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sábado, 22 de fevereiro de 2020

O TESOURO DOS MUCKER

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Guido Lang

Uma história, narrada de boca em boca entre membros de famílias tradicionais da região, relaciona-se ao tesouro dos Mucker. Aventureiros esporádicos ambicionaram deparar-se com as malfadadas riquezas, que teriam sido escondidas ou enterradas pelos seguidores da Jacobina Mentz e João Jorge Maurer. O conjunto de jóias e moedas, de ouro e prata, encontrar-se-ia escondido nalgum esconderijo das encostas dos morros, que localizam-se entre os municípios de Dois Irmãos/RS, Campo Bom/RS e Sapiranga/RS. Um amontoado de relíquias ímpares, que teriam, em boa dose, sido trazidos da Alemanha e outra parte acumulada durante o Império Brasileiro. A colonada, em meio as enormes dificuldades de toda ordem, mantinha uma extrema filosofia de poupadores, porque, a qualquer custo, quisera resguardar economias para os infortúnios da vida. Os recursos, advindos de suadas economias e heranças familiares, teriam sido ajuntados durante a formação e evolução da “seita”, quando ambicionaram talvez adquirir algumas armas, manter um espírito de solidariedade (como os cristãos nos Atos dos Apóstolos), custear encargos comunitários...
Os comentários e fofocas, das riquezas dos Mucker, corriam soltos na boca da população circunvizinha ao Ferrabraz, quando sucederam-se aos conflitos e eventos bélicos (abril a agosto de 1874). Os forasteiros, vindos das diversas procedências, invadiram os lugarejos próximos ao Morro Ferrabraz, quando quiseram colocar as mãos naquela fortuna. Inúmeros indivíduos diziam-se combatentes, quando lutaram contra a centena de seitários dos Maurer. As matas e plantações viviam repletas de aventureiros, que pareciam, junto a diversos moradores, controlar os passos dos incompreendidos. As esporádicas escaramuças sucediam através de confrontos, disparos e incêndios de propriedades. A atrocidade, em meio ao conflito, era permitida pela segurança pública, pois movia-se um clima de guerra fratricida. A crueldade, reprimida há anos, tinha sobre quem recair, porque simpatizantes ou seguidores dos Maurer eram sempre os autores e os culpados. Os animais (domésticos), frutas e plantações sumiam das propriedades, quando as culpas poderiam recair sobre os fanáticos.
O desfecho sangrento, em junho ou julho de 1874, teria levado Jacobina e João Jorge Maurer a esconder as economias. Estes, às pressas em meio ao tumulto dos últimos dias, tê-los-iam escondido ou enterrado nalgum lugar das encostas ou sopé do morro, no qual poderiam resguardar as riquezas da exagerada cobiça adversária. Os poucos quilos de metais necessitariam de uma segurança, porque, em meio ao tamanho esforço e sacrifício em obtê-los e o valor sentimental constante, precisariam de guarda e proteção segura. A entrega eventual a familiares ou vizinhança poderia gerar a cobiça humana, que revela-se tão comum no gênero humano. A segurança maior poderia decorrer unicamente do seio da terra, que costuma, há séculos ou milênios, proteger tesouros metálicos. O lugar escolhido provavelmente processou-se num valo próximo a alguma árvore ou rocha, que poderia servir de posterior referencial seguro. O ato de esconder os metais acabou confiado a dois ou três indivíduos, que eram os próprios donos ou membros da família.
A hecatombe, em 02 de agosto de 1874, abateu-se sobre o grupo familiar íntimo, quando sucederam-se os assassinatos e suicídios. As lideranças caíram na desgraça, quando, em meio à desconfiança e infortúnio, a morte levou o segredo do esconderijo. Os autores esqueceram de revelar o paradeiro do tesouro, que parece ter contribuído para aumentar o número de inimigos. Este talvez ainda repousa nos brejos e matos circunvizinhos ao Ferrabraz, quando as mãos humanas carecem de conhecer o seu conteúdo. Os espíritos dos perseguidos, em meio aos remorsos da chacina, arrogam-se por ventura os direitos de resguardá-los.
Inúmeros aventureiros e moradores, conhecedores da história dos bastidores do Episódio do Ferrabraz, ousaram colocar as mãos nele. As tentativas falharam e outras continuam a desafiar a cobiça e a imaginação, em meio às picadas e trilhas da vegetação. Vários elementos procuram disfarçar as inúteis procuras, quando alegam praticar caçadas ou trilhas ecológicas (com vistas de conhecer o cenário e inteirar-se da vegetação). Alguns dão razão ao espírito de aventureiros e caçadores de aventuras, que, na atualidade, encontra alguma similaridade com o desenterrar dos velhos galeões espanhóis. Uma façanha interessante para amantes de caminhadas ecológicas e desbravadores de enigmas.
O mistério do tesouro dos Mucker, portanto, parece muito vivo aos apaixonados e estudiosos do assunto.
Uma história comunitária contada em diversas conversas informais ou de ouvido em ouvido entre membros da descendência germânica de famílias tradicionais, que, em boa dose, ouviram falar do tema Mucker. Este fato, aos olhos da atualidade, parece absurdo e incompreendido, quando, na época, alimentou tamanho ódio, perseguição e vingança entre pacatos moradores (de maneira geral todos aparentados). Prova-nos, a semelhança de outros exemplos, a capacidade de irracionalidade humana, que supera, em situações, a irracionalidade animal.

* Fonte: Jornal O Fato, número 1006, 06 de fevereiro de 1996, Campo Bom/RS.

* Digitado por Júlio César Lang.

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