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quinta-feira, 14 de março de 2013

O conhecimento da legislação



Uma pacata senhora, advinda do interior, bateu numa fábrica de calçados. Ela pediu emprego na linha de produção. A empresa, com baixos salários, precisava de gente em função da alta rotatividade. A oportunidade de trabalho foi dada ao pedido. Os ganhos, apesar de baixos (em função dos muitos descontos de encargos), era melhor do que estar desempregado/parado. A inatividade consumia eventuais sobras familiares.
Umas boas semanas transcorreram a título de estágio e experiência. O trabalho, a princípio, parecia agradar as duas partes. O negócio, de contratante e contratado, tomou o rumo da efetivação no cargo/posto. As partes pareciam estar a contento com os mútuos resultados.
A funcionária, numa altura, ausentou-se por três dias seguidos do emprego. A empresa, através da gerência, preocupou-se com a ausência (em função de nalgum sucedido ímpar). Alguma anomalia familiar certamente tinha motivado o fato. A fulana, contrastando com a prática da empresa, absteve-se de dar a tradicional explicação/justificativa. A norma, nestes casos imprevistos, era de falar com a chefia e “sanar eventuais arestas”. A cidadã, num descaso e petulância, deu a mínima aos interesses e necessidades da empresa.
A gerência, num momento, foi ao encontro da fulana para uma conversa/diálogo. Os chefes queria entender as repentinas ausências. A funcionária, de forma categórica e grosseira, externou: “- Conheço bem as leis trabalhistas! Sou também formada em advogacia!” A decepção e surpresa foram ainda maiores. A gerência desconhecia esse singelo detalhe (na hora da efetivação). O sigilo profissional havia sido escamoteado!
O estudo, em ambientes de ar condicionado e computadores, não consegue atender a todas as demandas do mercado trabalhista. Uns muitos, apesar da parafernália de máquinas (de todos as funções e tipos), precisam continuar firmes na linha de produção (ocupados com tarefas braçais). A formação universitária, após a conclusão de curso, deixa o estudante de mãos abanando e a necessidade obriga a trabalhar (começando por baixo). Inúmeros trabalhadores procuram emprego em vez de trabalho (o certo seria trabalho para ter emprego).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem: http://www.melhoradvogado.com.br

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