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quinta-feira, 14 de março de 2013

Colonização Westfaliana


As dificuldades de sobrevivência, por volta do ano de 1868, foram muitas na Westfália/Prússia. Os impostos eram extorsivos em relação aos baixos rendimentos. O Estado nacional alemão, em formação, precisava de recursos para fazer frente às guerras de unificação (de Bismarck contra a Áustria em 1864, Dinamarca em 1866 e França em 1870). O recrutamento militar era obrigatório e temido. O excessivo crescimento populacional tornava os recursos financeiros escassos. A falta de terras aráveis, às camadas pobres, um problema econômico-social. Os latifundiários concentravam os solos  e agregados e semi-escravos viam-se comuns. A falta de oportunidades, a propaganda da abundância de terras na América, a substituição do trabalho artesanal pelo mecânico foram outras causas do êxodo...
As levas de despossuídos queriam uma ocasião para o pessoal procurar novas oportunidades de ascensão econômica e abandonar a Alemanha assim como conferir as “notícias da fartura americana”. Estas apareceram com o pastor evangélico Johann Friedrich Wilhelm Kleingünther. Este veio ao Brasil e conheceu, em 1866, a próspera Colônia Teutônia. Resolveu, consciente das dificuldades de vida de muitos dos seus conterrâneos, espalhar a “boa nova”. As cartas da fertilidade do solo, das facilidades de compra de terras, abundância das riquezas naturais (caça, madeira e pesca), clima ameno e da colonização de evangélicos luteranos em Teutônia criaram uma espécie de febre de emigração.
Estas notícias, conforme Klaus Becker em "I Colóquios de Estudos Teuto-brasileiros", pág.  222 e 223, fez com que em 14 de agosto de 1868 viesse a primeira leva de colonos westfalianos. Eles vieram do Rio de Janeiro a Porto Alegre com o vapor “Proteção”; eram em número de quarenta e uma pessoas e conhecidos do pastor Kleingünther. A leva, de Porto Alegre a Taquari, foi embarcada no dia 20 de agosto de 1868. O trajeto de Taquari a Teutônia, através dos campos selvagens e matos, foi percorrido com carretas e carroças de mulas pelo carreteiro e comerciantes/diretor da colônia particular Karl Arnt.
A relação dos pioneiros foram Heinrich Howeler e esposa, Heinrich Eggers e família, Elisabeth EggersErnst HachmannFriedrich LiedeWilhelm Schonhorst e família, Wilhelm Hasenkamp e Friederike BrockmannFriedrich BrockampFriedrich Neuhaus e  esposa, Hermann Pohlmann e Wilhelmina NeierFriedrich Wilhelm Knebelkamp e esposa, professor primário Johann Heinrich Behne e família. Outras levas, entre os anos de 1868 a 1872, seguiram e trouxeram aproximadas trezentas famílias.
Os colonos vieram principalmente de lugares como Lengerich, Tecklenburg, Ostenberg, Kappeln, Landbergen, Lotte, Osnabrück, Gaste, Westerkappeln, Leeden... Estes, na Colônia Teutônia, constituíram uma colonização homogênea. Os pioneiros instalaram-se primordialmente nas picadas Franck, Neuhaus, Schmidt, Clara, Krupp, Frederico Guilherme, Berlim, Moltke... Os moradores introduziram o dialeto do sapato de pau, que mantém referência a sua habilidade de confeccionar e usar o sapato de pau (em função das dificuldades econômicas e rigores do clima).
Os imigrantes westfalianos destacaram-se pelas atividades e entidades culturais. As escolas comunitárias pipocaram assim como os esteios dos templos religiosos. O canto coral, sociedades de tiro, grupos recreativos e de leitura bíblica tornaram-se comuns no seio colonial. Uma instituição, muito conhecida, foi criada pelos ex-combatentes das guerras de unificação. Tratou-se da Sociedade dos Atiradores da Linha Clara/Teutônia.
Os elementos westfalianos sobressaíram-se pelo espírito produtivo. Excepcionais criações e plantações invadiram o espaço da outrora aparente impenetrável floresta. O instinto de econômico e trabalhador são aspectos salientes no cenário comunitário e os municípios resultantes, das suas iniciativas, destacam-se nos elevados índices de desenvolvimento humano. Algumas localidades, num cenário ímpar, parecem abrigar cidades de aviários, chiqueiros e tambos.

Fonte: Guido Lang, O Informativo de Teutônia n° 18, dia 25.11.1989, pág. 02 (texto reescrito).

Crédito da imagem: http://www.panoramio.com - Foto da Prefeitura de Westfália/RS



O conhecimento da legislação



Uma pacata senhora, advinda do interior, bateu numa fábrica de calçados. Ela pediu emprego na linha de produção. A empresa, com baixos salários, precisava de gente em função da alta rotatividade. A oportunidade de trabalho foi dada ao pedido. Os ganhos, apesar de baixos (em função dos muitos descontos de encargos), era melhor do que estar desempregado/parado. A inatividade consumia eventuais sobras familiares.
Umas boas semanas transcorreram a título de estágio e experiência. O trabalho, a princípio, parecia agradar as duas partes. O negócio, de contratante e contratado, tomou o rumo da efetivação no cargo/posto. As partes pareciam estar a contento com os mútuos resultados.
A funcionária, numa altura, ausentou-se por três dias seguidos do emprego. A empresa, através da gerência, preocupou-se com a ausência (em função de nalgum sucedido ímpar). Alguma anomalia familiar certamente tinha motivado o fato. A fulana, contrastando com a prática da empresa, absteve-se de dar a tradicional explicação/justificativa. A norma, nestes casos imprevistos, era de falar com a chefia e “sanar eventuais arestas”. A cidadã, num descaso e petulância, deu a mínima aos interesses e necessidades da empresa.
A gerência, num momento, foi ao encontro da fulana para uma conversa/diálogo. Os chefes queria entender as repentinas ausências. A funcionária, de forma categórica e grosseira, externou: “- Conheço bem as leis trabalhistas! Sou também formada em advogacia!” A decepção e surpresa foram ainda maiores. A gerência desconhecia esse singelo detalhe (na hora da efetivação). O sigilo profissional havia sido escamoteado!
O estudo, em ambientes de ar condicionado e computadores, não consegue atender a todas as demandas do mercado trabalhista. Uns muitos, apesar da parafernália de máquinas (de todos as funções e tipos), precisam continuar firmes na linha de produção (ocupados com tarefas braçais). A formação universitária, após a conclusão de curso, deixa o estudante de mãos abanando e a necessidade obriga a trabalhar (começando por baixo). Inúmeros trabalhadores procuram emprego em vez de trabalho (o certo seria trabalho para ter emprego).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem: http://www.melhoradvogado.com.br