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terça-feira, 9 de abril de 2013

O espremer dos centavos



Um cidadão, dono de atelier, emprega uma dúzia de funcionários.
Os empregados, contratados de forma temporária, deixam-no “ver navios” (em diversos momentos e situações). Eles, na hora do recebimento, encontram-se cedo na sua porta: querem e precisam receber o deles.
O proprietário, numa dificuldade financeira ou falta de qualidade nas tarefas, não recebe contrapartida em cortesias e mimos. Este desconhece de ouvir frases: “- Ah! Não precisa pagar!”, “- Tem desconto pela falta de qualidade”, “- Pode pagar na outra semana”... Uma realidade inexistente nas relações sociais e trabalhistas.
A labuta, na linha de confecção dos calçados (em consequência), não tem moleza ou piedade. A produção, nos horários próprios das jornadas, precisa fluir e render! Nada de maiores conversas, demoras nos banheiros, olhares estendidos à rua...  Cochilos ou demoras, como forma de desperdício de minutos ou segundos, conhecem massivas cobranças e repreensões!
Os centavos e reais, dispendido em salários, necessitam de árdua retribuição em suor e trabalho. Uma matemática financeira difícil, a cada final de mês, consiste em dar conta dos muitos e vultosos dispêndios e encargos. O patrão, como empresário, ainda precisa fazer sobrar divisas aos investimentos e reinvestimentos! As esteiras de produção, de forma escamoteada, são uma “espécie de escravidão” assim como o proprietário com suas muitas obrigações.
Negócios são negócios e amizade à parte nas relações profissionais! As sobras, em quaisquer atividades, ostentam-se uma margem estreita nos resultados finais. A sobrevivência, na selva de pedra, revela-se acirrada e suada para quaisquer trabalhadores!
                                                                                                     
Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://www.jornaldedomingo.com.br 

Os membros e o estômago


As mãos e os pés revoltaram-se um dia.
- Trabalhamos tanto, estamos em contínuo lidar e tudo é em proveito do estômago, que aí fica folgado, empregando em vantagem sua quanto adquirimos. Queremos folgar e viva o estômago como puder.
O estômago ficou em jejum; mas logo todo o corpo caiu em debilidade. Braços, pernas, pés e mãos foram dos primeiros a sentir um entorpecimento. Compreenderam que iam morrendo; voltaram então ao seu antigo ofício, e dentro em pouco, graças ao condescendente estômago, se acharam restituídos à antiga robustez.

Moral da história:
Todos somos membros de um vasto corpo, que é a sociedade; cada um exerce funções especiais, mais altas, mais humildes, porém todas indispensáveis para a prosperidade e a existência humana.

                 Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                   Crédito da imagem: http://revistavivasaude.uol.com.br