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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O naturalismo


O indivíduo, ao longo da existência, vai conhecendo certos fatos e realidades. Elas, através da convivência e observação, vão ensinando crenças e valores. Uns princípios parecem tão particulares e velados como se fossem irreais. Estes acabam explanados unicamente nas conversas privadas.
Uma senhora, com os seus oitenta anos, encontrou-se nos seus últimos dias (duma abençoada e longa jornada). Os netos, ainda muito ingênuos e curiosos, faziam-lhe determinadas perguntas. Algumas, pelo excesso de clareza e franqueza, causaram admiração e espanto. A alegria maior, no desfecho do livro da existência, consistiu ainda em conhecer e conviver uns poucos anos com estes descendentes. Ela, no apagar das luzes, ainda pode estabelecer vínculos de convivências e reminiscências.
Um filho, na surdina das conversações, pode escutar uma explanação dessas. A anciã, perguntada sobre a questão de morte, externou sua real crença e fé. Um neto interrogou: “- Quê acontece na proporção da pessoa falecer?” “- Onde ela vai?” Algo difícil, estando  na pele da idosa, de falar a realidade da dureza da vida.
Ela, de forma clara e objetiva, disse: “- A gente vai para terra! A pessoa volta de onde saiu! O retorno ao nada! Cinza a cinza, pó ao pó! A vida como nunca tivesse existido! A consciência fica com a sensação da missão cumprida. A morte de um é o alimento do outro!” O cidadão, como rebento, ficou estático e sem palavras. Quê dizer diante da dura realidade da transitoriedade da existência!
A crendice, no cotidiano da religiosidade, mostra-se suprimida pela influência do cristianismo. Os rurais, vendo e revendo as contínuas nascenças e perecimentos no dia a dia das atividades agrícolas, deixam-se contaminar pelos conhecimentos e observações empíricas. Os criadores e plantadores, no contexto das lidas diárias, continuamente veem a morte acontecendo e os nascimentos ocorrendo nos cenários coloniais. A natureza no seu constante ciclo das procriações e perecimentos. O objetivo maior parece inclinar-se numa direção da evolução espiritual.
O idêntico aplica-se à vida humana. Quê seria do planeta Terra em função da possibilidade da perenidade dos homens? A cobiça e ganância de uns teriam abocanhado todo o patrimônio. Os desperdícios e dispêndios de outros exauriam os recursos naturais. O apego e o controle ao poder causaria conflitos insolúveis. A renovação, através dos perecimentos, ostenta-se uma divina sabedoria.  A efemeridade da vida obriga a pensar e repensar conceitos e hábitos. A eternidade reside no legado da grandiosidade das ideias e postergação das gerações. A missão subsiste em ser elo entre as gerações (passadas com as futuras).
O indivíduo, cada qual, tem as suas crenças e superstições. Inúmeras doutrinas e filosofias não passam de meros conceitos e formulações de épocas e gerações.  O indivíduo, nalgum momento, precisa prestar contas das obras e realizações (à consciência e a Deus). O naturalismo e panteísmo encontram-se muito ativos e presentes no cotidiano das colônias.
                                                             
 Guido Lang
                                            “Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: www.artesbr.com

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