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terça-feira, 27 de novembro de 2012

O silencioso extermínio



Achegou-se a época do plantio! As sementes precisam ser colocadas no solo. As plantas, do inverno, exterminadas. Pulverizações, com herbicidas, ganham importância. Lavouras cedo ostentam um amarelado (a semelhança dos trigais). A hecatombe dos inços, vegetação de inverno (como azevéns e aveias), tornara-se realidade. Objetivo: abrir espaço às culturas tradicionais (feijão, hortaliças, mandioca, milho...). O plantio direto, em meio a inços e brejos, tomara forma. Um verde, em dias, brota das sementes enterradas.
A realidade, no entanto, ostenta uma faceta despercebida/ignorada. A rotina segue os ventos da inovação (revolução agrícola/verde). O plantio direto mostra-se uma maravilha. O inço morre e as culturas desenvolvem-se no ínterim. Tempo é dinheiro! Nenhum pode ser perdido com vistas de fazer várias safras (no mínimo de duas a três por ano). As condições meteorológicas, através das “graças de São Pedro”, ajudam com alguma chuva. A produção multiplica-se. A fartura traz preços bons ao abastecimento das cidades e exportações. Governos mantém-se estáveis. Protestos de rua inexistentes. Cofres abarrotados de divisas. Obras espalhadas aos quatro ventos. Empregos em abundância. A qualidade de vida instala-se nos cantos e recantos!
Um singelo detalhe vê-se despercebido/ignorado com os ventos da modernidade. Como ficam elementos da fauna? Aqueles que alimentam-se das sementes, frutas, brotos? Os comedores dos besouros, cupins, formigas, grilos e larvas? Eles parecem “pagar parte do ônus” do extermínio (em função da extrema sensibilidade). Os ambientalistas, são combativos na hora de estabelecer multas e taxas, parecem ignorar os fatos (diante do poder de conglomerados industriais/multinacionais e magníficas arrecadações governamentais em tributos).
As massivas aplicações parecem explicar a ausência de aves tradicionais. Falo dos companheiros chupins, pomba rolas e tico-ticos. Estes ostentam-se escassos ou sumiram do cenário rural. Os outrora bandos fazem extrema falta nos pátios coloniais! Os gatos, como prato excepcional, igualmente lamentam a escassez da presença.
Os ventos da modernidade mudaram o quadro agrícola. Multiplicou-se a fartura alimentar. Milhões de litros de herbicidas, na ganância do capitalismo por lucro, foram aplicados a cada safra. Os discursos são da inércia dos líquidos à fauna. Espécies, no entanto, somem de forma misteriosa e silenciosa. Migram a outra estâncias ou paragens? Arroios e rios, nas primeiras precipitações, conhecem e escoam resquícios dessas aplicações. Estes, aterrados e lixeiras (a céu aberto), abrigam escassa e sofrida vida. Os outrora poços fundos, berçários de gamas de espécies, mostram-se raridade. Histórias de caçadas e pescarias, em córregos e valos, assemelham-se a lorotas (na proporção de narrados pelos mais antigos).
Quê os homens, em nome da ganância pelo dinheiro, querem fazer desse planeta? Os inocentes, de alguma forma, acabam sendo as maiores vítimas da insanidade. A superpopulação, do Homem sapins, parece levar a “nave Terra” a um colapso? Cada indivíduo, com um pouquinho de desperdício e poluição, contribui para os desígnios duvidosos da mãe terra.


Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://surucua.blogspot.com.br/2010/01/aves-urbanas-de-sao-paulo-18-tico-tico.html 

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