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quinta-feira, 12 de julho de 2012

A FIGUEIRA CENTENÁRIA



As colônias alemãs, sobretudo do Vale do Taquari, foram abaladas pela Revolução Federalista (1893 - 1895). Os maragatos e pica-paus continuamente incursionavam pelas picadas, e ambos adonavam-se de víveres e roubavam as casas comerciais. 
Os colonos, em diversas oportunidades, viram suas criações e plantações pilhadas. As tropas, sem mantimentos, abasteciam-se nas pacatas pequenas propriedades rurais, que cediam aves, bovinos e suínos, assim como montarias. Os moradores, com vistas a não sofrer maiores represálias, cediam os bens. Os dividendos monetários, acumulados com muita economia e trabalho, também necessitaram de esconderijos seguros, pois atiçavam a cobiça humana.
Um morador colonial, perseguido pelos maragatos (por ser simpatizante dos castilhistas), precisou esconder-se no interior dos matos da sua propriedade, pois recebia, constantemente, visitas de inimigos. Estes, a todo momento, procuravam-no com o intuito de degolá-lo, era tido como informante dos republicanos. Necessitou também esconder seu numerário financeiro, que consistia nalguns quilos de moedas de ouro e prata (do período colonial). Ele, como refugiado, resolveu armazená-lo no interior de um orifício oco do tronco da tradicional figueira centenária. O colono, com convicção, confiou na segurança daquela guarda, pois o período revolucionário certamente seria breve.
A instabilidade política e a perseguição estenderam-se por meses. O cidadão, num belo dia, veio a adoecer e a morte súbita ceifou-lhe a existência. O dinheiro, durante décadas, ficou guardado no interior de uma exuberante figueira, que mantinha-se como símbolo da perenidade. As gerações de familiares, vinham e iam, e nada de desfazer o mistério das moedas. Ele, inclusive, tinham dado origem a histórias familiares, que eram narradas de pais para filhos. Os forasteiros e moradores, em diversas ocasiões, chegavam a abrigar-se nas sombras da formosa árvore, que não parecia ostentar maiores segredos.
Um agricultor, com vistas a fazer uma espaçosa roça, resolveu derrubar a árvores, que, com o advento da mecanização agrícola, representava um estorvo. A motosserra, em poucos minutos, foi ceifando e retalhando a planta, quando, numa certa altura, escutou-se um estranho ruído. O barulho denunciou a presença de metais, e vieram à tona as extraviadas moedas. Uma alegria tomou conta do pacato trabalhador rural que, casualmente, deparou-se com a fortuna.
A vida, em escassas oportunidades, defronta-nos com dádivas e surpresas.

(Trecho extraído de "Contos do Cotidiano Colonial: Coletânea de Textos" de GUIDO LANG).


Crédito da imagem: http://www.tuapalavra.com/login/fotos/6975b89101.htm

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