Translate

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Fora de moda

Se não estivesse tão fora de moda... iria falar de Amor.  Daquele amor sincero, olhos nos olhos, frio no coração, aquela dorzinha gostosa de ter muito medo de perder tudo...
Daqueles momentos que só quem já amou um dia conhece bem...
Daquela vontade de repartir, de conquistar todas as coisas, mas não para retê-las no egoísmo material da posse, mas para doá-las no sentimento nobre de amar.
Se não estivesse tão fora de moda...
Eu iria falar de Sinceridade.
Sabe, aquele negócio antigo de Fidelidade... Respeito mútuo... e aquelas outras coisas que deixaram de ter valor?
Aquela sensação que embriaga mais que a bebida; que é ter, numa pessoa só, a soma de tudo que às vezes procuramos em muitas...
A admiração pelas virtudes e a aceitação dos defeitos, mas, sobretudo, o respeito pela individualidade, que até julgamos nos pertencer, mas que cada um tem o direito de possuir...
Se não estivesse tão fora de moda...
Eu iria falar em Amizade.
Na amizade que deve existir entre duas pessoas que se querem bem...
O apoio, o interesse, a solidariedade de um pelas coisas do outro e vice-versa. A união além dos sentimentos, a dedicação de compreender para depois gostar...
Se não estivesse tão fora de moda...
Eu iria falar em Família. Sim... Família!
Essa instituição que ultimamente vive a beira da falência, sofrendo contínuas e violentas agressões. Pai, Mãe, Irmãos, Irmãs, Filhos, Lar...
Aquele bem maior de ter uma comunidade unida, pelos laços sanguíneos e protegidas pelas bênçãos divinas. Um canto de paz no mundo, o aconchego da morada, a fonte de descanso e a renovação das energias...
E depois, eu iria até, quem sabe, falar sobre algo como... a Felicidade.
Mas é uma pena que a felicidade, como tudo mais, há muito tempo já esteja tão fora de moda e tenha dado seu lugar aos modismos da civilização...
Ainda assim, gostaria que a sua vida fosse repleta dessas questões tão fora de moda e que, sem dúvida, fazem a diferença!
Afinal, que mal faz ser um pouquinho "careta”...

Obs.: Se algum leitor do blog souber o autor do texto favor informar ao autor do blog, para que os devidos créditos possam ser dados.

Crédito da imagem: www.esotericavitoria.com.br

O descaso amoroso


Uma moça, muito bonita e elegante na flor da idade e centro das atenções da gurizada, fazia descaso de inúmeros pretendentes. Ela, sendo bajulada e cantada a toda hora, achava-se a “Rainha da Inglaterra”. A menina entendia-se a mais bonita do baile, rainha da escola, princesa primeira da cidade... Ela mantinha-se o centro dos comentários informais dos amigos e conhecidos. A foto destaque, das colunas sociais, recaia sobre a mesma. Uma referência de bom gosto no andar e vestir...
Um certo rapaz, muito humilde e retraído, encantara-se como enamorado e fã. Este mantinha-se cegamente apaixonado pela fulana. Ela, com as muitas opções, fazia o maior descaso dele. A condição econômica-social não permitia nenhuma chance de aproximação e muito menos possibilidades de namoro. O tempo, com o transcorrer dos meses, anos e décadas trouxe as agruras da existência e o peso da idade.
A moça, numa certa ocasião no ínterim do tempo, apaixonara-se por algum forasteiro. Os dois enamoram-se e depois, de certo espaço de namoro, constituíram família. Os filhos advieram e a obrigação de criá-los foi o centro das atenções e preocupações. As necessidades de subsistência obrigaram o duro trabalho. A beleza, tão efêmera e sútil, foi corroída pelo esforço e tempo. A fulana, com a idade, viu “a formosura do corpo evaporar-se nos ambientes”. Os traços, da outrora beleza, mantiveram-se unicamente presentes. O glamour ficou nas saudades e reminiscências.
As décadas, em meio aos muitos afazeres diários, transcorreram de forma rápida. Os filhos cresceram e constituíram suas famílias. A viuvez transformou-se numa triste sina. Os rebentos, nesta altura da existência, seguiram suas preocupações e trabalhos. A cidadã, agora senhora idosa, viu amigos e conhecidos partiram para o descanso.
Outros, ex-colegas, faziam indiferença com relação ao antigo relacionamento. Cada vez menos pessoal da sua época e gente. A solidão, com a aposentadoria e os bailes da terceira idade, tomou forma. Nenhuma parceria, nas caladas da noite, para conversar e trocar ideias; ausência de companheiro às rodadas de chimarrão e passeio; “falta de homem até para carregar peso e segurança”...
O antigo apaixonado, outrora desprezado e relegado, mantinha-se ativo e solto. Este inclusive mostrou-se disposto a recomeçar a vida. Possuía sua carência de companhia para os afazeres diários. Este, naquele momento, servia para compartilhar os dispêndios da idade. A solução consistiu em dar-lhe uma chance e “conviver como a muito próxima”. As partes, para os eventos sociais, constituíram uma companhia/casal para refazer a vida.
Os acontecimentos e fatos tinham redimensionado certos comportamentos e gostos. A escola da vida ensinara a dura lição! Qualquer semelhante, por mais humilde e pobre, ostenta-se um igual e próximo. Os ventos da existência podem mudar de forma ingrata e rápida. O impróprio de antes, agora tornara-se uma grande bênção e companhia!
O camarada, nesta rápida passagem terrena, nunca pode afirmar “dessa água eu não bebo”. O infortúnio, nalgum momento, reserva-nos surpresas inimagináveis. O descarte de hoje, amanhã poderá ter sua serventia. A satisfação e o prazer de cada dia é uma sabedoria.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://quasesemquerer.wordpress.com