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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Os dons da terra


Um forasteiro achegou-se numa localidade, quando iniciava uma estranha conversa de tesouros enterrados. Os moradores entreolharam-se com estranheza, porém não deixaram de ouvir as histórias e relatos de riquezas, que assumiram uma espécie de profecia. Alguns ouvintes passaram a dar maior atenção aos detalhes do seu patrimônio imobiliário, quando faziam suas andanças pela terra. Uns logo pensaram desenterrar velhas reservas numerárias, que, nalgum passado tivessem sido escondidas.
O tempo, na sua perene passagem, revelou-lhes o significado das palavras do profeta. Este, através de metáforas, quis explanar: uma área mantinha-se rica em saibro; alguma, lá adiante, abrigava uma valiosa argila (própria à olaria); outra escondia uma excepcional pedra-grês à construção; pedaço mais via-se tomado pela areia... O subsolo escondia uma imensa riqueza que, durante gerações, passou despercebido como possibilidade de ganho. Inúmeras famílias mantinham-se assentadas numa mina de ouro, todavia as condições e a época impossibilitavam a exploração. O tesouro, na prática, são os dons, que cada lugarzinho esconde para um empreendimento inovador.
As pessoas, em matéria de tesouro, direcionam os pensamentos ao numerário metálico, quando a riqueza consiste nas aptidões e virtudes. A mãe natureza oferece-nos inúmeros dons, que nem sempre conhecemos a contento.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p.03, número 34
12 de agosto de 2005

Crédito da imagem: http://mariodoido.blogspot.com.br/2012/05/cachoeira.html

O ouro



"Ouro adquirido, sossego perdido".

"Quem possui o ouro, dita as regras".

"Um asno com ouro a tudo alcança".

Provérbios populares


Crédito da imagem: http://www.ehow.com/how_8512794_melt-gold-ore.html

As entranhas dos morros

Imagem da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Betânia, na Boa Vista,  em Teutônia/RS.
Vista a partir do Morro da Capivara.

A pacata Boa Vista Fundos/Teutônia/RS – Brasil, incrustada entre morros e vales, parece um torrão qualquer no contexto da sua abundante vegetação. A exuberância das plantas revela a fertilidade do solo, que, num compasso de tartaruga, foi conquistada à plantação e criação. As gerações de colonizadores, de cinco a sete, extraia o fruto da terra à sua subsistência (conforme as necessidades de época e morador).
O solo, com sua efetiva ocupação, revelou sua diversidade e uma riqueza ímpar. As encostas, das elevações da Linha Capivara, Catarina e Germana (ambas localizadas em Teutônia/RS), revelaram sua excepcionalidade de saibro. Este, na sua diversidade, aflora ao longo de estradas e lavouras, quando chega-se ao subsolo. Alguma aração ou campina, a todo instante, descobrem faces deste manancial, que, de forma esporádica ao longo de décadas, viu-se extraído para aterros de caminhos e pátios. A improvisada pavimentação facilitava caminhadas e tração animal no interior das propriedades minifundiárias. As saibreiras, em cantos e recantos de estradas, viram-se instaladas, que tornaram-se fornecedoras de matéria-prima.
As municipalidades, de Estrela/RS e de Teutônia/RS, cedo descobriram os potenciais de saibro, quando partiu-se à extração mecânica. Um batalhão de máquinas, num aparente depósito ou comboio em trabalho, movimentava cargas e mais cargas, quando o produto via-se elevado aos quatro quadrantes da circunvizinhança. Inúmeros aterros, de moradias e sociedades, possuem “fragmentos da localidade”, que ostentam “centelhas do sagrado solo”. Várias saibreiras, entre outras, surgiram em propriedades, no que, como exemplo podemos citar os de Annildo Birkheuer, Annilda Strate Lang, Délio Bayer, Elmo Schäefer, Erno Petry, Raimundo Bayer, Selvino Tiggemann...
Magníficas reservas escondem-se nas encostas em meio ao mato verde, quando, nalgum futuro, acabarão ceifadas. Inúmeras áreas erodidas, no desleixo e ganância, revelam o descaso do pós-extração, quando evitou-se a tarefa de cobrir o cenário, com alguma argila ou húmus, com vistas de regenerar o lugar. A mãe natureza, numa “paciência de Jô”, vem levando décadas para reintegrar o ambiente, quando unicamente ficam esparsos sinais e reminiscências desse tesouro natural.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p.03, edição 42
05 de outubro de 2005

Crédito da imagem: http://olhares.uol.com.br/morros-de-teutonia-foto2560152.html


As marcas do passado


Umas gerações de pioneiros plantaram áreas por décadas como minifúndio diversificado. Estes, com as necessidades de suas épocas, precisaram criar e inovar com obras, que, de forma artesanal e braçal, foram introduzidas nos morros e vales.
Adveio a modernização tecnológica e urbanização progressiva, no que as elevações viram-se abandonadas do trabalho rural. As descendências, em boa parte, migravam às cidades e a mata rejuvenescida veio a reocupar o espaço. A Floresta Subtropical Pluvial cresceu, porém manteve “os rastros de civilização de outrora”. Os vestígios, em meio às árvores e cipós, fazem-se presentes nas áreas das antigas roças.
Observam-se as pegadas no trajeto das estradas coloniais; nos passos (passagens) dos arroios aterrados com pedra; nos poços cavados ou surgidos nas encostas; nos reservatórios de água escavados (para oferecer líquido aos bois); nas curvas de nível reforçadas com rocha; nos escoadouros de água das chuvas (nas periferias das plantações); na introdução de plantas exóticas nos lugares devastados; na criação de mini-pomares de citrus (bergamoteira, laranjeira, lima, limão) nas periferias dos caminhos; nas divisas de propriedades entre vizinhos; nas pedreiras abandonadas de extração de pedras-grês; nos desvios, quedas da água ou represas improvisadas nos arroios; nas marcas de edificações abandonadas... Os observadores podem lançar ideia de grandiosos feitos desta pacata gente, que dedicou anos ou a vida para concretizar tarefas insanas. Muitos procuraram realizar tarefas que pudessem beneficiar gerações. A mudança de hábitos e valores de vida levou ao abandono desses legados, que, no entanto, revelam conhecimento e grandeza de espírito dos ancestrais.
As gerações deixam rastros da sua odisseia terrena; precisamos “ostentar conhecimentos e olhos” para apreciar os feitos. A natureza, em muitos casos, reconquista seu espaço, porém deixa intactas marcas da passagem humana.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 35
19 de agosto de 2005

Crédito da imagem: http://novaexpedicao.blogspot.com.br/2011/09/o-dia-em.html