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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Companheiros até a morte



Era uma vez, em um reino distante, dois companheiros que nutriam uma amizade verdadeiramente inabalável. A força e a beleza desse sentimento eram conhecidas e admiradas por todos. Até que essa amizade um dia foi posta à prova. Contrariado com as constantes críticas de Pítias, o rei mandou chamá-lo, juntamente com seu amigo Damon.
Por defender seus princípios, Pítias foi acusado de traição e condenado à morte. Antes de ser preso, porém, solicitou a realização de um último desejo: que lhe permitissem despedir-se da família. O rei relutou, mas acabou sendo convencido por Damon, que, demonstrando total confiança em Pítias, ofereceu-se para morrer no lugar do amigo caso ele fugisse.
Dessa forma, conforme o combinado, Damon foi levado à prisão e Pítias foi ao encontro da família. À medida que os dias corriam, os guardas passavam a zombar do prisioneiro, dizendo que o “tão leal amigo” o havia abandonado.
Eis que chegou o dia da execução. A cidade toda se perguntava como um amigo tão fiel fora entregue à própria sorte. O rei mandou o prisioneiro ser trazido. Os guardas o posicionaram no meio da praça lotada. O silêncio imperava. E quando Damon já estava com a corda no pescoço, Pítias gritou, no meio da multidão:
-Eu voltei! Não o matem!
Estava esgotado, ferido, cambaleante. Ainda assim, arranjou forças para abraçar Damon e comemorar o fato de tê-lo encontrado com vida, apesar de seu atraso. Emocionado, explicou que seu navio naufragara durante uma tempestade, e que bandidos o haviam atacado na estrada. Apesar de todos os contratempos, jamais perdera a esperança de chegar a tempo de salvar o amigo da morte.
Ao presenciar aquela cena, o rei foi vencido pela beleza daquele momento. Declarou então revogada a sentença. Era a primeira vez que presenciava cenas de tão elevado grau de amizade, lealdade e fé. Assim, o rei concedeu-lhes a liberdade, solicitando em troca que os dois lhe ensinassem como construir tão sólida amizade.

Adaptado por um autor desconhecido do conto de William J. Bennett

Crédito da imagem: http://ludmilaalmeida.blogspot.com.br/2011/04/o-sapo-e-o-rei.html

"O ciclo do ouro branco"



     A Colônia Teutônia, nos anos de 1910 a 1950, mostrava-se uma grande produtora de banha. O produto via-se extraído dos suínos, que, em quaisquer propriedades, abundavam. A farta produção de cereais, sobretudo do milho, possibilitava criar os animais, que, como complemento alimentar, ganhavam tubérculos (batata e mandioca); acrescentava-se o trato de abóboras e pastos. Os cozidos, de lavagem com sobras diversas, mantinha-se uma prática corriqueira nos pátios coloniais. Os colonos, em uma ano, criavam chiqueiradas de animais, que viam-se continuamente abatidos para o próprio consumo e produção de banha.
     O produto, em função da inexistência dos azeites (vegetais), mantinha mercado garantido nas crescentes cidades (sobretudo nas emergentes vilas das periferias de Porto Alegra/RS). Teutônia, através dos distritos de Canabarro, Languiru e Teutônia, mantivera-se uma abastecedora das necessidades do mercado. Os colonos, através do abate caseiro, extraíam o produto, que era comercializado nas diversas vendas (espalhadas pelas localidades). Estas, através de intermediários, direcionavam a banha aos mercados urbanos. A ampla criação possibilitou sobras financeiras, que os colonos, nalgum momento, dirigiam as melhoras das propriedades. Inúmeros moradores puderam edificar sólidas moradias com os recursos auferidos. Uma curiosidade relacionava-se a habilidade dos rurais na carneação, que ocorriam praticamente a toda semana em quaisquer propriedades. As carnes e miúdos viam-se aproveitadas ao consumo familiar e trato aos próprios da espécie. A fartura teutoniense tornou-se amplamente conhecida no contexto da colonização, quando o lugar recebeu a alcunha de “Pérola das Colônias Alemãs”. O povoado, da atual Languiru – com um punhado de poucas dezenas de casas, recebeu numa época (entre os anos de 1920 e 1940) a denominação de “Ouro Branco”, uma referência à ampla produção da banha que rendia dividendos como fosse um metal precioso. O nome, em algumas esparsas referências, subsiste no meio comunitário a exemplo do Hospital Ouro Branco. Poucos, somente os mais idosos, relembram-se desta epopéia, que registramos a título de preservação de história comunitária.
     Outros ciclos econômicos, de acordo as exigências do mercado interno, procederam-se nos seio comunitário (leite, nata, soja, couros, madeira...). Estes, a cada época, surgem com vistas de acompanhar as oscilações econômicas, quando integram o contexto regional às exigências dos mercados maiores. A campanha do impróprio da banha à saúde foi uma das causas da decadência, quando pouquíssimo para o consumo familiar produz-se deste produto. Pode-se ver o poder do discurso, na mídia, para derrocada de algum produto, quando outros interesses econômico-financeiros fazem-se presentes.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://torneiradigital.blogspot.com.br/2009_09_01_archive.html