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quinta-feira, 12 de julho de 2012

O PELEGO DO DEGOLADOR MARAGATO



Uma propriedade colonial, em 1893, conheceu uma invasão repentina dos maragatos. Os federalistas, de sopetão, entraram nas instalações rurais, e proprietários e familiares nem tiveram tempo de fugir para os matos próximos.
O colono, para safar-se de maiores represálias, atendeu bem aos forasteiros indesejáveis pois tinha ouvido falar dos recentes horrores da guerra fratricida entre o povo riograndense, pois irmãos gaúchos degolavam-se por divergências políticas.
O morador, vivendo bastante isolado, conhecia pouco das divergências ideológicas entre federalistas e republicanos, que ensanguentavam barbaramente o solo do Rio Grande do Sul. O cidadão, na prática, almejava viver em paz e labutar na terra para dela extrair seu sustento. Os seus pais, há poucas décadas, tinham abandonado a Europa com a finalidade de safar-se das intermináveis guerras europeias.
O chefe maragato, Altenhofen, falou da necessidade de cavalos e mantimentos diante da precisão de guerra,   porque a tropa de combatentes via-se carente de provisões e recursos. O colonial, com o objetivo de poupar aborrecimentos e a vida, cedeu gado, equinos e suínos, que acabaram abatidos no lugar, e os animais de montaria que foram levados. Um revolucionário viu ainda estendido um excepcional pelego, que muito lhe agradou. O colono, diante do temor das armas, deu-o de cortesia, pois não queria maiores implicações com os rebeldes.
Alguns meses depois um filho do morador dirigiu-se da Linha Schmidt para a Picada Catarina. Este, com sua montaria, viu-se parado, próximo ao Passo da Capivara, por uma turminha de maragatos. Os revolucionários, por alguma razão, quiseram degolá-lo.
O carrasco, com a determinação recebida do superior, encontrava-se pronto para concretizar o ato. A vítima, em meio ao maior desespero e na última tentativa de safar-se da vida, falou: "Estás vendo aquele pelego no teu cavalo? Meu pai deu-lhe como presente e agora, como gratidão, almeja matar seu rebento?" O algoz sensibilizou-se diante da afirmativa e respondeu: "Toma o teu potro e some daqui. Não saia de casa durante a Revolução Federalista". O modesto pelego salvou-lhe a vida e o cidadão refugiou-se no interior duma propriedade.
Pequenas cortesias aproximam as pessoas e resultam, costumeiramente, em troca de favores.

(Trecho extraído de "Contos do Cotidiano Colonial: Coletânea de Textos" de GUIDO LANG).

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