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terça-feira, 7 de agosto de 2012


O AVANÇO DOS BANDOLEIROS

            A Linha Boa Vista Fundos (Teutônia/RS), integrante no começo da colonização das Picadas Boa Vista e Catarina, mantinha os moradores absorvidos na rotina do trabalho colonial, quando as necessidades de sobrevivência exigiam dedicação e trabalho integral. O advento da primavera é a época de colocar a semente na terra; exigia empenho com os afazeres da terra. No dia 10 de setembro de 1894, após o meio dia, sucedeu-se “uma cortina de homens e cavalos”, que advinham pela estrada geral. Estes visualizados, a partir das encostas dos morros, descreviam uma cena inimaginável na pacata localidade. Os lenços vermelhos, em época de Revolução Federalista (1892-1895), denunciavam suas intenções e princípios ideológicos.
            Uma coluna, chefiada pelo líder local José Altenhofen, com algumas dezenas de combatentes, veio incursionar pela majestosa picada. Uma guabiroba, no lote número 35 de Jacob Dockhorn, serviu de abrigo, enquanto parte da tropa passa a visitar os colonos. Estes, em nome da causa dos maragatos (federalistas liderados por Silveira Martins), requisitaram montarias; levaram aves, gado e porcos como víveres, interessaram-se pelos jovens como prováveis combatentes... Os adversários são os mais visitados, que, de imediato, tomam o rumo dos matos e encostas de morros.
            Algum morador, conchavado com os adversários dos positivistas (“pica-paus” de Júlio de Castilhos), tinha dado informações da fartura alimentar e ódio contra os revolucionários. O temor, duma eventual degola, instalou o pavor generalizados nas famílias, que entregavam posses com “a maior boa vontade”, com razão de safar-se da morte. A inconveniente visita serviu de pretexto para criar piquetes, aos animais, no interior da propriedade e em meio ao mato; manter a vigilância sobre a estrada geral; precaver-se de circular pelas propriedades, assim como, nos dias posteriores, improvisar resistência armada aos forasteiros (como guerrilheiros improvisados). Esta, em 24 de setembro de 1894, sucedeu-se na encosta do Morro da Germana. Os aparentes pacíficos colonos, alheios às intrigas e querelas políticas, mostraram sua coragem e ousadia, quando obrigaram, em um combate acirrado, o retrocesso das tropas invasoras.
            Os rurais externam sua coragem e solidariedade na proporção de verem-se atingidos pela rapinagem. A memória colonial, de geração em geração, parece imortalizar os fatos dessa época crucial, quando a desconfiança e o ódio instalaram-se nas colônias germânicas. Queira Deus! Que outra luta fraticida jamais abate-se sobre as paragens rio-grandenses.

Guido Lang
Edição virtual
Livro “Histórias das Colônias”

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