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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um patrimônio cultural ímpar


 http://4.bp.blogspot.com/_WFH8F7S07gk/TNWuCVoHpiI/AAAAAAAAMKQ/KcX7HLM1dm8/s1600/Cerca+de+pedra.jpg

    Imensos cercados, como “lombrigas estendidas”, espraiam-se pelas baixadas, quando são uma lembrança do ciclo econômico de outrora. Refiro-me as cercas de pedra! Elas são a descrição de um trabalho insano dos primórdios da colonização (1868-1910), quando os moradores precisaram encontrar soluções próprias dentro dos recursos disponíveis das propriedades. As pedreiras, de pedra-grês, foram localizadas no interior dos matos e potreiros quando iniciou-se a extração da matéria-prima.
     As excepcionais pedras, como alisadas e quadradas, viam-se usadas na edificação dos alicerces dos galpões, cercas melhoradas dos pátios, peças de montagem das moradias... Cochos da água, como exemplo, viam-se esculpidos no interior de pedras assim como peças para ao rebolo e trapiches de cana. Mãos hábeis, com o manejo das pedras, viam-se conhecidos no contexto dos moradores, quando, no ínterim dos cuidados das criações e lavouras, esculpia-se e montava-se artefatos à propriedade. As necessidades, com a carência de recursos monetários e distâncias para o comércio, obrigavam pais de família serem artesões, carpinteiros, pedreiros... A contratação de eventuais especialistas davam-se das extremas necessidades e ausência de maiores conhecimentos na especialidade do serviço.
      Os produtores de aves, bovinos, equinos, suínos, precisaram de currais no qual pudessem dar liberdade à diversidade animal dentro de um limitado espaço com razão de não danificar plantações. A inexistência dos arames (farpados) e cercados (elétricos), nem em sonho, obrigava a edificação dos cercados de pedra. Estes, na parte frontal das propriedades, davam origem aos tradicionais potreiros, que cedo “assumiam uma aparência de mini-zoológico” em função da abundância e diversidade animal. A fartura era sinônimo de capricho e riqueza no qual mostrava-se o “espelho do conhecimento agrícola e criatório”. Pedras e mais pedras, dos variados tamanhos em peças, viam-se arrastados e carregados para edificar quilômetros de cercas. Um trabalho silencioso, porém em temporadas via-se concretizado, que, de forma definitiva, resolviam uma necessidade (cercamento). Os consertos contínuos de manutenção viam-se efetuados na proporção da danificação de partes.
     As cercas de pedra, na atualidade, mantêm-se testemunhas de uma época de outrora quando a maioria dos nomes dos reais construtores jazem nas cinzas e no esquecimento da memória comunitária. Os encaixes e a montagem, num olhar atento, retratam o esforço de mãos calejadas e habilidosas, que, em diversas localidades e propriedades, desafia o desleixo e o tempo na conservação. Um patrimônio cultural dos ancestrais carente de maiores estudos e registros, quando ainda revelam-se desprezados por inúmeros descendentes.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://4.bp.blogspot.com/_WFH8F7S07gk/TNWuCVoHpiI/AAAAAAAAMKQ/KcX7HLM1dm8/s1600/Cerca+de+pedra.jpg

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