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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os bailes familiares


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     As colônias teutonienses, nos primórdios da colonização (1868-1928), careciam de locais festivos, quando inexistiam os salões das vendas coloniais. Os colonos, num punhado de famílias, procuraram improvisar eventos que pudessem romper a monotonia rural. Os moradores, depois dos primeiros anos de derrubada do mato e progresso econômico, iniciaram a edificação de solares familiares, que atenderiam as necessidades de moradia de algumas gerações da descendência.
     As casas, no ato da inauguração, conheciam um evento animado, que era um baile comunitário. O acontecimento era uma forma de reunir o conjunto da população, porque uma sólida moradia edificava-se de forma esporádica pela existência. Os construtores, numa única oportunidade, poderiam mostrar a obra ao conjunto de visitantes, pois era tradição mostrar a casa recém-construída.
     A festa realizava-se no interior da sala, no que algum trio ou quarteto de músicos (colonos músicos) animava a celebração, estes com algum acordeom, flauta, violino, reco-reco... iniciavam a animação com o clarear da tarde e estendia-se até a meia noite.
     Os moradores, na quase sua totalidade, afluíam ao comentado e esperado baile, no qual somavam-se alguns forasteiros e parentes (distantes). Os moços e as moças ficavam isolados em cada lado do ambiente, quando os rapazes convidavam as meninas para dançar. As famílias cedo uniam-se em laços de parentesco, quando todas as clãs tradicionais, através de décadas, viram-se unidas no sangue. Os comes, como cuca e linguiça cozida, eram servidas na cozinha, enquanto a cerveja e a gasosa numa copa improvisada. Inexistia a preocupação de segurança e roubos, brigas e desentendimentos, no meio de conhecidos, dificilmente sucediam-se e eventuais conflitos eram apaziguados pelos amigos.
     A tradição dos bailes caseiros caiu no desuso com a edificação dos salões, quando os vendeiros, junto à casa de comércio, vislumbraram perspectivas de negócio. Eles, na carência de espaço recreativo, improvisaram um lugar, que servisse ao baralho, bailes e festinhas. Alguns comerciantes, numa data específica anual, mantinham uma tradição de baile que os colegas comerciantes e moradores sabiam e respeitavam mutuamente. A realidade destes deu origem à formação de conjuntos musicais, quando improvisou-se “bandinhas” (grupo de músicos).
     Os salões, nas décadas posteriores, deram origem aos centros comunitários, que ganharam fôlego pós-emancipação política da comuna. As festas familiares restritas aos parentes próximos ganhou a preferência, quando numa inauguração de uma nova residência, abandonou-se o baile. Os ocupantes temem o estrago; ostentam espaço restrito ao público e a carência de estrutura. Os bailes familiares, conforme a memória comunitária, ficaram somente nas reminiscências de um passado distante, que também tinha suas belezas e fascínios.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem:  http://oportunityleiloes.auctionserver.net/images/lot/51905/0/lot51905.jpg

Os singelos invasores


     Espécies exóticas, introduzidas nos anos sucessivos de colonização, vem mudar um cenário milenar. Estas, de forma discreta, vão conquistando o espaço das encostas e morros quando as aves, de forma geral, tratam de levá-los aos cantos e recantos das localidades. Os forasteiros, com acirrado vigor de desenvolvimento, começam a tornar-se uma aparente praga na proporção de sufocar as espécies originais. Diversas espécies, nos resquícios da Floresta Subtropical Pluvial/Mata Atlântica, mostram-se sufocadas, quando conheceram “a astúcia dos importados”.
     Refiro-me, como espécies de árvores, ao ligustre/sempre-verde, uva-japonesa, eucalipto, aroeira brava, canela da Índia, cinâmomos... Os humanos, nalguma etapa da colonização, trouxeram as espécies como árvores ornamentais, quando inicialmente viram-se transplantadas costumeiramente nos pátios. A beleza e a qualidade da sombra foram razões iniciais no que, em anos e décadas, tomaram dimensões do domínio. Os pássaros, com o consumo das sementes, defecaram nos diversos espaços, quando, com o abandono das áreas íngremes como lavouras, assumiram a predominância. Sufocaram, em boa dose, espécies nativas, quando encontram-se inseridas/adaptadas como nativas.
     A qualidade da madeira, à combustão, ostenta-se um aspecto positivo, quando permite o corte diante da legislação ambiental protetora das nativas. O fato, em boa dose, leva a um empurrão do homem, que empurra-os para um quadrante maior. As principais espécies, com maior facilidade de difusão, relaciona-se ao ligustre/paulistana e uva-japonesa, que encravam-se em baixadas, cercas, córregos, matos... Estes, numa década, assumem a predominância de quaisquer espaços alcançados, enquanto as nativas incorrem no perigo do extermínio. O verde-escuro dos sempre-verdes e o verde-claro das uvas-japonesas, aos olhos atentos e conhecedores, salienta-as a boas distâncias quando mostram o seu predomínio nas encostas.
     A ação antrópica, das décadas de ocupação das localidades, começa a revelar a ação, quando, aos cenários coloniais, introduziu-se uma gama de espécies exóticas desejadas e indesejadas. Muitos moradores dão-nas como nativas em função da fácil adaptação quando, na prática, exterminam outras espécies locais. O registro fica como curiosidade histórica deste fato ímpar que veio redimensionar uma situação.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Um patrimônio cultural ímpar


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    Imensos cercados, como “lombrigas estendidas”, espraiam-se pelas baixadas, quando são uma lembrança do ciclo econômico de outrora. Refiro-me as cercas de pedra! Elas são a descrição de um trabalho insano dos primórdios da colonização (1868-1910), quando os moradores precisaram encontrar soluções próprias dentro dos recursos disponíveis das propriedades. As pedreiras, de pedra-grês, foram localizadas no interior dos matos e potreiros quando iniciou-se a extração da matéria-prima.
     As excepcionais pedras, como alisadas e quadradas, viam-se usadas na edificação dos alicerces dos galpões, cercas melhoradas dos pátios, peças de montagem das moradias... Cochos da água, como exemplo, viam-se esculpidos no interior de pedras assim como peças para ao rebolo e trapiches de cana. Mãos hábeis, com o manejo das pedras, viam-se conhecidos no contexto dos moradores, quando, no ínterim dos cuidados das criações e lavouras, esculpia-se e montava-se artefatos à propriedade. As necessidades, com a carência de recursos monetários e distâncias para o comércio, obrigavam pais de família serem artesões, carpinteiros, pedreiros... A contratação de eventuais especialistas davam-se das extremas necessidades e ausência de maiores conhecimentos na especialidade do serviço.
      Os produtores de aves, bovinos, equinos, suínos, precisaram de currais no qual pudessem dar liberdade à diversidade animal dentro de um limitado espaço com razão de não danificar plantações. A inexistência dos arames (farpados) e cercados (elétricos), nem em sonho, obrigava a edificação dos cercados de pedra. Estes, na parte frontal das propriedades, davam origem aos tradicionais potreiros, que cedo “assumiam uma aparência de mini-zoológico” em função da abundância e diversidade animal. A fartura era sinônimo de capricho e riqueza no qual mostrava-se o “espelho do conhecimento agrícola e criatório”. Pedras e mais pedras, dos variados tamanhos em peças, viam-se arrastados e carregados para edificar quilômetros de cercas. Um trabalho silencioso, porém em temporadas via-se concretizado, que, de forma definitiva, resolviam uma necessidade (cercamento). Os consertos contínuos de manutenção viam-se efetuados na proporção da danificação de partes.
     As cercas de pedra, na atualidade, mantêm-se testemunhas de uma época de outrora quando a maioria dos nomes dos reais construtores jazem nas cinzas e no esquecimento da memória comunitária. Os encaixes e a montagem, num olhar atento, retratam o esforço de mãos calejadas e habilidosas, que, em diversas localidades e propriedades, desafia o desleixo e o tempo na conservação. Um patrimônio cultural dos ancestrais carente de maiores estudos e registros, quando ainda revelam-se desprezados por inúmeros descendentes.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://4.bp.blogspot.com/_WFH8F7S07gk/TNWuCVoHpiI/AAAAAAAAMKQ/KcX7HLM1dm8/s1600/Cerca+de+pedra.jpg

Os flagelos familiares


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    Uma sina desnorteadora, ao longo das décadas de colonização, abate-se sobre as famílias teuto-brasileiras. Um assunto evitado nas conversas informais, porém comentado as “quatro paredes” no contexto dos vitimados. Pouquíssimas clãs, ao longo da história, desconheceram a desgraça, que abateu-se de forma imprevista e repentina sem deixar maiores avisos e recados. Refiro-me aos suicídios por enforcamentos, que foram muitos em todas as localidades e paragens da descendência teuta.
     Diversas são as abordagens quando fala-se da obsessão dos suicidas pela ideia. Estes, a um bom tempo, vislumbram os lugares próprios do ato, assim como providenciam o material. Costumam processar o ato dentro da casa, pátio ou mato próximo quando familiares dão algum “cochilo” (descuido). Fica daí a pergunta crucial: por quê? Imagina-se respostas como aborrecimentos, depressão, excessos de trabalho, problemas de saúde... Os suicidas adquirem uma monotonia da existência, quando simplesmente preferem “retornar aos lugares de origem da natureza”. Alguns sentem-se chamados por algum ancestral ou pessoa muito próxima das relações em vida. Idosos, depois de uma vida de intenso trabalho como filosofia de vida, sentem a invalidez, no que rejeitam de forma categórica, a inutilidade. Alegam não conseguir passar o tempo e a morte é o epílogo final de uma sina. Daí cada cabeça uma sentença.
     O ato comum consiste no enforcamento! Qualquer metro de corda pode concretizar o ato derradeiro. Há coisa sucede-se com famílias de histórico de suicidas, quando membros tomam o idêntico caminho. Criou-se, pela memória oral, uma lenda com relação às ocorrências. Versa o título: “-Três dias de vento norte interruptos algum alemão louco enforca-se pelas colônias”. O histórico, ao longo dos diversos vales de instalação maior do elemento teuto, confirmam a sina. A indisposição, como dores de cabeça, insônias, problemas de consciência, saúde abaladas, reforçam a pré-disposição. O curioso, no final dos fatos, das pessoas darem-se o idêntico destino aos animais, quando estes, numa propriedade colonial, sofrerem acidentes ou doenças incuráveis, o sacrifício do dono!
     Queira Deus! Que outros flagelos sejam redimensionados, porém qualquer descendente, conhecendo a mentalidade do modo de vida germânico, sabe da atitude radical. Cabe-nos querer entender para evitar o pior e reorientar as novas gerações para uma postura diversa.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

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