Translate

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As moedas entaladas


Dois malandros, com vistas de conhecer o consciente coletivo, resolveram inovar com algum estratagema. Eles, escondidos num prédio, afixaram valores numa rua. Os pedestres iam e vinham em meio a tentação de ganhar algum valor fácil. As atitudes e comportamentos, os mais diversos e esdrúxulos, tomaram forma.
O beltrano e fulano, diante duma empresa de fachada frontal envidraçada, resolveram colar três moedas. Elas, de um real cada, viram-se adicionados ao asfalto mole (recém colocado). Estas, afundadas no interior da camada, davam os ares da sua visualização. Elas viam-se incrustadas no pinche e a extração ostentava-se difícil. A possibilidade de coleta não passava duma brincadeira de mau gosto (com os ingênuos e gananciosos).
Os pedestres percorriam o espaço. Uns, em meio a admiração e espanto, viam aquelas moedas, porém faziam-se indiferentes. Outros, de imediato, queriam apanhá-los e nada de conseguir extraí-los. Eles, diante da observação alheia, insistiam porém caiam no ridículo. Alguns mais, em meio a desconfiança, paravam e depois seguiam adiante.
Um bom número de curiosos, de forma discreta e meio distante, já reparava o desfecho da situação. Observação atenta, das atitudes e posturas alheias, dava ares da graça. Uma turma, de uma dezena de escamoteados  caia nas gargalhada e risadas. A atitude esdrúxula de uns dava motivo de comentários e conversas. O fato desenrolou-se por uns bons momentos.
Um certo casal de idosos acorreu numa certa altura ao lugar. Estes, homem e mulher, carregavam sacolas e pareciam bastante humildes. Eles, deparando-se com o dinheiro, vislumbraram duas vezes as moedas. Queriam ter certeza de tratar-se de valores correntes. O senhor, com algum chute (com o pé direito), tentou extrair e nada de soltar. As vários unidades de sacolas abaixou e procurou pegar com a mão as ditas cujas. Nada! Mantinham-se firmes e semi-enterradas!
Ele, com sua idade avançada (estimado em perto dos oitenta), pensou um pouco. Pegou, no fundo do bolso (da calça), algum canivete. Abriu-o e, com a ponta, enfiou-o fio debaixo dos três metais. Ele, um atrás do outro em segundos, extraiu-os com a maior facilidade e rapidez. As partes limpados, puderam logo voltar ao comércio. Os expectadores perderam seu passatempo e os anciões retomaram o caminho. O casal ignorou o fato de terem sido observados como chacota e cobaias. A idade com a suas sabedorias!
O hábito de divertir-se com a burrice e curiosidade alheia mantém-se uma sina humana. Quaisquer artefatos, nos momentos oportunos, fazem uma extrema diferença. O indivíduo pode ser humilde e pobre porém jamais ingênuo e trouxa.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

          
Crédito da imagem: produto.mercadolivre.com.br
          

O valor das coisas

  
  Quanto vale o seu patrimônio?
   Anos de trabalho suado?
   Incontáveis férias sem sair de casa?
   Intermináveis noites sem dormir?
   Admiro as pessoas que trabalham duro pra vencer na vida.
   Mas desconfio de quem abre mão da própria vida pra acumular coisas.
   Eu disse acumular...
   Que é diferente de ter.
   Se você tem, espero que faça bom uso disso pra ser feliz.
   Porque muita gente, em vez de possuir, é possuída.
   Ter um carro lindo e esperar que ele jamais arranhe, amasse ou pegue chuva, é ficar escravo de um bem que foi construído para servir.
   Ter louça boa e jamais sujá-las de molho é menosprezar o prazer de comer.
   Usar as melhores roupas só em ocasiões especiais é descuidar da própria aparência.
   Reservar os melhores lençóis do enxoval só para os hóspedes é fazer pouco do seu sono tão merecido...
   Não importa o valor ou o tamanho do seu patrimônio.
   Se você construiu, usufrua!
   Passar a vida acumulando bens sem tirar proveito, transforma a sua passagem por aqui numa coisa morna e sem graça...
   Que pode ser esquecida minutos depois que você partir.
   Heranças devem passar de mão em mão gastas pelo uso...
   Marcadas por lembranças felizes e repletas de emoção.
   Tenha você o que tiver, use, compartilhe, divida com quem ama...
   Ninguém leva nada pro túmulo.
   Se quiser acumular alguma coisa, que seja amor.
   Isso, sim, é bem que vale a pena preservar com cuidado..
   Porque é a única coisa que se leva desta vida.

Lena Gino
 
Crédito da imagem: oexploradorcultural.blogspot.com