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terça-feira, 7 de agosto de 2012


AS BENÇÕES DA TERRA

            Um pacato colono, morador de uma encosta de morro semi-abandonada no interior de uma propriedade minifundiária de subsistência, vivia atormentado com o resultado da dedicação e esforço do seu trabalho. Este vivia a labutar em meio ao sereno e sol com razão de extrair dividendos da terra, que, a cada safra, parecia atender menos as suas expectativas e necessidades. Procurou, com parentes e vizinhos, compartilhar o flagelo, quando os conselhos e recomendações eram diversas e variadas.
            Ele, apegado a velhas crenças pagãs, atribuía parte da frustação e insucesso a demônios, que, desde tempos de outrora, pareciam residir no espaço das lavouras, brejos e matos. Os espíritos malignos, uma ideia difundida entre os supersticiosos, queriam manter o lugar próprio como refúgio, no que acabariam interferindo no resultado da produção agrícola.
            O rural, antes de arar e sulcar o solo à nova safra, resolveu precaver-se de quaisquer azares e infortúnios. Ele apelou aos milenares poderes da Igreja Cristã, quando, ao religioso da paróquia, solicitou “a benção da terra”. Requisitou a presença do religioso na sua propriedade, que, pelos constantes pedidos, aceitou o desafio. O visitante, num primeiro momento, apreciou o cenário geográfico, a qualidade do solo, os tipos de ferramentas, a visão panorâmica... Procurou, num segundo instante, dar a “almejada e pedida benção dos campos”.
            O representante divino, no desfecho da visita, recomendou ao humilde produtor: “-Meu estimado e fiel membro! As suas terras requisitam muito mais ‘estercus’ (esterco) e menos ‘Christus’ (Cristo)! Adube bastante o solo, evite a ação das águas e plante culturas permanentes.” Os resultados, em semanas e meses, advieram com a mudança de práticas agrícolas, quando esplendidas colheitas e magníficas frutas viram-se obtidas. Almas ou espíritos indesejados mostraram-se ausentes ou esvaziados.
            Quem aduba a terra, vê adubado o espírito. A mãe natureza abençoa na proporção dos cuidados com o solo e o trabalho dispendido. A vegetação cresce na proporção das condições favoráveis do ambiente. Quem aduba a terra angaria as bênçãos divinas.
           
Guido Lang
Edição virtual
Livro “Histórias das Colônias”

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