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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O tempo



A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana (1906-1994)

Crédito da imagem: http://nodivacomcarol.wordpress.com/category/poesia/

Benzeduras



Os colonos, jogados no interior das florestas, precisaram encontrar soluções aos seus problemas. Os órgãos públicos, mantiveram-se ausentes ou distantes nos serviços oferecidos. Os recursos médicos encontraram-se distantes (horas de deslocamento em montarias ou transporte de carroça) e onerosos (diante da falta completa de dinheiro). A solução foi encontrar paliativos às emergências. Moradores, nas conversas informais, davam sugestões de receitas caseiras. Outras, diante de sua ineficiência, acabaram apelando a uma prática milenar.
Remédios caseiros, à base de banhos d’água, emplastros e unguentos, resolviam incômodos com acidentes e saúde. Estes poderiam advir de cortes (com ferramentas), espinhos e resfriados. O trabalho, em meio a lavouras e matos, resultaram em inconveniências. Feridas e mordidas (de insetos), mantinham-se realidades corriqueiras. A solução, no meio às tarefas, foi aplicar remédios caseiros. Estes extraíam dores e inflamações.
Outra velha prática, trazida de legado das florestas da Germânia, relaciona-se às benzeduras. Certos males, como bicheiras, enxaquecas, ericibeia, invejas, maus olhados, quebrante, verrugas, viram-se solucionadas com excepcionais benzeduras. Alguns moradores, existentes/semeados como sementes raras, ostentavam os dons das forças espirituais/faziam-se instrumentos dos poderes sobrenaturais. Estes, em meio à discrição e pronúncia para si, apelavam às forças/instâncias supremas. Elas, através das entidades máximas (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo), viram-se invocados. Alguns mais, em função do desconhecimento, diziam ser obra de instâncias maléficas.
O curioso: as reais eficiências. Elas, em inúmeros exemplos, faziam as curas necessárias. A real explicação do sucesso foge à compreensão humana. Conta-se às centenas as histórias de curas e milagres. Os  mistérios do sobrenatural, acréscimo da extrema fé do benzido, acabaram em curas. Versa a tradição: o descrente nem precisa apelar e nem pode estar presente no ato do benzer. Ele afasta/espanta os poderes. O dom supremo advém como dádiva e precisa ser propagado como serviço.
Certos malefícios, como sérios incômodos, cedo mudaram de fisionomia (diante da primeira prática; o rotineiro consistia em três bênçãos alternadas em espaço de dias). Parecia, aos descrentes e néscios, coisa do outro mundo. Religiosos, de maneira geral, combatiam a prática milenar. Ela, para uns, confundida com bruxaria; para outros era resquício do poder divino em cada qual. Os imigrantes, sobretudo de procedência da região do Hunsrück/Reno/Prússia, trouxeram a prática e disseminaram-na entre famílias e localidades.
Uns benzedores/as, pelo poder mental e psicológico, criaram fama na história oral. Inúmeros moradores, conforme as necessidades, afluíam de longe para valer-se dos préstimos. Eles eram administrados de forma gratuita e a recompensa, no máximo, era dada em forma de mimo (da vontade do doador/paciente). A eficiência, do ensino da prática, poderia dar-se somente entre sexos opostos. Explica-se: o homem ensina o segredo alguma mulher e esta a algum homem. O dom, em síntese, advinha da natureza da pessoa.
A prática sobrevive à ação do tempo, porém perdeu expressão com os modernos recursos medicinais. Certos mistérios extrapolam as concepções humanas. As palavras, do Mestre Jesus (em meio às curas), afirmavam: “- Tua fé te curou”.


                                                                                                           Guido Lang
                                                                                 Livro “História das Colônias”
                                                                     (Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://ventosnaprimavera.blogspot.com.br/2010/06/casa-no-campo.html