Translate

terça-feira, 23 de abril de 2013

A denúncia canina


Um colonial, nas suas andanças e incursões, mantinha um caso extraconjugal. O caso ocorria com a viúva. A discrição, na compreensão dos autores, mantinha-se como certeza absoluta!
A fulana, a aproximados quinhentos metros, residia distante da residência familiar do aconchegado. A moradia desta, numa visão panorâmica, localizava-se nos fundos da propriedade. Um espaço dominado pela aparente cerrada vegetação.
O aventureiro, nas idas e vindas das lidas rurais, frequentemente achegava-se a enviuvada. As inúmeras visitas de cortesia, com o tempo, começaram a gerar desconfianças e suspeitas (das prováveis intimidades).
Algum parente e vizinho, como o beltrano sendo pai de família, começou a desconfiar e reparar o comportamento alheio. Os curiosos, na surdina, indagaram-se sobre as excessivas proximidades do beltrano. O fato, com as corriqueiras suspeitas, levou a um discreto reforço na vigilância.
As suspeitas cedo confirmaram-se com a ímpar denúncia. O cão, como assíduo e persistente caçador e parceiro, vivia como companhia inseparável do dono. A sua diversão maior eram as caçadas, guardas e passeadas na roça (junto ao companheiro).
O animal, em diversos momentos, foi visto nas cercanias do pátio da viúva. A realidade denunciou a certeza da presença do proprietário. Os familiares, conhecendo o excessivo apego animal, daí logo concluíram: “- O Zumbi anda pelo pátio da fulana! O cidadão certamente encontra-se no interior da residência!”
O visitante, muito astuto e esperto, achava-se seguro da discrição e do sigilo. Uma bela e doce ilusão: a presença animal, nas cercanias da moradia, denunciava todas as eventuais incursões. O pessoal, diante do primeiro sinal, conhecia e sabia da acolhida! Difícil enganar e ludibriar os expert! Os segredos denunciam-se pelos detalhes! Ao bom entendedor meia palavra basta!
O cidadão acha-se esperto, porém não pode subestimar a inteligência alheia. Os coloniais mantêm uma acirrada e discreta observância sobre os acontecimentos e vivências. O pior imbecil revela-se aquele que engana a si próprio!
                                                                                 
Guido Lang
                                                  “Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência” 

Crédito da imagem: http://www.guiapetecia.com.br

A canoa boiando


    Um povo tinha disposto alguns vigias sobre as muralhas que dessem aviso do que ao longe avistassem. Os habitantes queriam evitar surpresas e ter tempo de preparar heroica resistência. Os vigias descobrem ao longe uma coisa. O que será? É uma poderosa esquadra que se aproxima.
    - Alerta! - Bradaram.
    A coisa chega mais perto.
    - Não é esquadra – disseram - há de ser alguma nau.
    Por fim a onda atira à praia o objeto de tão sérios cuidados; era simplesmente uma velha canoa que vinha boiando.

    Moral da história:
    As coisas nem sempre são o que aparentam ser.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://www.tripadvisor.com.br

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A falta de macho


Uma família, com duas mulheres e um marido, mantinha o azar da ausência de filhos. Alguma razão impossibilitou a geração e continuação familiar!
Duas irmãs, com um único marido, não tiveram a felicidade de gerar os devidos rebentos. Estes, para os cuidados na velhice, apelaram às adoções e auxílio de parentes. Algum acolhimento, depois de várias tentativas, resultou numa descendência. Os conhecidos e vizinhos, nesta tradicional clã, estranharam essa anormal realidade colonial!
Uns curiosos, nos comentários gerais da venda, quiseram saber as razões dessa incomum escolha. Estes, de forma discreta e informal, indagaram a parentes e vizinhos. As meras suposições tornaram-se as respostas corriqueiras. Uns faziam uma leva ideia das eventuais causas, porém não quiseram expor-se de forma aberta!
Um morador, para abreviar detalhes e explicações da conversação, resumiu o tema. Este, sem maiores floreios e rodeios, falou: “- A família deveria ter mudado o macho! Faltou simplesmente o cachaço! O homem não fez a devida lição de casa! Este, muito enciumado e possessivo, evitou também de algum outro em fazê-lo!”
As pessoas não poupam em certos comentários e linguagens. Os vizinhos, como próximos, sabem muito da vida familiar. Certos comparativos abreviam um conjunto de detalhes e explicações! O esdrúxulo, como exemplo, mostra-se fácil de entender e memorizar!
Os órgãos vitais, para o pleno êxitos das funções corporais, precisam funcionar a contento e em harmonia. A fidelidade extrema revela-se sinônimo de confiança e crédito. Alguns indivíduos, em nome do amor e da família, submetem-se a companhias e sofrimentos impróprios.

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://papodehomem2.wordpress.com


domingo, 21 de abril de 2013

O exemplo pela prática


Um camarada, com a ideia de boa vida e folgado, adorava andar a toa e fazer suas caçadas. Uma maneira, pelos interiores, de conhecer as diversas propriedades e roças. Este, em poucos meses e anos, devassou o conjunto territorial de localidades.
O sucesso, na empreitada de andarilho e caçador, ostenta-se antieconômico e dispendioso. O fulano, como acomodado nato, mantinha um singular hábito. A cachorrada via-se atiçada e instigada a correr atrás das presas (entre brejos, matos e lavouras).
O caçador/criador, para evitar inconveniências e perigos, dava-se o cuidado de aguardar e resguardar-se nas estradas de roça e trilhas de mato. As descuidadas e ingênuas presas, de forma esporádica, recaiam-lhe unicamente na mira e tocaia.
O idêntico aplica-se ao investidor e patrão. Ele, a peso de ouro (com os muitos encargos trabalhistas), contrata empregados. Estes, em maçantes jornadas e trabalhos nas linhas de produção, pouco empenham-se diante da sua ausência e controle. O dono, na aparente acomodação e esperteza, resguarda-se no ambiente próprio da climatização e silêncio do escritório. Os resultados cedo ostentam a falência e a penúria!
O investidor, como expert da empreitada, precisa acompanhar e conhecer melhor as tarefas (do que os próprios contratados). O chefe encontra-se vindo na esperteza e sabedoria na proporção dos subalternos estarem indo na aprendizagem e conhecimento! Um profundo conhecedor do negócio faz a excepcional diferença entre as duas classes!
Quaisquer chefias precisam tomar a dianteira das ações e exemplos. Os atos e gestos falam bem mais alto do que as explicações e palavras. A dedicação e o trabalho são partes do segredo do sucesso e da riqueza. A sabedoria popular versa: “- O olho do patrão engorda o boi”.
                                                                     
Guido Lang
                                                 “Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://hfmoveisplanejados.com.br

O corcel e o jumento



Ricamente adornado, ia um soberbo corcel dar um passeio. Pesadamente carregado de carvão vinha um jumento cargueiro para o mercado. Encontraram-se.
- Saia do meu caminho, miserável! - Relinchou o corcel irado. - E cuidado para não me sujar.
O outro baixou as orelhas e ficou sofrendo, calado. Daí a tempos, o corcel adoeceu, e perdido todo o seu merecimento, foi vendido para o comerciante; puseram-no a carregar carvão. Encontrou-o um dia o cavalo cargueiro.
- Irmão! Onde está aquela arrogância? Peão como eu e agora menos que eu, carregas carvão! Cuidado pra não me sujar! 

Moral da história:
Por mais elevados que você estejas, não desprezeis ao vosso semelhante; a roda da fortuna desanda tão fácil quão imprevistamente.

                   Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://www.colhendofeliz.com.br

sábado, 20 de abril de 2013

O débito partidário




Um prefeito, com a emancipação política administrativa do município, “tirou um colono das colônias”.
Este, como correligionário da emancipação, foi destacado como funcionário público. Alguma função, como cargo de confiança, sobrou como recompensa pelo empenho na campanha pela autonomia.
O cidadão, num cargo estratégico da municipalidade, conheceu um punhado de moradores. Este, com aparentes favores (“com o chapéu alheio” do serviço público), pode auxiliar inúmeros eleitores. O funcionário fez amizades e favores (aqui e ali município afora). Ele, no tempo, pode “tornar-se o cara!”
O partido, numa altura, convocou o fulano a concorrer por determinada coligação. Este, para continuar no posto, atendeu o pedido. O candidato angariou votação na totalidade das mesas eleitorais. Este acabou eleito e reeleito como vereador.
Os projetos da câmara iam no ínterim do tempo das administrações. O benfeitor, numa gestão das sucessões, viu-se igualmente reeleito. Os interesses político-administrativos, no segundo mandato, tornaram-os ferrenhos adversários.
O antigo parceiro/prefeito, nas comunicações da rádio da municipalidade, levou a dizer em viva voz. “O beltrano teria sido melhor em ter ficado na sua respectiva localidade. Este deveria ter continuado em plantar suas tradicionais batatas. Nada deste ter sido trazido junto aos gestores públicos”. O camarada deixou a conversa nisso e nada de criar maiores delongas e polêmicas.
Os interesses, em função de cargos e ganhos, mudam muito rápido na política-partidária. Os astutos e espertos carecem de criar inimizades por alheias divergências. Os candidatos hoje adversários, amanhã parceiros nas coligações. Certos favores e mimos criam onerosos e perenes débitos.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.trekearth.com

O burro com pele de leão


Um burro que se lastimava sua sina, da ruim conta em que o tinham, do nenhum caso que dele faziam, achou uma pele de leão, e com ela se cobriu. 
- Agora, sim, hão de ter medo de mim! - Disse consigo. 
O coitado enganou-se. Querendo rugir, zurrou; e o primeiro que o ouviu, reparando melhor, descobriu-lhe a ponta da orelha que a pele do leão não tinha podido ocultar. Logo agarram-no e a pauladas o castigaram. 

Moral da história: 
A verdade cedo ou tarde vem à tona!

                       Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://mfcmamonas.no.comunidades.net