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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fábula do mito egípcio do “Olho do Sol”


  
   “Era uma vez um leão nas montanhas, que possuía muita força e caçava bem. Os animais das montanhas temiam-no. Certo dia, encontrou-se com uma pantera, cujo couro estava esfolado e cuja pele estava rasgada... Então, disse o leão: Como chegaste a este estado? Quem esfolou teu couro? Respondeu a pantera: Foi o Homem! Retrucou o leão: o Homem, que é isto?  Então lhe disse a pantera: Não há nada mais astuto do que ele, o Homem. Desejo que não caias nas mãos do Homem. O leão sentia rancor  do Homem e afastou-se da pantera a fim de procurá-lo”.

(Obs: Texto encontrado num papiro egípcio, na escrita demótica e traduzido pelo egiptólogo Adolf Erman).

Crédito da imagem: http://novosinsolitos.blogspot.com.br/2010/09/revelado-segredo-da-construcao-das.html

A surpresa



Uma determinada fabriqueta, de fundo de quintal, empregava meia dúzia de profissionais. Os familiares mantinham-se os principais trabalhadores. Esta, como microempresa, ostentava um comprador (certo) aos seus calçados. Este, nos lados da fronteira, comercializava a produção no ramo varejista e atacadista.
O comprador/lojista iniciou os pagamentos no ato/à vista. Um pedido, com certo número de pares, foi a título de experiência. Outras encomendas tomaram vulto. Uns números de pares sempre a mais. O pagamento pontual e a dinheiro vivo. A transação sucedeu-se neste ritmo por meses. As esperanças consistiam em ampliar e melhorar a produção. Máquinas foram compradas e instaladas. Trabalhadores registrados. Tudo legal como manda a legislação!
Outros pedidos, em número de algumas centenas de pares, tomaram forma. A credibilidade, do lojista, mantinha-se em boa conta/fé. Alguns dias, como crédito, foram dados. Os negócios transcorreram naquele ritmo calmo e persistente. A empresa, com a fabricação de certo número de pares diários, parecia deslanchar. Planos e churrasquinhos, em meio às confraternizações da equipe, não faltavam. Sucediam-se, no ínterim, umas boas cervejadas e gargalhadas. Afinal! Quem pega pesado, merece uns agrados e mimos.
Os negócios, entre fabricante e lojista, iam de vento em popa! Vendas boas nas lojas e encomendas constantes na fábrica. O lojista, numa certa ocasião, aumentou deveras o número de pares. Pedido especial para final de ano! O trabalhador com o décimo terceiro salário na mão! Euforia econômica ímpar! “O pessoal querendo levar as lojas!”. O lojista ofereceu cheque (por uns dias) e pagou direito. A confiança aumentou. Nada de maiores  consultas e desconfianças. O capital de giro, nos dias do cheque (retido), saiu das próprias economias. Algumas compras de matéria prima a crédito.
Adveio, em meio à euforia econômica, mais outro super pedido. O dobro dos tradicionais pares (para reforçar o abastecimento do mercado de final de ano). O lojista seguiu os trâmites normais e outro cheque expedido. Esperou-se os dias do almejado desconto. Adveio a maior surpresa: falta de fundo. “Os responsáveis sumiram do mundo” e a empresa foi à lona. Queixas a polícia e nada. “O banho maria”, da confiança e pontualidade, serviram de “ensaios ao calote”. Este adveio e terminou com sonhos e trabalhos. Deixou endividados os fabricantes e famílias. Tudo na lei, na confiança bancária e eficiência dos modernos meios de comunicação.  Solução fechar, vender máquinas, “tapar o buraco”, recomeçar a vida econômica... Inúmeras histórias, a semelhança desta, ocorreram nos Vales do Calçado (Caí, Paranhana, Sinos e Taquari) no período do “Ciclo do Calçado” (1970-2000).
O conto do vigário paira como sombra nas atividades econômicas. Quem nunca entrou nalguma fria? Facilidades e malandragens atiçam a criatividade humana. Certas presas veem-se alimentadas/ceivadas para receber o tiro certo na ocasião própria. Confiar em quem nestas alturas do campeonato? A imaginação, pelo dinheiro fácil, não tem limites na concepção humana! O indivíduo cuida-se porém alguma ratoeira aguarda-nos. Quem produz paga os ônus do conjunto das “maracutaias” (malandragens).

Guido Lang
Livro “Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://www.coladaweb.com/economia/historia-da-moeda