúria. O pingado, com o tempo, origina volumes inimagináveis.

Guido Lang
Jornal Eco do Tirol
29 de janeiro de 2005

A cantoria satânica

A Boa Vista Fundos/Teutônia/RS-Brasil, como picadas circunvizinhas, eram habitadas por bandos de macacos, que, entre inúmeras outras espécies, eram moradores efetivos da milenar Mata Subtropical Pluvial. Estes, nas caladas dos dias, faziam um barulho infernal, quando os bugios avermelhados e pretos impunham medo pelos gritos. Os bichos faziam assobios e guinchos fortes, que salientavam-se nas épocas do prenúncio das chuvas. Os animais, ao longo das trilhas da picada ou roça, impunham temores aos humanos, invadindo e ocupando seu secular hábitat das altíssimas e centenárias árvores da gigante e milenar floresta. As paragens solitárias, com o horizonte a perder de vista, complementava-se com outras fobias, que advinham das “feras do mato”. Estas, entre outras, constituíam-se de aranhas, cobras, jaguatiricas, porcos-do-mato...
A cantoria dos macacos era mais intensa nos morros, quando os gritos ecoavam pelos quatro quadrantes do Vale do Arroio Vermelho. Algumas ressonâncias davam impressão de macabros concertos, quando a algazarra dos símios, em momentos crescia, formando um aparente coro satânico. Alguns moradores importunavam-se com a cantoria, enquanto outros achavam graça. Os humanos cedo constituíam uma sabedoria com este canto, que ocorrendo significava chuva em aproximados três dias. As culturas, sobretudo as bananeiras e mamões, viam-se visitados, no que faziam um consumo generalizado. Alguma surpresa dos bichos, num aparente descuido humano poderia suceder-se, no que os animais, estendidos nalgumas folhas de vegetal, atiravam excrementos. Eles adoravam o espaço dos altos galhos das volumosas árvores, que tornava difícil apanhá-los ou repreendê-los; procuravam colocar guarda na razão de proteger-se de forasteiros e predadores inconvenientes.
Os rurais desconhecem as causas do desaparecimento dos animais, que atribuiu-se a devastação da mata, migração na direção dos resquícios de floresta e sucessivas pestes. Os macacos, em épocas, apareciam mortos nas lavouras ou matos, enquanto os urubus davam-se o trabalho de digeri-los. O rejuvenescimento da floresta promete uma nova aurora à espécie, que promete sua presença em arroios, encostas, morros e vales teutonienses.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
10 de setembro de 2005