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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Adágios e provérbios de camioneiro


Reunidos por Guido Lang

- A vida é de quem corre menos em busca do mais;
- Sê a vida fosse boa ninguém nasceria chorando;
- A vida é de quem se arrisca e corre menos;
- Sê o mundo fosse bom o dono viveria nele;
- Em um rio cheiro de piranha, boi bebe água de canudinho;
- O homem nasce sorrindo, vive mentindo e morre fingindo;
- A via é como um dado, tem os seus pontos marcados;
- Cada instante que passa é uma gota de vida, que nunca mais torna a cair;
- Na subida Deus me ajuda, na descida Deus me acuda;
- Dinheiro não tenho, mais paixão em demasia;
- Menino medonho não sai coisa boa;
- Não tenho todas as coisas que amo, mas amo todas as coisas que tenho;
- Quem fala de mim tem inveja ou paixão;
- A saudade é o motivo da minha pressa;
- O sonho nos dá o que a vida nos nega;
- A maior arma do boi é o desgosto do homem;
- Fracassar é triste, mais triste ainda é não tentar vencer;
- Quem corre cansa, quem anda alcança;
- Não aponte as falhas alheias com o dedo sujo;
- Artista é aquele que sofre sorrindo;
- Veja os teus erros, depois corrija os meus;
- Quando a galinha é boa, o pinto cresce;
- Ame a vida porque alguém te ama;
- Deus te abençoe e o Diabo que te carregue;
- Pinga é lubrificante de ajudante;
- Quando a coroa é boa o pião não piá;
- Segura na mão de Deus e vai;
- Moro na estrada e passeio em casa;
- Vivendo, aprendendo e ensinando;
- Não sou rei mais gosto de coroa;
- Quem ama rosas suporta espinhos;
- Um coração sem amor é um carro sem motor;
- Quem planta amor, colhe saudades;
- Sê eu fosse rico, comprava teu orgulho;
- A medicina não cura o mal da separação;
- A luz dos teus olhos ilumina o meu caminho;
- Um banquinho e seus carinhos e nada mais;
- Há distância nos separa, o pensamento nos une;
- Entre as mais lindas flores escolhi você;
- Sou de aquário, mas adoro virgem;
- O pouco que te vejo muito me ajuda a viver;
- Sou principiante, aceito qualquer uma;
- Não sou aquilo que sonhas, mas tenho o que você quer;
- Onde termina a minissaia, começa meu pensamento;
- Minissaia é igual a cerca de arame, cerca a propriedade mais não tira a visão;
- Mulher bonita e parafuso, comigo é arrocho;
- Mulher sem ciúmes é mulher sem perfumes;
- Mulher não pensa, quando pensa erra;
- Quando chover mulher quero ter uma goteira na casa;
- Caminhoneiro de mulher feia não pensa em feriado.

Os "arranca tocos"


Esta era a denominação dos quadros esportivos improvisados nas colônias, quando a paixão pelo futebol, nos idos de 1930 e 1950, chegou nas diversas paragens teutonienses (situadas no Rio Grande do Sul/Brasil). Diminutos espaços planos, nos pátios ou potreiros, viram-se transformados em quadras esportivas. As bolas, inúmeras vezes improvisadas com panos, tornavam-se disputadas numa desenfreada correria. Adultos, crianças e jovens, sem maiores aptidões e habilidades esportivas, treinavam chutes e dribles, que, com estranhas bolas, eram “tocados a base do bicudo (chute forte)”. Inúmeros cocurutos, pedras e tocos vinham juntos na direção das goleiras, quando os competidores, com “sola dura dos pés” com o desuso do calçado, faziam pouco caso de minúsculos obstáculos esportivos. Os jogadores, advindos das encostas e vales do interior das propriedades minifundiárias de subsistência, encontravam-se acostumados à vida rude.
Estes, de qualquer jeito, procuravam jogar bola, quando a brincadeira e passatempo tornou-se uma obsessão. Os dias chuvosos, feriados, horários livres e finais de semana eram esperados com ansiedade, porque, numa reunião de amigos, irmãos e vizinhos, combinava-se um joguinho nalguma cancha pré-estabelecida. Quaisquer quatro chinelos, estacas ou pedras (tiradas de cercas de pedra) dava para organizar um campo, escolher no par e ímpar os quadros equilibrados e daí correr atrás de uma bola. Os gritos, pedidos e risadas, num dialeto estranho (hunsrücker) na América Portuguesa, ouvia-se a boas distancias, quando os tradicionais baralhos, caçadas e visitas perderam importância.
Os treinos fortuito, com os dias e meses, criaram habilidade com a bola, quando “os arranca tocos” cederam espaço a jogadores. Estes, no decorrer dos anos, criaram os quadros esportivos, que pipocaram nas colônias Boa Vista, Canabarro, Catarina, Germana, Languiru, Pontes Filho, Schmidt, Teutônia... Os confrontos domingueiros dos inúmeros quadros, tornaram comuns, quando domingo sem confronto, parecia uma data desperdiçada.
Os primórdios do esporte amador veio redimensionar o lazer nas colônias, no que o encontro dos times, em partidas ou torneios, era o motivo do afluxo de moradores. Saudosos tempos estes, quando jogava-se sem maiores delongas; achava-se graça das jogadas esdrúxulas; torcia-se apaixonadamente pelo clube da localidade; desconhecia-se ingressos, juízes de ligas, campeonatos onerosos... A ingenuidade e inocência pareciam parte da alegria e felicidade colonial, quando a mentalidade e os princípios existenciais eram outros.
           
Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03, edição 49
26 de novembro de 2005

Crédito da imagem: http://eusabiaetusabias.blogspot.com.br/