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segunda-feira, 27 de maio de 2013

A diferença de interesses



Os filhos viram os pais perecerem. A tradicional moradia familiar ficou desocupada e ociosa. A desocupação, num interminável tempo, significaria inviabilizar  o patrimônio.
A solução, como alternativa, consistiu em alugar as peças. Os herdeiros, na singela comunidade, poderiam ganhar alguns dividendos em aluguel (com razão de suavizar a depreciação e manutenção do imóvel).
Um desconhecido e forasteiro chegou e apresentou-se como inquilino. Este, como amigável e bem falante, ganhou a confiança e cedência. As diversas peças, como área, cozinha, dispensa, sala e quartos, viram-se alugadas e ocupadas.   
A inovação e ousadia, num dos quartos, valeu-se em dias como especial dormitório. O inquilino, numa criação inimaginável, improvisou o tradicional galinheiro. As aves, em semanas e meses, avolumaram quantidades acentuadas de fezes. Os piolhos tornaram-se uma inconveniente companhia!
Os herdeiros, para desfazer e romper o contrato, gastaram dinheiro. Estes, do inquilino, ouviram aquilo que não esperavam. Outra pena, como lição, consistiu em subtrair os volumes de esterco. A fama, como antigo dormitório de galinhas, pegou de cheio nas conversas!
Os proprietários conscientizaram-se duma velha lógica: os bons e caprichosos dificilmente alugam imóveis. Eles, com as muitas facilidades de crédito e financiamento, tratam de edificar seu imóvel. Os desleixados correm atrás dos favores e préstimos alheios!
Os inquilinos, de maneira geral, significam sinônimo de aborrecimentos e transtornos aos proprietários. O patrimônio alheio, aos carentes e despossuídos, carece da real compreensão das dificuldades de avolumar e construir o imóvel. As diferenças de interesses e mentalidades, entre forasteiros e naturais, mostram-se uma sina!

Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://www.baixaki.com.br

A ousada colheita


As abelhas, nos especiais feriados de Páscoa, sentiram-se imunes as agressões e rapinagens humanas. Uns dias certamente sem maiores aflições e tormentas!
Algumas colmeias compreendendo a religiosidade cristã, pensaram numa folga e trégua. Umas comunidades, naquele diálogo de jogar conversa fora, externaram: “Hoje é Sexta-feira Santa! Ninguém terá a ganância e ousadia em querer surrupiar o mel. Os humanos respeitam este especial feriado religioso!
A surpresa, na calada do calor da manhã, adveio na invasão dos ambientes. O ataque, em função da folga, sucedeu-se naquela data. Pai e filho, com abundante fumaça e própria indumentária, efetuaram a pilhagem anual das caixas.
Os apicultores, em meio às ferroadas e picadas, extraiam dezenas de quilos de mel. As sobre-caixas viram os favos serem retirados. O trabalho persistente e suado (de semanas e meses dos insetos), como precaução aos rigores do inverno, viu-se surrupiado pelos abusados.
Umas modestas operárias, em meio à chacina e prejuízo, comentaram entre si. O indivíduo nunca pode duvidar da astúcia e malandragem humana. As pessoas, por dinheiro, revelam-se gananciosas e imprevisíveis.
Uns labutam na proporção de muitos outros estarem na folga e repouso. O descanso revelou-se a razão de realizar determinada tarefa. Os indivíduos, pelo numerário, desrespeitam datas e horários nobres e sagrados!
O tempo vê-se disponibilizado pelas possibilidades e não pelas condições próprias às tarefas. Uns, por valerem-se duma aparente cortesia e serventia, pagam ônus deveras oneroso pelos favores. Certas datas não passam de mera criação comercial e consumista.

                                                                                   Guido Lang
                                                   “Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.riosvivos.org.br

domingo, 26 de maio de 2013

As caçadas aos porcos do mato



Quatro famílias de austríacos, nos idos de 1873, instalaram-se numa periferia da Colônia Teutônia (atuais terras da Linha Brasil/Paverama/RS). Estes, como fervorosos católicos, compraram lotes na margem da colonização protestante (de evangélicos luteranos). 
Os colonizadores, liderados por Wenzel Reckziegel, Wilhelm Schaurich, Josef Tischer Pai e Josef Tischer Filho, acabaram literalmente atirados/instalados na mata virgem. Estes precisaram encontrar meios de sobrevivência nas novas terras. Uma destas relacionou-se as caçadas dos porcos-do-mato (conhecidos como caititu/cateto – nome científico: Tayassu tajacu).
Os animais, no interior da Floresta Pluvial Subtropical, mantinham estradas/trilhas e formavam “verdadeiros bandos”. Alguns cachaços, com afiados e grandes dentes (como navalhas), coordenavam as inúmeras varas. A espécie, por séculos, perambulava entre a vegetação nativa do Brasil Meridional.
Os colonos/forasteiros, para apanhar e precaver-se dos animais, improvisaram excepcionais tocaias. Estes, com a abundância de madeiras, construíram reforçados currais. A edificação, depois de boas horas de labuta, localizava-se no meio de amplos trilhos (debaixo de centenárias figueiras).
Umas escorregadias portas, na proporção de algumas mexidas, faziam cair às peças (cerrando os cercados). Algumas iscas, em forma de cereais e frutas silvestres, foram os chamariscos (acrescidos no interior das edificações). A solução, com observação e paciência, consistiu em aguardar resultados!
A alegria e satisfação ocorreu no período de horas. As famílias, em três oportunidades, apanharam: treze; três; uma presa. Totalizando, ao final, dezessete animais apanhados. Outros da espécie, depois do desespero dos irmãos, sumiram e negaram-se a enveredar nas armadilhas. Estes também possuem seu código de comunicação e sobrevivência!
Os primórdios da colonização ostentaram-se numa luta incessante pela conquista de palmos de solo para as criações e plantações. Sólidas famílias, através dos hábitos e sobrenomes, mantém ativo as sementes lançadas pelos pioneiros. As comunidades e gerações, sem maiores apontamentos e registros das vivências, somem-se nas cinzas da História.
                                                                                    
Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”
Obs.: História narrada por Verno Reckziegel da Linha Brasil/Paverama/RS.

Crédito da imagem:http://www.flickr.com/photos/photobee1/8153611040/

Os fantasmas do cemitério


Um medroso assalariado, nas penumbras das manhãs, dirigia-se ao local do trabalho. A vizinhança, diante do despertar da cachorrada, via-o caminhando pela estrada geral.
A função, junto ao transportador, consistia em recolher leite (nos inúmeras tambos das propriedades coloniais). Ele, nas suas idas e vindas, passava defronte ao cemitério comunitário.
Três malandros, conhecedores do hábito matinal, resolveram aprontar mais umas das suas muitas e variadas peças. Estes, com um lençol branco estendido sobre as cabeças e corpos, deram-se ao trabalho de aguardar o fulano.
Este, na achegada em meio ao chão batido, deparou-se com aquele estranho e ímpar vulto. O susto e temor, de imediato, abateu-se sobre o ser. Algum fantasma, como finado ente (saindo dentre os muitos jazigos), assustou-lhe deveras. O camarada, por um momento, parecia estático!
Os três, no ato e debaixo do pano, saíram cemitério afora. O indivíduo, no ínterim, ameaçou ajuntar uns bons e graúdos cascalhos (como arma e defesa). Os improvisados fantasmas, com as eventuais pedradas, igualmente ficaram em pânico. Eles, como um raio, correram adoidados e desnorteados.
A vítima, na prática, recolheu unicamente suas havaianas (com razão de poder correr melhor). Resultado: Os quatro elementos meteram-se em apuros e sustos. As pernadas, diante do repentino esforço e medo, pareciam fraquejar na eficiência e trabalho!
O indivíduo, com seres em apuros e desesperados, desconhece a reação. As histórias, de assombrações e fantasmas, povoam o imaginário popular. Alguns malandros, com as crenças e temores alheios, adoram fazer sua diversão e passatempo.

Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”
Obs.: História narrada por Ari Wasen (conhecido como "Polett") de Languiru/Teutônia/RS.

Crédito da imagem: http://gabrieldesaix.blogspot.com.br

sábado, 25 de maio de 2013

A ímpar visita maternal



Um motorista, a centenas de metros, vislumbra dezenas de veículos. Estes, junto à casa mortuária e cemitério comunitário, encontram-se estacionados. O fato, no sábado anterior ao domingo do Dia das Mães, sucedeu-se no contexto da comunidade!
O pensamento, de imediato, direcionou-se ao falecimento de algum ente. Este refletiu: “- Quem será desta vez? Dê que família? Vou parar para perguntar algum pedestre? Alguém certamente saberá informar do sucedido!” A extrema curiosidade obriga a decifrar o enigma! 
Uma realidade comum, com a progressiva achegada da urbanização, consiste em enterrar amigos e conhecidos. Os falecimentos, em meio às muitas pressas e tarefas diárias, nem sempre acabam anunciadas e comunicadas às partes interessadas. Uns, para os desconhecidos e estranhos,  somem como nunca tivessem existidos!
Outras famílias, com a existência de inúmeras emissoras de rádio, nem sempre sintonizam a estação dos anúncios comunitários. Diversos membros, sobretudo anciões, vêem-se perecidos (sem maiores alardes e comunicações). Os jovens pouco caso fazem das desconhecidas estirpes!
O condutor, na passagem pelo espaço, depara-se com a porta cerrada da casa mortuária. Este relembra-se da velha tradição colonial: “- O afluxo, na véspera do Dia das Mães, sucede-se de muitos aparentados e filhos”.
Os familiares, de longínquas paragens, tratam de efetuar uma visitação aos finados entes queridos! Os finados, com as muitas reminiscências do outrora, recebem comentários e referências junto às descendências!
Os jazigos ostentam-se uma espécie de extensão do patrimônio familiar. A consideração e preservação da memória integra o conjunto da evolução cultural. Singelas atitudes e exemplos, às novas gerações, servem de norte aos posteriores cuidados e tratamentos.

Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://g1.globo.com

A ficha concorrida



Determinada agremiação partidária, no poder numa grande cidade, mantinha excelentes chances de reeleição. Um batalhão de aficionados e afilhados mostrou-se interessado em ganhar cargos e manter postos de trabalho!
Os pretendentes, a concorrer no vindouro pleito, mantinham-se em grande número (às limitadas vagas). A seleção, para escolha, precisaria obedecer a algum critério prático!
A cúpula, com razão de não indispor e magoar correligionários, precisava determinar e selecionar os nomes da nominata. As intensas e muitas conversas, entre eventuais candidatos e lideranças, tomaram vulto nas conversas informais. O difícil consistia em conciliar os muitos e variados interesses em jogo!  
Algum consultor, como veterano de inúmeras campanhas e pleitos, sugeriu um paliativo às delongas. Este, como alternativa e solução, sugeriu averiguar a ficha policial dos diversos e vários pretendentes.
O princípio, a contragosto de uns, viu-se adotado como alternativa e procedimento. O resultado mostrou-se admirável e ímpar! Várias vagas, no final das contas, sobraram para outros interessados. Inúmeros candidatos e políticos em potencial, dito homens honestos e honrados, mantinham problemas com a lei e a Justiça!
As pessoas, na aparência do fácil, enveredam de forma convicta e firme nos propósitos. Os aventureiros e oportunistas, nos cargos do serviço público, sobram para angariar polpudos cargos e salários! A gente conhece as pessoas somente na proporção do alcance das vistas!

Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://blogdosargentotavares.blogspot.com.br

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Os fantasmas do cemitério



Um medroso assalariado, nas penumbras das manhãs, dirigia-se ao local do trabalho. A vizinhança, diante do despertar da cachorrada, via-o caminhando pela estrada geral.
A função, junto ao transportador, consistia em recolher leite (nos inúmeras tambos das propriedades coloniais). Ele, nas suas idas e vindas, passava defronte ao cemitério comunitário.
Três malandros, conhecedores do hábito matinal, resolveram aprontar mais umas das suas muitas e variadas peças. Estes, com um lençol branco estendido sobre as cabeças e corpos, deram-se ao trabalho de aguardar o fulano.
Este, na achegada em meio ao chão batido, deparou-se com aquele estranho e ímpar vulto. O susto e temor, de imediato, abateu-se sobre o ser. Algum fantasma, como finado ente (saindo dentre os muitos jazigos), assustou-lhe deveras. O camarada, por um momento, parecia estático!
Os três, no ato e debaixo do pano, saíram cemitério afora. O indivíduo, no ínterim, ameaçou ajuntar uns bons e graúdos cascalhos (como arma e defesa). Os improvisados fantasmas, com as eventuais pedradas, igualmente ficaram em pânico. Eles, como um raio, correram adoidados e desnorteados.
A vítima, na prática, recolheu unicamente suas havaianas (com razão de poder correr melhor). Resultado: Os quatro elementos meteram-se em apuros e sustos. As pernadas, diante do repentino esforço e medo, pareciam fraquejar na eficiência e trabalho!
O indivíduo, com seres em apuros e desesperados, desconhece a reação. As histórias, de assombrações e fantasmas, povoam o imaginário popular. Alguns malandros, com as crenças e temores alheios, adoram fazer sua diversão e passatempo.

Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”



Crédito da imagem: http://gabrieldesaix.blogspot.com.br