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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Tempo


 
Deus pede estrita conta do meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas como dar sem tempo tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo,
Dado me foi bem tempo e não fiz conta;
Não quiz, sobrando tempo, fazer conta,
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo;
Cuidar enquanto é tempo em fazer conta.
Mas ah! Se os que contam com seu tempo,
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu o não ter tempo.

(Fonte: Livro Curso Graduado de Letra Manuscrita, Porto Alegre, Selbach, autor ignorado)
 
Crédito da imagem: http://alertsequalificacao.wordpress.com/2011/02/28/6%C2%AA-edicao-do-curso-gestao-do-tempo-e-produtividade-pessoal/
 
 

Remédio caseiro

Porco Rosa
Um singelo produto, ao longo da colonização, tem poupado e salvado vidas. Este, diante de feridas, germes e rachaduras, tem sido historicamente aplicado. As poeiras, com seus micro-organismos, detestam-no e daí sua nobre função. Qualquer criança (colonial), desde tenra idade, conhece a aplicação diante das primeiras agruras e ferimentos.
O artigo/produto revela-se a modesta banha. Esta, extraída da gordura animal (sobretudo porco), ostenta dons/qualidades milagrosas. Os pioneiros, diante das carências de toda ordem, assimilaram sua aplicação. Os remédios, diante das ausências dos recursos médicos e isolamento nas matas, valeram-se de paliativos. Qualquer corte/ferida/rachadura conhecia sua rápida aplicação. Um remédio/pomada contra aborrecimentos maiores (nalgum futuro). A gordura evitava a inflamação/penetração dos germes (no interior das partes danificadas). Os agricultores/criadores/plantadores labutaram em meio aos ciscos, excrementos (animais) e poeiras. A solução consistia em precaver-se contra doenças e inflamações (sobretudo do temido tétano).
Uma prática assemelhada ocorria com animais. Eles, com dificuldades/problemas de defecar, conheciam alguma comida gordurosa. Outros com feridas ou sarnas ganhavam algum aplicativo. Este, dependendo a espécie (cachorro ou gato), ficava a lamper o impróprio. A própria lampida ostentava qualidades terapêuticas. Quaisquer problemas de pele, com aplicativos sucessivos, viam-se aliviados/curados. Podia-se, num comparativo grosseiro, fazer um paralelo com as graxas/óleos nas engrenagens de metais. Estes suavizam os desgastes (evitam o “trabalho do ferro com o ferro”).
Os produtos, com as frequentes carneadas (de animais ao consumo), mantinham o produto ao alcance da mão. Via-se, em função da ausência dos azeites (vegetais), usado no consumo humano. Os ovos fritos, numa banha quente, mostravam-se um cardápio excepcional. Banha, acrescida nalgum feijão novo, proporcionava gosto divino. Banha, no pão fresco, via-se como substitutivo da schmier... O colono, pelo paladar, conhecia a qualidade do produto assim como a idade do animal abatido. Qualquer abate de porco, como carneada, significava a fabricação dum bom cozido (de banha). Esta era bem branca e cheirosa (depois de esfriada e subtraída do toucinho). O torresmo, um subproduto, fazia a festa (de humanos, cães e gatos).
Inúmeras famílias, como os antepassados, ainda recorrem aos aplicativos e qualidades terapêuticas desta. A banha com suas variadas utilidades. Usam-na ainda no consumo humano. Valem-se na aplicação como remédio (animal e humano). Economia diante de exageros nos custos de óleos e remédios (dos laboratórios e farmácias). A venda do produto, nos mercados, ostenta-se restrito. Existe toda uma campanha pelo consumo dos azeites. Estes melhor movimentam a engrenagem produtiva das exportações e multinacionais (comércio de adubos, herbicidas, máquinas, sementes...).
O singelo, aplicado com inteligência e sabedoria, poupa correrias e fortunas. Banha: remédio divino diante dos outrora acidentes de percurso. Os modernos recursos medicinais renegam estas modestas práticas, porém sobrevivem nas suas funções e utilidades nos interiores.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
 
Crédito da imagem: http://www.imagensdeposito.com/animal/1106/porco+rosa.html