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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A pérola divina



Deus, na sua infinita bondade e grandeza, resolveu lançar o desafio! Tinha criado sua excepcional obra: o Homem. Ele, inovador e meticuloso, quis tirar a prova. Procurou (os humanos sendo animais pensantes) dar uma pérola a cada qual (membro da espécie). Queria avaliar/testar a astúcia e inteligência das pessoas! Averiguar os cuidados e a eficiência! Inteirar-se dos comportamentos e valorização! Conhecer a multiplicação ou subtração!
As pessoas, quaisquer umas, receberiam o idêntico brinde. Ninguém poderia queixar-se duma eventual discriminação ou má sorte. Nada de choradeiras e lamúrias (pelos cantos e recantos)! Comentários impróprios! A dádiva começaria nos primeiros instantes da concepção e estender-se-ia até o desfecho da existência. Absteve-se de interrogar, aos competidores, de querer participar ou não do jogo. Todos, sem nenhuma exceção, precisariam defrontar-se com a sina. Procurou, ao longo dos séculos, “assistir, de camarote, o desfecho do comportamento da espécie”.
Observou cenas imaginárias, outras impensadas no palco da vida. Aparecia cada qual, nem em profecia ou sonho, poderia ser vislumbrado. Alguns, nas primeiras horas/momentos, desperdiçaram a pérola! Outros, por algum infortúnio/percalço, viram-se privados! Uns, no tempo, foram acrescentando beleza e qualidade ao presente! Muitíssimos, mesmo de uso efêmero, pareciam satisfeitos (com o tempo dado)! Outros mais, em décadas de guarda, fizeram uso sublime. Tentaram, de todos as formas e meios, acrescentar e prolongar os préstimos. A jornada, apesar dos bons e múltiplos anos, pareceu-lhes efêmera. Lamentaram, no momento derradeiro, a partida (sem retorno)! Cada qual, a sua maneira, soube abreviar ou prolongar a cortesia!
        A pérola, na prática, relacionava-se ao número de dias/tempo vivenciados sobre a Terra. Muitos abreviaram-nos com as correrias, criminalidades, drogadição, gulas, loucuras, velocidades, vícios... Poucos, com parcimônia e sabedoria, conseguiram acrescentar/multiplicar tempo. Vivenciaram longa jornada (em função da modéstia e racionalidade). Estes, o Deus Criador, considerou esbeltos e nobres! Coube, a cada qual, a oportunidade de abreviar ou prolongar o seu número. A esperteza e habilidade encontra-se nos cuidados! A imprudência abrevia e a prudência multiplica!
          Sábio é aquele que consegue longa vida! Viva o prazer de cada dia (como fosse o último). Cuide e enobrece muitíssimo esse patrimônio! Agradeça a Deus, a todo instante (através dos atos), por ter sido um dos privilegiados.

                                                                                   Guido Lang
                                                                           Livro “Histórias das Colônias”
                                                                        (Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://seasecretsblog.wordpress.com/

A importância dos registros pastorais


(Guido Lang)

Os religiosos, padres e pastores, precisam fazer apontamentos das suas atividades pastorais. Estes registram para as comunidades, os batismos, casamentos e óbitos, que, num primeiro momento, assemelham-se a um amontoado de datas e nomes. Os estudos criteriosos, num segundo passo, revelam preciosos subsídios históricos, que são primordiais para conhecer a evolução comunitária, resgatar elementos da identidade histórico – cultural e reaver elementos da genealogia.
A população colonial não possuía o hábito de registrar sua história, que, no máximo, incorria nos perigos dos equívocos da tradição oral. Os moradores rurais mantiveram-se preocupadíssimos com as atividades agropecuárias, que lhes asseguravam e ofereciam dignidade e sobrevivência. Outras atividades produtivas, junto às criações e plantações, constituíam-se nalgum trabalho da indústria artesanal, que pudesse exprimir nalguma especialização e vocação artesanal assim como complementar os rendimentos. A prática da leitura e atividades literárias esporadicamente ganharam algum espaço, quando lia-se (almanaques, anuários e jornais) e escrevia-se alguma correspondência. Os esporádicos registros, com a passagem dos anos e gerações, acabaram extraviados e perdidos. Muitas comunidades interioranas praticamente não possuem registros da evolução histórica, porque apontamentos e atas das entidades culturais - recreativas e famílias, igualmente acabaram desaparecendo e perecendo em meio à mentalidade progressista e renovadora.
As recentes pesquisas históricas, dentro da abordagem da História das Mentalidades, ganham destaque e expressam o estudo dos grupos minoritários que, por exemplo, podem ser colonos, presidiários, prostitutas, sindicalistas, etc. Os micro-historiadores, estudiosos de assuntos aparentemente insignificantes da história, englobam-se nesta linha de pesquisa, quando ampliam e aprofundam os conhecimentos e informações de comunidades (religiosas e rurais) e grupos minoritários. Estes, juntamente com os genealogistas, recorrem à correspondência, diários, entrevistas, escrituras, registros pastorais, relatos, para encontrarem fontes e subsídios históricos, que possam elucidar e enriquecer as pesquisas. Os registros pastorais, devido à escassez de fontes primárias, ganham importância, pois as anotações de batismos, casamentos e óbitos acabam sendo estudadas minuciosamente.
Os livros de registros comunitários encontram-se geralmente nas comunidades religiosas, aos quais os genealogistas e micro-historiadores recorrem. Os estudiosos e pesquisadores passam a ler e anotar os dados que relacionam-se as datas dos ofícios, locais dos eventos, nome e paternidade dos envolvidos, testemunhas dos acontecimentos, observações diversas (como exemplo: data de imigração, números de filhos, nome da esposa, participação na vida comunitária), etc. Os dados e informações, analisados e listados, no seu conjunto, oferecem valiosos subsídios, que acabam espelhando a realidade comunitária e familiar. Os estudiosos listam as diversas anotações, que facilitam enormemente a análise e compreensão dos acontecimentos. A preciosidade dos registros amplia-se à medida que os religiosos forem criteriosos nos seus apontamentos. Estes indivíduos, veículos da palavra divina, deveriam receber algumas orientações dos estudiosos, nas quais aprofundassem a clareza e o teor dos seus registros. Apontamentos estes, no futuro ‘’tão valiosos como o ouro e a prata’’, pois complementam e postergam o auxílio pastoral prestado aos membros.
A importância dos registros pastorais, na atualidade, ganha tamanha envergadura e espaço, que passa a existir a preocupação de reuni-los em disquetes e livros. A finalidade é facilitar o acesso dos estudiosos e resguardá-los do extravio. Sínteses e resumos dos dados são elaborados em artigos, que acabam publicados em jornais e revistas, a fim de ampliar os estudos da genealogia e história regional.
Os registros comunitários - pastorais, portanto, são relíquias histórico-comunitárias, guardam e preservam as escassas informações de numerosas comunidades, famílias e grupos sociais. Estes ‘’tesouros escondidos’’ precisam receber a máxima atenção e resguardo, pois não podem ser consumidos pela ação do descuido e do tempo. Os registros precisam ser preenchidos com conhecimentos e zelo, pois amanhã, completarão as informações de documentos e jornais. O conjunto de escritos formam os subsídios históricos que guardarão os nossos momentos históricos e a vida do esquecimento e insignificância. As pesquisas bibliográficas, nestas preciosas fontes, ganham atenção e espaço à medida que as atuais gerações interrogam-se do seu passado e questionam-se do real sentido da vida. Esta trajetória terrena não pode restringir-se ao ‘’consumismo barato’’. Os valores do conhecimento e espírito demostram nossa grandeza espiritual, que supera a mera dimensão terrena e aproxima-nos, através da fé, da grandeza e sabedoria divinas.

(Fonte: Anuário Evangélico, Ano l996, pág. 137 e 139)

Crédito da imagem: http://reginajgr.blogspot.com.br/2011/10/livro-aberto.html